[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O renascimento de Cela | O POVO
Audifax Rios 01/06/2012

O renascimento de Cela

Retratou principalmente a paisagem nordestina: jangadeiros, vaqueiros, rendeiras
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Num misto de curiosidade e apoio visito o artista plástico Vlamir Souza no antigo Palácio da Luz, atual Academia Cearense de Letras, onde está de braços com uma tarefa de extrema responsabilidade e altamente gratificante: a restauração do mural Abolição da Escravatura no Ceará, de Raimundo Brandão Cela. A tela em questão é datada de 24 de dezembro de 1938 e, tudo indica, este natal foi a ocasião da entrega da encomenda ao então interventor Menezes Pimentel. Sabe-se que a obra foi executada no foyeur do Theatro José de Alencar e Cela contava na ocasião com 48 anos d idade. Havia residido na Europa, principalmente em Paris, e retornara ao Brasil fixando-se em Camocim onde dedicou-se à sua atividade de engenheiro, abandonando temporariamente a arte. Foi quando surgiu a proposta para a execução deste painel alegórico, isto em 1930.


A tela conta, então, com 74 anos a considerar a data ali posta pelo autor junto à assinatura e ao longo desse tempo sofreu, além dos desgastes naturais do tempo, algumas intervenções desastrosas, a última delas grosseira, isto quando o Governo do Estado transferiu-se para o Palácio da Abolição (1963) e o Palácio da Luz foi ocupado pala Casa de Cultura Raimundo Cela que funcionava até então na rua do Franco Rabelo, onde hoje se acha o Centro Cultural Dragão do Mar. E aqui a história brinca com as coincidências.


O quadro, ora em recuperação, mede cerca de quatro metros de base por dois e meio de altura. O chassi é uma peça inteiriça, importada, certamente da Europa. Da temática: é uma alegoria à liberdade dos escravos cearenses: sobre uma jangada a “redentora” Princesa Isabel saúda os negros que vieram agradecê-la e acompanham-na na comitiva oficial pessoas importantes do movimento libertário como José do Patrocínio, João Cordeiro, Maria Tomázia, Dragão do Mar, Isaac do Amaral e outros que procuraremos identificar. O estado da peça é deplorável mas graças à capacidade da equipe restauradora (Vlamir Souza e os discípulos Fabrício, Wagner e Zezé Sales) tudo estará prontinho em julho deste ano. Quando Pedro Henrique Saraiva Leão, presidente da instituição, entregará ao público tão preciosa obra de inquestionável valor artístico e histórico.


Vlamir é filho e neto de pintores; paisagista, retratista, restaurador, desenhista. Não receou a proposta, já havia recuperado outros celas ao longo de sua carreira. Considerou uma honra sua escolha para tão importante tarefa, um desafio mesmo. Até porque tem um carinho especial pelo assunto. Tanto que começou a executar a reforma a partir de um bloco de escravos postados à esquerda da tela.


Cela dispensa comentários. É cearense (Sobral e Camocim disputam o berço) nascido em 1890. Engenheiro, pintor, desenhista, gravador, professor. Estudou com Eliseu Visconti e ganhou prêmio de viagem ao estrangeiro em 1917. Participou do Salão dos Artistas Franceses de 1922. Retratou principalmente a paisagem nordestina: jangadeiros, vaqueiros, rendeiras.


Bom, resta esperar o desfecho, que acreditamos promissor. Numa fase em que a Academia perde tantos valores (cadê a imortalidade?) vê-se, de repente, agraciada com a volta dos personagens de Raimundo Cela que jaziam na penumbra do descaso. E aqui tornamos a nos referir ao patrono da ideia, o poeta Pedro Henrique e aproveitando para agradecer em nome da comunidade artística ao mecenato da Fecomércio na pessoa de Luiz Gastão Bittencourt. E lembrar que tudo foi urdido sob a sombra do Clube do Bode, com o aval do livreiro Sérgio Braga, o pai de chiqueiro mor.

 

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