[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Obama, Snowden e Putin | Coluna Thomas Friedman | O POVO Online
Thomas Friedman 16/08/2013

Obama, Snowden e Putin

"Putin está construindo uma monocultura política que vai transformar a Rússia no pior dos piores países que permitem baixo nível de desenvolvimento da imaginação"
notícia 1 comentários
Compartilhar

Você tem somente uma única chance de deixar uma segunda boa impressão. Parece-me que Edward Snowden deveria usar a oportunidade que ele ainda tem, e que o presidente russo, Vladimir Putin, acabou de perder a sua.

Considerando a amplitude das reformas que o presidente Barack Obama está propondo hoje para evitar abusos quanto à privacidade na coleta de dados de inteligência, na esteira da divulgação dos documentos vazados por Snowden, o ex-técnico da NSA (National Security Agency, a Agência Nacional de Segurança) merece uma chance para deixar uma segunda boa impressão – ou seja, para afirmar que ele realmente é um delator, e não um traidor. O fato é que ele divulgou documentos sigilosos e fugiu para países hostis aos norte-americanos e aos próprios princípios que ele defende.

Para deixar uma boa segunda impressão, Snowden teria de voltar para casa, defender sua posição e enfrentar seus acusadores. E isso significaria correr o risco de ser condenado a uma longa pena de prisão, mas também significaria confiar na imparcialidade do povo norte-americano, que, acredito, não permitirá que um autêntico delator seja punido injustamente.


Em relação a Putin, ele acabou com a segunda boa impressão que poderíamos ter dele – relacionada à restauração das relações entre Estados Unidos e Rússia – muito antes de conceder asilo a Snowden. Lidar com Putin sempre envolveu um certo acordo de compensação para os Estados Unidos: aceitar um certo nível de autoritarismo por parte de Putin em troca de cooperação em questões globais que importavam para nós, desde que Putin “meio que” mantivesse a Rússia caminhando em direção a uma sociedade mais aberta e consensual. Esse equilíbrio, porém, não existe mais. A insistência de Putin em barrar toda ação diplomática quanto à Síria que possa destituir “o cara dele”, o presidente Bashar Assad, em abusar dos gays e lésbicas da Rússia e em usar descaradamente a tática de governar por decreto para silenciar quaisquer críticos significa que não estamos ganhando nada com essa relação, assim como muitos russos também não estão.

 

Mas, em vez de dar um soco na cara de Putin, o que o elevaria aos olhos de seus seguidores, seria muito melhor atingir uma parte bem mais sensível do presidente russo. Ou seja: poderíamos desafiar publicamente a ideia de que ele está transformando a Rússia em uma nação forte.

 

Aqui está o que Obama poderia ter dito quando questionado sobre Putin na semana passada: “Você sabe, em 1979, os brutais antecessores soviéticos do presidente Putin nos enviaram Sergey Brin e a família dele. Como vocês sabem, Brin, mais tarde, se tornou o cofundador do Google. Isso representou uma perda para a Rússia e um presente para nós e para o mundo. Hoje não estaríamos tirando proveito dos benefícios de fazer buscas na internet caso os soviéticos não tivessem tornado a vida da família de Brin tão desinteressante. Estou falando isso porque Putin não parece estar interessado em deixar a vida atraente na Rússia de hoje para os Sergeys Brins de sua geração. Putin só parece interessado em enfiar canos no solo e extrair petróleo e gás – em vez de tentar extrair os talentos de seus próprios jovens – e em se certificar de que ele e seus companheiros obtenham sua parte do petróleo descoberto.

