[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive]
O cinema é estado de espírito. É viajar para outros lugares inimagináveis. Estar ou sentir sentimentos de outros. É ver através de novas visões. Se perder num outro mundo, para ao final se achar em sua própria realidade. O cinema quando é cinema de qualidade, sempre é capaz de transformar qualquer situação em um sentimento único. Nem que seja enquanto as luzes estão apagadas e a luz projeta na tela toda a magia da sétima arte.
Tudo isso está na Trilogia de O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel, 2001; As Duas Torres, 2002; O Retorno do Rei, 2003), primorosamente adaptada e regida por Peter Jackson, consagrado pelo público (mais de 3 bilhões de dólares de bilheteria) e aplaudido pela crítica, com nada menos que 30 indicações e 17 vitórias no Oscar, incluindo melhor filme, diretor e roteiro adaptado.
Diante da missão de nos levar de volta à Terra Média, Peter Jackson decidiu adaptar também O Hobbit, o livro que antecede em 60 anos os fatos da trilogia original. Até aí nenhum problema, ninguém poderia ser mais capaz. Porém, a obra de apenas 296 páginas será uma nova Trilogia, e com essa decisão, novas histórias e anotações perdidas, agora encontradas e adequadas, se transformarão em três novos filmes.
OK. Vamos deixar de lado o livro que lhe deu origem como obra cinematográfica e pensar apenas no filme. O cinema é uma obra por si e deve se sustentar na tela, sem acessórios, sem explicações pós-exibição ou apêndices literários.
E o que está na tela? Vamos lá.
Bem vindo de volta à Terra Média, com a primeira parte da nova Trilogia. O Hobbit – Uma Jornada Inesperada (The Hobbit – An Unexpected Journey, 2012) é, indiscutivelmente um grande espetáculo, no entanto carrega consigo algumas questões que merecem ser abordadas: O Selo de Qualidade Peter Jackson; A História Estica e Puxa; O Efeito Gandalf; A Sombra do Senhor dos Anéis; O Problema Radagast e o Tom Infantil. Se o filme é bom? Sim, é uma ótima diversão. Mas... Mas... Vamos aos fatos.
Na trama, o tranquilo Bilbo Bolseiro (Martin Freeman), um Hobbit que mora na paz do Condado da Terra Média, é abordado pelo mago Gandalf (Ian McKellen) para que ele empreenda uma grande aventura ao lado de 13 anões de Erebor. O objetivo é o de cumprir a profecia da reconquista do reino de Erebor e suas riquezas, tomado pelo Dragão Smaug.
Nessa aventura, o Hobbit terá o papel do ladrão da comitiva, para realizar os trabalhos difíceis e arriscados, com a peculiaridade de não conseguir ser farejado pelo poderoso dragão. Nessa longa, valorosa, perigosa, divertida e por (muitas) vezes arrastada viagem, Bilbo e os anões encontrarão com trolls, wargs, orcs e, finalmente, com Gollum, o dono original do poderoso Um Anel.
Selo de Qualidade Peter Jackson
O selo de qualidade de Peter Jackson está em todos os quadros de mais uma obra esteticamente impecável, como uma colagem de pinturas vivas em formato de aventura épica, mas que por vezes insiste no tom infantil. Fantasia, algumas belas sequências de batalhas e seus campos dotados de infinitas belezas. Está tudo aqui.
Entretanto falta uma história forte, algo que mova seus personagens pelas próximas quase nove horas de cinema. Por mais que a qualidade técnica extrapole os originais (sim?!), por mais que nos embasbaque, por mais que nos faça até babar com o poder de suas fantasias vivas. Não há ninguém que tenha maior noção da Terra Média que Peter Jackson. Ok, será que não poderia ser um filme ou dois? Acredito que sim.
