Tráfico: as mães da comunidade São Miguel e a dor pela perda dos filhos

Um grupo de mães no Conjunto São Miguel (con)vive o temor da morte e não sabe mais o que fazer para deixar de enterrar filhos

Demitri Túlio demitri@opovo.com.br

EDIMAR SOARES

Maria Edileuza, 56, perdeu dois filhos para a guerra entre Mangueira e Coqueirinho. Os dois com 25 anos

breves Faculdade tem vaga para docente (0) Entorno da Arena Cadastro de veículos pode ser feito até o fim da Copa (0) Construção Civil Operários fazem manifestação (0)

Há lugares e modos de vida em Fortaleza que nem imaginamos existir. O cotidiano de aflições na rua Neném Arruda e seu entorno é desses mundos paralelos. No lugar, esquadrinhado no conjunto São Miguel (Grande Messejana), a guerra entre dois grupos armados – Mangueira e Coqueirinho - transformou os últimos sete anos em dias insustentáveis e um suspense permanente.

Há um grupo de mães por lá, o pavor impede as fotografias e a revelação dos nomes, que anseia experimentar outra realidade. Semelhante a de bairros ao alcance da lei e a presença interessada dos poderes municipal e estadual.

Na estreita rua Neném Arruda, também conhecida por Mangueira, elas se refugiam para escapar do ataque da quadrilha rival, não usufruem das calçadas à noitinha, “apanham na cara” por caminhar em “ruas proibidas”, não podem matricular os filhos em escolas públicas sitiadas “por traficantes” e vivem a chorar o assassinato dos seus e das vizinhas. Costumeiramente, meninos ou rapazes que não passam dos 25 anos de idade.

Uma dessas mães, apesar do risco, pediu para prantear em público a execução de mais uma cria. Maria Edileuza, 56, enterrou Francileudo Ferreira Lima há 46 dias. Ele foi emboscado e morto, com dez tiros de pistola ponto 40, quando saía de uma audiência no Fórum Clóvis Beviláqua, no último 19 de abril.

Provavelmente por inimigos da rua da quadrilha do Coqueirinho. “Francileudo não era santo”, me diz. “Ele era um aviciado, não vou negar. Eu dava dinheiro pra ele comprar maconha e fumar por aqui. Não se arriscar por aí”, confidencia. “Mas era rapaz bom, não queria me deixar sozinha. Quando tinha os tiroteios, mandava eu entrar e fechar as portas”, conta.

A execução do filho, reconhece Maria Edileuza, já estava traçada. Fora dos limites da antiga rua das mangueiras, Francileudo cultivava inimigos nos territórios proibidos do Coqueirinho. Em consequência dos confrontos e acusações por assassinatos havia experimentado o presídio. Quando um filho “cai”, me diz Edileuza, a “mãe puxa cadeia com ele”.

Na primeira vez, recorda a mãe, “foi um ano e nove meses” de prisão. Por último, em 2011, seis meses de xadrez por ter sido um dos acusado de autoria da chacina do Bar da Paz (12/12/2011). Dois mortos e três feridos. Na palavra da mãe, o filho estava longe da cena do crime. Ele havia se mudado com a esposa para a Piçarreira, um cafundó na Messejana. “Não era santo, mas pegou fama e tudo de ruim que acontecia aqui, culpavam ele”.

No velório de Francileudo foram ofertados 50 bolos e distribuídos centenas de refrigerante para quem compareceu às despedidas. Desejo dele e certeza do insustentável futuro nas ruas do Conjunto São Miguel. Sua missa de 7º Dia teve de ser rezada em uma igreja no Mondubim, bairro distante de onde vivia. Nos dois templos próximo de casa, havia ameça de invasão e mais morte.

Francileudo não foi o primeiro filho enterrado por Maria Edileuza. Em 2006, ano que supostamente marca o início da guerra entre Mangueira e Coqueirinho, uma tocaia no posto Curió resultou no fuzilamento de Edineudo Ferreira Facundes. O mais velho de quatro crias. Na época, também com 25 anos e, nas palavras da mãe, traficante de drogas confesso. “Esse era. Fiz tudo, mas também mataram. Temo pelos dois que ainda tão vivos”, receia.

