das antigas 16/03/2014

Geração automóvel, afetos e gambiarras

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Demitri Túlio demitri@opovo.com.br


Sou de uma geração que foi incentivada a pensar o ir e vir na Cidade em cima de um automóvel particular. Ir à padaria na esquina, ao Jumbo... só se for de carro.

Embora meus dois vôs nunca tenham conseguido possuir um automóvel, todo pivete e, depois, rapaz de futuro sonhava com o primeiro fusca. Um fusquinha que fosse, presente por aprovação no vestibular, depois um Corcel Coupe vermelho Ki-suco. E, quando passasse no Banco do Brasil ou Agulhas Negras, um Maverick azul...

Possuir um carro era indício de estar subindo na vida, de ter uma chance – mesmo feio o moço – de arrebanhar umas Maria Gasolina. Era quase parte do corpo adolescente que ganhava mais potência na juventude chegante. Coisa de homem.

O brochote que sabia dirigir e possuía um carro na década de 70 e 80 era quase como ter duas pintas. Não mudou muito, piorou. Redesenharam os automóveis e a Cidade passou a viver em função deles.

Outros tempos são outros tempos, mas carro era o primeiro bem que incutiam desejar. Principalmente os meninos. Não recordo de mariazinhas brincando de dirigir, puxando carros de latas, fazendo rodar um pneu velho com um pedaço de pau.

E, como não havia transporte coletivo que prestasse, virou comum dizer que andar de ônibus era coisa de favelado. Trem, o que restou da época da bisavó, era sinal de atraso. Metrô? Falar nisso era conversa de outro mundo, nunca chegaria ao canelau da província. Talvez só no “ano 2000”.

O distante e futurista ano 2000 chegou, virou passado, e continuamos sonhando com o carro zero na garagem que nem existia na casa.

Um dia, Deus mandaria boa sorte e acertaríamos na loteca. Nunca mais cambões sujos, abarrotados de sovacos, cheios de fumantes, motoristas brutos e trocadores que surrupiavam o troco.

Pois sim. Ir trabalhar de bicicleta era se igualar ao pedreiro, ao barbeiro, ao pescador de carás ou ao vendedor de galinha e “bacurin”. Tinha pena das “pobe” penduradas de cabeça pra baixo no guidom e do rabicó amarrado, aos berros, na garupa...

Quando menos esperamos, as ruas estavam todas asfaltadas, sinal em toda esquina e as calçadas tomadas por estacionamentos... Lascado passou a ser quem não consegue trocar o carro ou a moto todo ano ou de dois em dois.

O quiproquó da hora é o sumiço de mais uma praça dos “afetos” de alguém e dos ipês roxos que atrapalham os caminhos dos automóveis. A Cidade vai inchando de arranjos públicos para dar um jeitinho temporário no sistema trânsito enjambrado...

Incômodo é que todos queremos ir e vir folgado, nas calçadas e asfalto quentes, mas só compramos apartamentos se existirem duas ou mais vagas de garagem.

E vamos aceitando, passivos, que a Prefeitura libere a construção de mais um condomínio onde havia um casarão ou um bosque e nenhuma estação de metrô, ciclovias, linha ônibus que preste e árvores no passeio...

 

DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO, demitri@opovo.com.br

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