[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Padre Cícero. Reconciliação não transforma a história | DOM. | O POVO Online
aguanambi282.dom 20/12/2015

Padre Cícero. Reconciliação não transforma a história

Em entrevista ao O POVO, o bispo de Crato, dom Fernando Panico, revela trechos da ordem de reconciliação da Igreja com Padre Cícero.Diz que ainda não é hora de falar em beatificá-lo ou canonizá-lo
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Demitri Túlio demitri@opovo.com.br
TATIANA FORTES
Dom Fernando Panico é bispo da diocese de Crato desde 2001

Dom Fernando Panico, 69, bispo da diocese do Crato, apresenta neste domingo, em entrevista coletiva, em Juazeiro do Norte, a íntegra da carta do Vaticano da reconciliação do Padre Cícero. Para ele, “os sinais de santidade de Padre Cícero” foram reconhecidos pelo papa Francisco e a Igreja Católica deste século. No entanto, a “reconciliação” do sacerdote com o Vaticano não significa que o clero de Roma reconheça o “milagre da hóstia”. Suposto fenômeno sobrenatural, acontecido em Juazeiro do Norte, que teria feito uma hóstia se transformar em sangue na boca da beata Maria de Araújo, após receber a eucaristia das mãos do Padre Cícero(1889). A história da devota, que foi excomungada pela Cúria Romana, enclausurada e que teve o corpo furtado depois de sepultada, continuará sendo considerada fanatismo pelo Vaticano.

O POVO – O que mais chamou atenção na decisão do papa em reconciliar Padre Cícero?
Dom Fernando Panico – Como diz a certa altura a mensagem do papa Francisco: “Põe em realce a figura de padre Cícero Romão Batista e a Nova Evangelização, procurando ressaltar os bons frutos que hoje podem ser vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a Juazeiro, atraídos pela figura daquele sacerdote”. Até aqui um texto da mensagem do Santo Padre. Para mim, ficou a sensação de que a Igreja de Roma não ficou insensível à multidão de romeiros que vivem sua fé inspirada no exemplo do Padre Cícero. Desconheço se existem casos análogos de reconciliação no Brasil.

OP – O que significa, na prática, a reconciliação?
Dom Fernando – Na prática, o ato ou efeito de reconciliar-se, ou seja, o restabelecimento de diálogo. Para mim, essa reconciliação é a orientação do Vaticano para que a Igreja acolha a realidade atual das romarias que são feitas a Juazeiro do Norte. Volto a citar o texto da mensagem do papa: “Não é intenção de esta mensagem pronunciar-se sobre questões históricas, canônicas ou éticas do passado. Pela distância do tempo e complexidade do material disponível, elas continuam a ser objeto de estudo e de análise, como atesta a multiplicidade de publicações a respeito, com interpretações as mais variadas e diversificadas. Mas sempre é possível, com a distância do tempo e o evoluir das diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os pontos mais controversos, por em evidência aspectos positivos de sua vida e figura, tal como é atualmente interpretada pelos fiéis”.

OP – A reconciliação é um pedido de perdão da Igreja ao Padre Cícero pelos constrangimentos e impedimentos que ela causou a ele?
Dom Fernando – A reconciliação decretada pelo papa Francisco não é um “pedido de perdão da Igreja Católica” ao Padre Cícero. É uma orientação para que a Igreja vá às periferias existenciais, e acolha especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os. Colocando em prática a Nova Evangelização.

OP – Com a reconciliação de Padre Cícero, a Igreja reconhece que errou e admite que houve o(s) milagre(s) em Juazeiro do Norte a partir do episódio da beata Maria de Araújo?
Dom Fernando – A diocese do Crato, no pedido que fez ao Vaticano, não incluiu que o episódio histórico da beata Maria de Araújo fosse reconhecido pela Igreja. Entendemos que este assunto estaria inserido naquilo que a mensagem classifica como “objeto de estudo e de análise, como atesta a multiplicidade de publicações a respeito, com interpretações as mais variadas e diversificadas”. Oportuno esclarecer que a diocese do Crato vê hoje com outros olhos a figura da beata, respeitando-a como integrante da minoria composta por mulheres negras, pobres e excluídas do contexto social. Visão bem diferente do que a beata vivenciou no século 19.

OP – O que significa isso para o trabalho da diocese com os romeiros?Será dito que os milagres aconteceram?
Dom Fernando – No que se refere ao “milagre da hóstia”, historicamente acontecido com a beata Maria de Araújo, bom esclarecer que não é da competência da diocese reconhecer sua autenticidade ou chancelá-lo. Caberia aos teólogos do Vaticano, como ocorre com acontecimentos análogos. No que se refere ao trabalho com os romeiros, oportuno lembrar que, durante meu episcopado, foi criada a Pastoral das Romarias para atender aos romeiros do Padre Cícero. A diocese de Crato procurou se adequar ao clima das pessoas que vêm em romaria a Juazeiro do Norte, um clima de solidariedade, partilha, simplicidade. Desejamos que essas pessoas sejam bem acolhidas por parte da Igreja Católica e encontrem um mínimo de conforto, mesmo nos precários ranchos e modestas pousadas. Entendemos que a Igreja Católica tem a responsabilidade de valorizar, aprofundar, favorecer espaços e tempos de romaria como vivência profunda de uma experiência de fé onde o romeiro é visto e reconhecido como sujeito, protagonista da romaria e não apenas objeto passivo de uma ação pastoral que vem de cima.

OP – Padre Cícero entrará agora em processo de beatificação e canonização?
Dom Fernando – A beatificação é um processo lento, demorado mesmo. Requer planejamento em médio prazo. Não vamos precipitar o andar da carruagem. Tudo acontecerá no seu devido tempo, sem necessidade de atropelar etapas.

OP – A Igreja não foi contraditória ao pregar a humildade e demorar mais de 100 anos para se reconciliar com Padre Cícero?
Dom Fernando – Com a reconciliação anunciada pelo papa Francisco à herança espiritual do Padre Cícero, uma etapa foi vencida. Demorou, é verdade. A visão da Igreja no século 19 era bem diferente da visão de hoje. No entanto, a Igreja não mudou. Mudaram os tempos. A reconciliação visou primordialmente promover a unidade de todos na mais autêntica comunhão eclesial e na dinâmica da Nova Evangelização proposta pelo papa João Paulo II e continuada pelo papa Francisco. Dentro dessa visão, os sinais de santidade do Padre Cícero foram reconhecidos. Quem sabe novas conquistas advirão...

Saiba mais 

 

Quem foi a beata Maria de Araújo?
A ligação com o controverso Padre Cícero e a devoção popular transformaram Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo na beata Maria de Araújo (1862-1914).

Após ficar órfã, ainda criança, Maria foi morar na casa de Padre Cícero. Aos 22 anos, passou a usar hábito de freira.
Depois da repercussão do suposto “milagre” em Juazeiro do Norte, e sua “condenação” pela Cúria do Ceará e Roma, a beata Maria foi enclausurada até a morte em 1914.

Seu corpo foi enterrado no cemitério da igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Juazeiro. Em 1931, a sepultura foi violada e os restos mortais sumiram.

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