> TAGS: medo assassinatos filhos mães violência tráfico

Veja também

Listas dos assassinados no Conjunto São Miguel Mãe é proibida por traficantes de ir ao túmulo do filho

micherli 28/05/2014 11:49

as leis deveriam sem para punir realmente mais fica so brincando de fazer justiça...tem mesmo que haver penas mais severas para bandidos que tiran a vida do outro...

Jayro Rodrigues 05/06/2013 10:02

Algumas dessas mães não controlam os filhos depois que os mesmos já estão com o "pescoço grosso". Algo do tipo: "A senhora não pode me dar, tenho que roubar". O Estado não foi presente na vida desses jovem a 15 anos atrás e agora está colhendo os frutos. Pergunto, pq criticam um

marco 05/06/2013 09:16

bandido bom é bandido morto. no são mguel quando um morre a policia acha é bom. o problema não está na prefeitura e nem no governo. e sim nas leis. leis que vem la de brasília. sempre ouve esse confronto dessas duas facções ... esses confrontos se estendem atem a w. soares as vezes.

Dulcinea 04/06/2013 23:03

Sou mãe e não tenho pena dessa senhora. Se ela chora hoje pelo filho, pelo menos outras três mães já choraram,pela delinquência do filho dela, viciado e assassino confesso. Se tem medo pelos outros, que deixe de assistir novela e vá educá-los.

Maclima 04/06/2013 23:02

CENAS FORTES! TORTURA e ASSASSINATO de um PRODUTOR RURAL pelos ÍNDIOS no MS. CULPA DE UM GOVERNO VAGABUNDO QUE NADA FAZ COM A EXPLOSÃO DA VIOLÊNCIA NAS CIDADES E NO CAMPO. XÔ PTRALHAS CANALHAS, LEVARAM O PAÍS AO CAOS! http://goo.gl/6LnpJ

Jose Luciano Muniz Lima 04/06/2013 18:20

Sou vizinho dessa comunidade e o poder público só entra lá com bala, algemas, porrete, camburão e rabecão. Não entra com posto de saúde, escola, água tratada, esgoto e principalmente creche! Querem o que? Os políticos só aparecem lá pra comprar votos. A sociedade colhe o que planta. Políticos M...

cabelo bom 04/06/2013 17:47

APOSTO QUE ESSES MENINOS NUNCA FORAM BEM NA ESCOLA, O QUE ESSAS MÃES FAZIAM? NÃO TINHAM MORAL COM OS FILHOS, NÃO DAVAM LIMITES, NÃO PASSAVAM RESPEITO E VALORES PARA ELES SEREM CIDADÃOS DE BEM. SÃO POBRES, MAS MUITOS POBRES TEM VALORES. BEM FEITO PARA ESSAS MÃES, SEUS FILHOS NEM VOCÊS FAZEM FALTA!

cabelo bom 04/06/2013 17:42

BEM FEITO PARA ESSAS MÃES, SÃO MÃES QUE PASSARAM A MÃO NA CABEÇA DOS FILHOS QUANDO CRIANÇAS, SE CHORAM AGORA COLHERAM O QUE PLANTARAM. AS PILANTRAS SÃO ESSAS MÃES QUE NÃO TIVERAM MORAL COM OS FILHOS QUANDO CRIANÇAS. CHOREM MAIS, APROVEITEM E MORRAM JUNTO COM SEUS FILHOS!

Rafaele Esmeraldo 04/06/2013 12:22

Esse lugar era onde eu morava.Antes só tinha sítio. Um dos poucos sítios que sobraram foi o do meu avô que futuramente se tornou a divisória das gangues.Os muros e os coqueiros amparavam as balas.O barulho era terrível.Corpos estendidos no meu portão.Só quem morou e mora sabe.Salvem o São Miguel!

eliane 04/06/2013 11:26

Francileudo estava coagindo as testemunhas no fórum minutos antes de morrer.