Estica e Puxa
Os roteiristas Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo DelToro (originalmente o diretor da obra) e Peter Jackson incorporam as notas e material inédito deixados por Tolkien, apêndices e até histórias de outras obras inacabadas, além de usar o que antes eram pensamentos, flashbacks e contos por trás de todo o escopo principal de O Hobbit, para na produção tornaram-se sequências, numa forma de alongar a obra. Há ganhos também com maiores detalhes de cada personagem e algum desenvolvimento para aguçar o interesse pelo que virá nas novas aventuras da trilogia.
Sua narrativa é o grande ponto fraco, com uma estrutura completamente solta. No início há a narração em off do velho Bilbo, para depois simplesmente desaparecer para dar lugar à várias historietas. Existem relatos, flashbacks, explicações em cima de explicações sobre vários personagens, dois prólogos (pois é...) e, a não ser pelo encontro com Gollum e duas batalhas, nada de extraordinário acontece. Muito fica no ar, como um gancho para o seu segundo episódio.
O Efeito Gandalf
Citado pelo próprio Bilbo Bolseiro, como um mago que faz os divertidos fogos de artifício, Gandalf já provou na trilogia original que é muito, muito mais que isso. E não é diferente em O Hobbit. O responsável por agregar o grupo em busca da Jornada Inesperada é (quase) sempre o salvador da pátria. Se há perigo, nem se preocupe, Gandalf aparecerá para salvá-los. E não estou contando nenhum spoiler, sabemos que Bilbo viverá, pois é o ponto de partida da trilogia original. E sim, os anões são tão protagonistas quanto ele nas novas aventuras.
Então... O Efeito Gandalf serve apenas para demonstrar o poder constante do mago? Queira ou não ele é crucial na história e eu nem questiono a atuação do soberbo Ian McKellen, muito a vontade no seu retorno com a barba, manto e chapéu do mago.
A Sombra do Senhor dos Anéis
A abertura se passa exatamente no início de A Sociedade do Anel, com Frodo perguntando o que Bilbo escreve... E é exatamente a aventura que vamos conferir nas próximas NOVE horas durante os próximos TRÊS anos na tela grande. É muito reconfortante rever personagens que se tornaram icônicos no cinema. Exatamente como uma sombra (ou um peso) da trilogia d´O Senhor dos Anéis.
É perceptível que tudo que remete à trilogia original dá uma força maior ao novo Hobbit. Das aparições dos elfos Elrond (Hugo Weaving) e Galadriel (Cate Blanchett), e do mago Saruman (Christopher Lee) em conversas políticas com Gandalf, até o seu mais extraordinário momento: a sequência de encontro e enigmas de Gollum, e por fim, o Um Anel. Cenas primorosas, fazendo uma sensação boa ecoar na alma.
Esse encontro pode ser definido como tão importante para essa obra número um, quanto o próprio Um Anel é importante para impulsionar toda a trilogia original. Gollum está ainda mais vivo, saltando da tela numa atuação (em capturas de movimento) esplendorosa de Andy Serkis. Cada movimento, cada sensação, cada suspiro, está tudo pulsando na tela, num Gollum de intensidade sem igual, aprisionado em seu próprio ser repugnante. A sequência inesquecível de enigmas é uma batalha de sagacidade travada por Gollum e Bilbo Bolseiro, com desdobramentos, como sabemos, que mudarão para sempre a Terra Média, incluindo o certo Um Anel.
Apesar do Dragão Smaug, o vilão que se apresenta como principal é a criatura Azog, um Orc de uma das histórias perdidas de Tolkien, mas ainda distante de ser algo tão forte como Sauron foi/será. E apesar de toda a nobreza de Thorin Escudo-de-Carvalho, este passa longe da figura mítica do Rei Aragorn (perpetuado por Viggo Mortensen). Pois é.
O problema Radagast e o tom infantil
O novo personagem, o mago Radagast, o Castanho (Sylvester McCoy), é apaixonado por animais e natureza. Junto com alguns anões ele se torna um alívio cômico, quase sempre forçado e sem graça. Apesar de visualizar Necromante, que estará presente no futuro da trilogia, seu papel se transforma num embaço. Sua charrete puxada por coelhos, sua devoção à natureza e todas as suas outras aparições, são dignas de um cochilo.