 

“Veja o que Putin acabou de fazer. Sergei Guriev é um dos mais talentosos economistas da nova geração da Rússia. Ele foi reitor de uma das poucas instituições acadêmicas de classe mundial que sobraram na Rússia de hoje: a New Economic School, a Nova Escola de Economia. Guriev era um conselheiro leal e liberal do ex-presidente Dmitry Medvedev, mas devido ao fato de ele ser co-autor de um relatório criticando a condenação de Mikhail Khodorkovsky, o magnata do petróleo que foi preso, capangas de Putin começaram a perturbá-lo. Ele disse que esses capangas chegaram a exigir que ele entregasse seus e-mails de cinco anos atrás. (Fique atento, Snowden.) Bem, na primavera passada, Guriev fugiu para a França, pois disse que temia perder sua liberdade – e ele diz que não vai voltar para a Rússia.

 

“Sergei Guriev, venha para os Estados Unidos. Traga seus amigos. Traga também as componentes daquela banda que Putin colocou na cadeia, o Pussy Riot. Nenhuma pessoa criativa tem nenhum futuro na Rússia de Putin, pois ele não entende o presente: não existem mais países “desenvolvidos” e países “em desenvolvimento”. Existem apenas países HIEs (high imagination-enabling countries ou países que permitem o desenvolvimento da imaginação em alto nível) e LIEs (low imagination-enabling countries ou países que permitem um baixo nível de desenvolvimento da imaginação). Ou seja, existem os países que alimentam a inovação e os inovadores e aqueles que não o fazem – num mundo em que tantas pessoas são capazes de transformar ideias em produtos, serviços, empresas e postos de trabalho de maneira mais rápida e mais barata do que nunca. Putin está construindo uma monocultura política que vai transformar a Rússia no pior entre os piores países que permitem um baixo nível de desenvolvimento da imaginação.

 

“Putin prefere contar, em vez disso, com populações rurais xenófobas e menos educadas, que compram suas ideias contra gays e contra os norte-americanos, segundo as quais o mundo só deseja manter a Rússia lá embaixo. À medida que a revolução representada pelo fraturamento hidráulico, pela perfuração horizontal e pela eficiência energética se espalha ao redor do mundo, e os preços do petróleo e do gás caem, o fracasso de Putin em investir nos talentos humanos da Rússia – coisa que ele não fará, pois isso significaria capacitar e libertar a população de suas mãos – vai se transformar num grande problema para a Rússia”.

 

É o que eu teria dito. Perderíamos alguma coisa por não podermos ter a ajuda de Putin? Pode apostar que sim. Aqueles que dizem que não precisamos da Rússia estão errados. Não há um grande problema no mundo atual - Síria, Afeganistão, Egito, crimes cibernéticos, clima ou drogas – que não seria mais fácil de resolver se os Estados Unidos e a Rússia trabalhassem juntos. (É por isso que me opus à expansão da Otan). Mas, atualmente, ir contra os Estados Unidos é essencial para a sobrevivência interna de Putin.

 

Assim, não faz sentido desperdiçar mais tempo com ele. Apesar de ele não ter interesse em nos ajudar, ele não pode nos prejudicar seriamente. Ele pode e está causando sérios danos à Rússia por colocar a lealdade a ele antes da competência. Qualquer sistema morre se fizer isso por muito tempo.

 

Você pode pesquisar isso no Google.


Tradução: Daniela Nogueira
danielanogueira@opovo.com.br

 

Thomas Friedman

tendencias@opovo.com.br

Colunista de assuntos internacionais do New York Times, Friedman já

> TAGS: thomas friedman
Compartilhar
espaço do leitor
Fabricio 22/11/2014 07:39
Caro Sr. Thomas Friedman, me causa espanto - soando ingenuidade inclusive - a ideia que o senhor defende de que o povo americano seria maduro para impedir um delator de cumprir longos anos de cadeia sem acusação. Sinceramente discordo e basta analisar o histórico recente do país para compreender
1
Comentários
300
As informações são de responsabilidade do autor:

Thomas friedman

RSS

Thomas friedman

Thomas friedman

Escreva para o colunista

Atualização: Sexta-Feira

TV O POVO

Confira a programação play

anterior

próxima

Economia

  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

Newsletter

Receba as notícias da Coluna Thomas friedman

Powered by Feedburner/Google