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Audifax Rios 17/04/2015

Encontro com o velho Guiba

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Escurece. Tudo marcado para que se espalhassem, nesta última quinta-feira, parte das cinzas do seresteiro Guilherme Neto na Ponte dos Ingleses, Praia de Iracema. Ia descendo o Outeiro, rumo ao Estoril, reduto boêmio desta Fortalezamada, quando um toró daqueles apanha-me de supetão, deixando roupa e carcaça encharcadas. O temporal fez o tempo fechar, o céu ficou chumbado como os bebuns, semelhando aquelas tardes tristonhas dos tempos em que ele cantava aos microfones da Perrenove, lá no Pajeú, ou, à capela, nos salões da familiaríssima pensão de Olímpia. Sob a guarda de um precário toldo via a água escorrer pela sarjeta e lembrava de quando fui intimado pelo editor Anastácio Sousa a escolher o título de uma de suas crônicas para batizar o livro que ilustrei com prazer: Chuva na madrugada. Era isso. Chuva, madrugada, gente, cachaça, mulher, música, rádio e o velho Guiba, uma coisa só.


No Estoril já se encontrava Ricardo, sobrinho dileto, coordenando tudo. E Verônica com Gabi, mulher e enteada; e João Filho e irmãs, filhos de Leda. E mais: Flávio Torres, irmão de boemia, Manoel Maia, Padilha Brandão, Galba Gomes, Paulo Lincoln e Marília Brandão e o companheiro de longa estrada, Otávio Santiago. Este, também molhado, por dentro e por fora, com noventa anos nos costados, mente lúcida, voz limpa e firme. Rememorou momentos do histórico restaurante onde os dois eram cadeiras cativas na primeira fase, nos dourados anos, acompanhados pelo inseparável violão de Aleardo Freitas e a parceria dos irmãos Torres, Hildemar, Hildevar e Hildeberto, filhos de Dom Dionísio, hoje nome do bairro Estância Castelo, onde nasceu a TV Ceará, canal 2, onde Guilherme foi diretor artístico na fase áurea. Mulheres, claro, vieram ao encontro: Iara do Nick Bar, Mônica Barroso, Conceição Figueiredo, Vólia Barreira, Martine Kunz, Suzy, Maísa Vasconcelos... e mais gente chegando, Paulo Pardal, Ataliba Pinheiro, Fátima Severiano, Nelinho Brandão e esposa, Gustavinho Silva, Ricardo Bezerra, Marcus Guilherme, Zeferino Barreira, Vicente Cruz.


Ricardo Kalulu Guilherme lê trechos memoriais onde Guiba confessa o sonho de ter um bequinho qualquer com seu nome em placa azul e as cinzas derramadas ao vento iracemal para redemoinhar entre as pernas das raparigas em flor. E cantou, e cantaram. Tudo documentado... (cadê o Polion Lemos?). No telão, fotos dos tempos da Ceará Rádio Clube e da Tamandaré do Recife; o seresteiro com faixa de cantor do ano, tipo Rei da Voz; no início e no auge da carreira; pimpolho em fraldas e já maduro, cinquentão, machão, garanhão. Melhor dizendo, galã, galanteador, amante do belo, da mulher. E do rádio, sua cachaça maior.


E tudo voltava como uma fita amarelada, “flash-back” de quando entrei na antiga tevê associada para uma entrevista com ele e um teste com Rinauro Moreira, o exigente cenógrafo. Depois da aprovação o apoio do conselheiro chefinho João Guilherme da Silva Neto e de outro João, o Ramos, locutor, radiator, apresentador de tevê, homem de sete instrumentos: os pais que acabava de ganhar visto ter perdido o de sangue há pouco. De mestre, chefe, diretor, passou a amigo e parceiro de copo para minha alegria e orgulho em saber incluído, também, na sua seleta lista de pupilos que só lhe deram alegria.


Pouco ia à sua casa, não é muito do meu feitio. E nem era preciso, estava pendurado por lá em suas paredes. E nos víamos semanalmente no Country/Sirigado, nas reuniões do Clube dos Gatos, onde tudo acontecia em torno de sua requisitadíssima persona, o Guilherme sempre não chegava pra quem queria. Noites de terça com os violões de Zivaldo Maia, Paulo Pardal, Milton Nunes, Zé Renato, Evaldo Gouveia, Otávio Santiago... e as vozes do Ricardo e do Flávio, da Natércia Benevides, do conterrâneo Jotabê Carneiro, Iranildo Pereira, Eva Caldas, Fausto Nilo, Fernando Peixoto, Rodger Rogério, Luciano Maia e ele, Guilherme Neto, a estrela mais brilhante.


E a presença de outros que se foram e fazem muita falta, o Augusto Pontes, a arte em pessoa, o guru de toda uma geração; mais o Cláudio Pereira, chegando ao oitavo botequim a bordo de sua an(mi)tológica cadeira voadora. E mais: Didi Silveira, Erasmo Pitombeira, Augusto Borges, Giordane Carvalho, Elmar Arruda, Bethânia Montenegro, Macário Batista, Julieta Brontée, Manoel Maia, a onipresente Maria Alice e a saudosa Airam Holanda. Afora os convidados que se revezavam nestas noites memoráveis.


Quando Guilherme saiu de cena, o elenco ainda andou ensaiando reprises destes saraus no Cantinho do Frango do Caio Soares, porém, sem o velho seresteiro a coisa já não era a mesma. Talvez seria melhor fechar o rádio de vez. Mesmo porque o Guilherme não será esquecido assim tão facilmente. Sempre que se falar em rádio, música, televisão, jornal, amigos, uma bela mulher e uma reconfortante caninha, fatalmente seu nome virá à baila. E com as melhores das recordações.


O que podia ser feito (e aqui fica a sugestão), era a inclusão de sua biografia na série “Terra Bárbara” da Fundação Demócrito Rocha. Alô, alô, Regina, Raymundo e Falcão, o próprio Ricardo Guilherme é a pessoa indicada para a tarefa. Tudo a ver. Durante anos, escondido na sigla G. de N., o velho Guiba assinou coluna n’O POVO com o título Luzes da Cidade, mesmo atrelado aos Diários Associados do Chatô. De cuja rádio pioneira foi, por muitos anos, diretor artístico. A dita PRE-9, fundada por João Dummar, cuja família é proprietária do Jornal das Multidões.


Bem, as cinzas foram finalmente jogadas ao maroceano numa tarde/noite escura, chuvosa, saudosa, nostálgica, melancólica como seu repertório. O restante ficará entre os monólitos do Quixadá, na Juatama, pra lembrar que o sertão sempre vai virar praia. P.S.- Mestre Guiba, deixei para escrever esta crônica somente hoje, dia do aniversário deste seu pupilo, discípulo de suas ideias estéticas na tevê, filho adotivo com enorme gratidão e saudade. Carinhosamente chamado de Bamba por você (que aniversariaria no dia 23) e pelo seu irmão de fé João Antony Eden de Medeiros y Ramos, Conde de Folionolfo, último varão da estirpe, vulgo Joanim das Louras. Paz, de que era feito seu sorriso!


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