Roberto Amaral 04/06/2013 11:05

Em 10 anos de governo, o PT desarmou toda população brasileira que, sem ter como se defender ficou a mercê do crime organizado, propôs formalmente o controle do judiciário pelo congresso nacional em represália a Ação Penal 470 e vem, sistematicamente, destruindo os valores da família brasileira.

ana rosa 04/06/2013 10:27

Enquanto isso o governo paga para ajudar a sustentar essas mães que deixam seus filhos serem criados pala rua. Rua só ensina o que não presta. Enquanto não existir um controle de natalidade no Brasil, dando direito a ter filho só quem souber criar(educar), continuará com drogas e tráfico.

Maclima 04/06/2013 10:08

Enquanto os DIREITOS HUMANOS DE MARGINAIS estiverem INFESTADOS DE POLÍTICOS POPULISTAS ESQUERDISTAS a MARGINÁLIA continuará dando as cartas no país, BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO, XÔ COMUNISTAS E PTRALHAS!

diego mendes 04/06/2013 10:01

essa é uma realidade não resolvida, que esconderemos nesses proximos anos, atraves de uma mascara de felicidade, comemorando cada gol, enquanto nossos filhos são tragados pela criminalidade.

Sol 04/06/2013 09:53

Creio que o que tem que mudar são as nossas leis. Tem que ser mais severas, eles tem que parar de rir na cara das autoridades e da sociedade temos que deixar de defender bandido, colocar eles pra trabalhar dentro da cadeia ou fora dela mas bem algemados e passando vergonha diante da sociedade.

MilFon 04/06/2013 09:44

Essa mães que acobertam seus filhos só tem a opção de traficar. Sem dignidade esses filhos queridos de Deus são todos voltados a viverem como bichos...

Zé Bob 04/06/2013 09:40

Tudo isso poderia ser resolvido nas urnas, mas votamos em cartas marcadas (Cid Gomes, Carlomano Marques, Leonelzinho etc). Enquanto continuarmos votando em candidatos assim nada mudará...

Hamilton 04/06/2013 08:45

Deixa pra lá: e o castelão e o centro de eventos e o aquário e a ponte estaiada e os shows...

Raimunda 04/06/2013 08:36

O que eu poço dizer é que reqalmente somos reféns mais não só do pessoal do coqueirinho da mangueira também, lá também não existe nenhum santo pelo contrário.Por lá o Cid Gomes nunca andou não sabe o que é uma mãe perder um filho e outra coisa a policia é totalmente conivente.

chico vigilante 04/06/2013 08:33

Faltam políticas públicas e segurança constante no local.

elvis 04/06/2013 08:29

o pior de tudo e a mae falando que dava dibheiro para ele sustentar o vicio.botam culpa no gov. mas os grandes culpados na maioria das vezes sao os pais!!!!

maria 04/06/2013 08:24

Tá pra nascer coisa/pessoa mais valente que uma mãe ferida.

Lima 04/06/2013 08:07

Sabe quando isso vai acabar? NUNCA....Enquanto a política do país não deixar de ser nojenta.

Allan Junior 04/06/2013 07:52

O que se percebe também é que nenhum, como a própria mãe diz, era "santo".

oitavo anjo 04/06/2013 07:49

É uma vergonha!Parece que,realmente,fazemos parte de um "País que não é Nação".

oitavo anjo 04/06/2013 07:44

Os sevos de satanás(traficantes). agem destruindo a imagem e semelhança de Deus, o homem, acobertados por uma rede de corruptos(inseridos em todos os setores da sociedade)que se alimentam do dinheiro sujo e maldito do tráfico,agem formando um poder paralelo,desafiando as autoridades constituídas.

24h|48h Últimas

Tráfico: as mães da comunidade São Miguel e a dor pela perda dos filhos

Em Breve

Ofertas incríveis para você

24h|48h Últimas

Escolhidas pelo editor