E na casa da vovó pode tudo mesmo?
Tradicionalmente, a casa dos avós era o lugar para fazer festa nos domingos e feriados. Longe do olhar materno, a diversão era garantida. No entanto, restrições são necessárias para a relação permanecer saudável. “Quem tem obrigação de estabelecer limites são os pais, mas os avós ensinam a conviver em sociedade e elaboram condutas”, diz a professora do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará (UFC), Maria Josefina da Silva.
O diálogo entre os familiares envolvidos na educação da criança é apontado como a melhor saída. Os pais definem as normas quanto à escola ou alimentação das crianças, no entanto, podem solicitar a ajuda dos avós. “Os idosos se fazem disponíveis para cuidar dos netos por uma questão de amor e solidariedade. Dessa forma, não é justo serem transformados em babás. Eles têm o direito de opinar”, argumenta a escritora e psicóloga Lídia Aratangy.
As particularidades da vida moderna (trabalho, estudo, trânsito) contribuíram para a formulação de um novo perfil de avô e avó. Quem antes recebia para o almoço de domingo, agora faz parte da rotina. Eles levam para o colégio, pegam na aula de inglês, ajudam com as tarefas escolares. “Os avós não têm aquela obrigação, por vezes burocrática, de ficar ensinando. É uma relação mais horizontal”, comenta Maria Josefina da Silva. Assim, os idosos podem brincar, ler ou ver filmes com a criança. “O universo dos avós se aproxima do universo infantil, pois eles geralmente estão aposentados e têm mais tempo disponível”, completa a professora.
Outra situação é quando, ao invés de visitas esporádicas, temos o convívio diário entre avó, filha e neta. Uma separação, doença ou necessidade financeira pode levar as três gerações da família a habitar a mesma residência. Nestes casos, o respeito na convivência deve ser redobrado. É necessário estabelecer um diálogo prévio para traçar as regras. “É uma situação difícil. Uma das duas (avó ou filha) não é a dona da casa. Então, tem a questão da autoridade”, completa Maria Josefina.
A costureira Lúcia Ribeiro, 54 anos, cuida da neta Fernanda desde os oito meses. Após se separar do marido, a filha Kelly Sobreira, 25 anos, retornou para o lar materno. Os laços se tornaram mais fortes. “É um amor maior do que pelo próprio filho. Quando nasceu já tinha aquele afeto; é um amor incondicional”, diz Lúcia.
Tanto carinho não impede o surgimento de atritos. Segundo Kelly, o cuidado extremo de dona Lúcia acaba se transformando em mimo. “Muitas vezes a minha opinião diverge da dela (Lúcia). Passo uma ordem dizendo o que pode ou o que não pode e ela contradiz, na minha frente”, reclama Kelly. Apesar dos conflitos, ela enxerga na mãe um apoio. “Não poderia deixar minha filha com uma babá. Não teria confiança”, afirma. (Isabel Costa)
DICAS
Relação avós-netos
1. Estabelecer um diálogo franco e antecipado entre avós e pais é fundamental. Principalmente, se as três gerações vão morar na mesma casa.
2. Os pais devem determinar quais as regras a criança deve seguir no que se refere à alimentação e escola. Os avós podem interferir, mas a decisão final cabe aos pais.
3. Apesar de a maioria dos idosos gostar de cuidar dos netos, eles não devem ser sobrecarregados. Os avós devem ter tempo para si mesmo.
4. É importante deixar claro quem exerce cada função. O papel de avô não deve ser confundido com o papel do pai. A criança precisa de referências bem delimitadas.
5. Evitem discutir as regras quando a criança estiver presente. Isso irá desautorizar os dois.
FONTE: Lídia Aratangy (escritora, psicóloga e avó)
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