[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] "Se o governo não interviesse..." | O POVO
Ao Pé da Letra 28/05/2012

"Se o governo não interviesse..."

Em se tratando do padrão formal da língua, a forma adequada é "interviesse'
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O governo acaba de tomar algumas medidas com o intuito de reativar alguns setores da economia que estão um tanto estagnados. Uma dessas medidas resultou na baixa do IPI sobre os automóveis.

Pois bem. No dia em que as medidas foram anunciadas, não faltaram entrevistas com analistas, economistas, executivos etc. Queria-se saber a opinião deles sobre as tais medidas tomadas pelo governo. Numa dessas entrevistas, um executivo disse que, “se o governo não ‘intervisse’, em pouco tempo começariam as demissões de trabalhadores do setor automotivo”.

 

Pois eu lhe pergunto, caro leitor: que me diz da forma “intervisse” (“Se o governo não intervisse”), empregada pelo figurão do mundo industrial brasileiro? Vamos ver como fica isso? Vamos lá, pois. De início, é preciso lembrar que “intervir” vem do latim (“intervenire”) e, ao pé da letra, significa “vir entre”. Em outras palavras, quem intervém se põe no meio, interfere, entremete-se, intromete-se. O verbo “intervir” deriva de “vir” (que vem do latim “venire”) e segue integralmente sua conjugação, o que significa que, se a primeira pessoa do plural do pretérito perfeito de “vir” é “nós viemos”, a de “intervir” é “nós interviemos” (“Não interviemos nessa crise porque isso não nos cabia”). Assim como se diz “viesse” (“se eu/ele viesse”), diz-se “se eu/ele interviesse”, na conjugação do pretérito imperfeito do subjuntivo de “vir” e de “intervir”, respectivamente.

 

Moral da história: em se tratando do padrão formal da língua, a forma adequada é “interviesse” (e não “intervisse”). Nas modalidades cultas da língua, a frase do executivo deveria ser substituída por esta: “Se o governo não interviesse, em pouco tempo começariam as demissões no setor automotivo”.

 

Quero chamar a sua atenção para um fato interessante: sabe qual é a origem do verbo “prevenir”? Esse verbo também vem do latim: “prevenir” vem de “praevenire” (“vir antes”). E como se conjuga o verbo “prevenir”? O presente do indicativo começará com “eu prevenho”? Não é assim, certo? O verbo “prevenir” não segue a conjugação de “vir”, de cuja família etimológica faz parte. “Prevenir” se distancia formalmente de “vir” pela terminação e pelas flexões. Mais uma vez, constata-se que, em língua, certas “racionalidades” não se sustentam. Mais uma vez, o fator uso se mostra inexorável, implacável. Assim como impôs a conjugação de “intervir” com base na de “vir”, o uso nas modalidades cultas da língua impôs forma e conjugação “autônomas” de “prevenir”, embora esse verbo pertença à família etimológica de “vir”.

 

É bom lembrar que o verbo “prevenir” é irregular, já que o “e” do radical (“preven-”) é substituído por “i” em algumas flexões (“eu previno, tu prevines, ele previne, nós prevenimos, vós prevenis, eles previnem”; “que eu previna, que tu previnas, que ele previna, que nós previnamos, que vós previnais, que eles previnam”). Nos pretéritos e nos futuros (do indicativo e do subjuntivo), “prevenir” é regular (“eu prevenirei, tu prevenirás, ele prevenirá...”; “eu preveniria, tu prevenirias, ele preveniria...”).

 

Vale a pena citar um caso oposto ao que acabamos de ver. Refiro-me aos verbos “expedir” e “impedir”, que, embora não derivem de “pedir”, na língua de hoje seguem a conjugação deste (“peço”, “expeço”, “impeço”; “peça”, “expeça”, “impeça”). “Expedir” e “impedir” são da mesma raiz latina da palavra “pé”. Ao pé da letra, “expedir” é “desembaraçar o pé” (“tirar os obstáculos”), enquanto “impedir” é “travar o pé” (“não deixar andar”).

 

Até segunda. Um forte abraço.

Professor Pasquale
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