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poesia 19/12/2016 - 16h26

A morte na tua cabeça

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A morte na tua cabeça

Gabriel Ataide

gabrielkzty@gmail.com

-A morte?

-É... A morte!

-O que é que tem?

-Não existe.

-Claro que existe.

-Se a morte existisse nós a veríamos.

-Mais as pessoas morrem.

-Ninguém morre. Você nunca leu Guimarães Rosa?

-Não.

-Pois deveria ler.

-E o que é que ele disse sobre a morte.

-Ele disse que as pessoas não morre. Elas ficam encantadas.

-Então a morte é ficar encantado?

-É.

-Com a vida?

-É.

-E você está encantado?

-Muito. Não vê nesse supermercado, as pessoas, a comida? Tudo me encanta.

-Você se encanta com essas porcarias?

-Claro. Cada um tem um tipo de encantamento.

-Isso não é encantamento. Isso é loucura.

-Então as pessoas não morrem, nem ficam encantadas. Elas enlouquecem.

-Então não existe morte?

-Deve existir.

-Se existe, é invenção de americanos.

-Deus que me livre, já não bastou a bomba atômica, inventaram também a morte?

-Aiai, como a humanidade de inventores me emociona.

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