O tom excessivamente leve do longa é algo que também incomoda. As músicas dos anões, a risível (negativamente) sequência do banquete acidental na casa de Bilbo, que culmina com uma vergonhosa ação que envolve pratos e brincadeiras tolas entre os anões, só para abusar o tão organizado Hobbit.
A história mais infantil de J. R. R. Tolkien é apresentada sem sangue (apesar das intensas batalhas) e aborrece em suas tentativas bobas de provocar o riso fácil. Muito humor físico (desnecessário), roncos, arrotos, entre outras situações. Sim, o livro é bem mais adolescente que todos os outros ‘Senhor dos Anéis’, mas a tolice vai além do que é posto, uma vez que o diretor não se decide se mergulha de vez no tom jovem ou se gosta mais de flertar com o épico brutal da trilogia original.
O Hobbit nr. 1
Minha intenção com a crítica é de fomentar discussões sadias sobre a obra artística posta na tela. E expor razões que não me fazem vê-lo como uma obra cinematográfica tão boa quanto seus anteriores. Tenho de compará-los? Acredito que sim, pois suas histórias estão conectadas e estamos testemunhando o alicerce que segura a trilogia original d´O Senhor dos Anéis.
A música de Howard Shore repete os temas consagrados, com pequenas adições. A fotografia é belíssima, mesmo não compondo uniformemente o longa, pois temos telas completamente sombrias e momentos de pura diversão, coloridos e iluminados. A edição dança conforme o roteiro e, infelizmente, deixa a desejar com múltiplas histórias (quase episódicas) e uma trama alongada, beirando três horas de projeção.
O líder da comitiva dos anões, Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage, de postura exemplarmente dura e nobre) tem um dos melhores diálogos em sua sequência final que arrepia em sua declaração (e ação) final. Porém, só não precisávamos esperar tanto por uma emoção após a batalha. Na verdade, esperamos o filme inteiro por isso.
Ah, e o Bilbo Bolseiro de Martin Freeman é fabuloso, com todas suas características exaltadas a cada movimento. À princípio calmo, para depois mergulhar na aventura que de alguma maneira o preencherá. Assim, ressalta em suas ações uma ansiedade de não saber o que está por vir, mas com a certeza de que será modificado por essa jornada inesperada.
Na posição de obra inicial, O Hobbit – Uma Jornada Inesperada cumpre a função de apresentar personagens, definir foco e convidar novamente o público para uma viagem à Terra Média. Só não é tão inesquecível quanto às anteriores. Os novos encontros já estão marcados para dezembro de 2013 (O Hobbit - A Desolação de Smaug), e julho de 2014 (O Hobbit - Lá e De Volta Outra Vez)… Oh! Precious, my precious! NOTA: 7,0
INFORMAÇÕES ESPECIAIS:
Os prêmios de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel (2001): indicado ao Oscar de melhor filme, diretor, roteiro adaptado, ator coadjuvante (Ian McKellen), edição, figurino, direção de arte & cenários, som e canção original, ganhou o Oscar de melhor trilha sonora, fotografia, maquiagem e efeitos especiais; O Senhor dos Anéis – As Duas Torres (2002): indicado ao Oscar de melhor filme, edição, direção de arte & cenários e som, ganhou o Oscar de melhor efeitos especiais e edição de som; O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2003): vencedor do Oscar de melhor filme, diretor, roteiro adaptado, edição, figurino, direção de arte & cenários, edição de som, canção original, trilha sonora, maquiagem e efeitos especiais; um total de 30 indicações e 17 vitórias.
*Daniel Herculano (siga no Twitter @DanielHerculano) é estudante de Jornalismo, graduado em Comunicação Social e assessor de comunicação. Crítico de cinema formado em cursos de Ana Maria Bahiana (Uol/Globo de Ouro), Pablo Villaça (Cinema em Cena/OFCS), Ruy Gardnier (O Globo/Contracampo) e Joaquim Assis (Roteirista).
Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje
Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object
Newsletter
Copyright © 1997-2016