[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Quando a opção depende do significado | O POVO
Professor Pasquale 21/05/2012

Quando a opção depende do significado

A questão não se resolve pelo simplório conceito de "certo e errado", por isso é bom dizer logo que as duas construções são perfeitamente possíveis
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Na semana passada, tratamos de alguns dos valores de dois modos verbais, o indicativo e o subjuntivo. Vimos que construções como “Um tratamento que cura de dez a doença” e “Um tratamento que cure de vez a doença” são perfeitamente possíveis, já que a opção por uma ou por outra vai depender do plano em que se põe o processo expresso pelo verbo “curar”. Quando se opta por “cura” (do presente do indicativo), põe-se esse processo no plano da certeza (sabe-se que o tal tratamento cura de vez a doença em questão). Com “cure”, o processo é posto no plano da suposição, do desejo, da hipótese etc.


Ocorre a mesma situação neste par de frases: “A comissão está interessada em adotar métodos que aumentam/aumentem a produtividade”. Mais uma vez, a questão não se resolve pelo simplório conceito de “certo e errado”, por isso é bom dizer logo que as duas construções são perfeitamente possíveis. O que se leva em conta para optar por uma ou por outra é o plano em que se quer (ou queira) pôr o processo expresso pelo verbo “aumentar”. A opção por “aumentam” (do presente do indicativo) coloca o processo no plano da certeza, da realidade (é tido ou dado como certo que existem métodos que aumentam a produtividade). A opção por “aumentem” (do presente do subjuntivo) põe no plano da suposição, da hipótese ou da dúvida o processo expresso pelo verbo “aumentar”.


A esta altura talvez seja interessante relembrar um caso que já comentei neste espaço. Trata-se de uma questão do vestibular da Unicamp, em que o problema do emprego do modo verbal (indicativo/subjuntivo) foi abordado sob um aspecto muito interessante. O enunciado da questão era o seguinte: “Quando muito se noticiava sobre a reforma ministerial, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria intitulada ‘Lula sugere que Walfrido e Agnelo ficam’. Considerando as relações entre as palavras que compõem o título da matéria, justifique o uso do verbo ‘ficar’ no presente do indicativo”.


Vou logo avisando que a solução do problema proposto pela Unicamp não é semelhante à que discutimos na semana passada e no início deste texto. No título jornalístico citado pela Unicamp, estão em jogo algumas sutilezas que não podem ser ignoradas. Uma delas diz se refere ao significado de “sugerir”. Quando se diz algo como “Sugiro que você leia livros mais importantes”, o verbo “sugerir” significa “fazer uma sugestão”, “propor”, “aconselhar”, “alvitrar”. Pois bem. O fato de Pedro sugerir a João que leia livros mais importantes não garante que João os lerá. O ato de ler livros melhores, portanto, é posto no plano da hipótese, da possibilidade, o que explica o emprego do modo subjuntivo (“que leia”).


Se no título jornalístico destacado pela banca da Unicamp a forma “ficam” fosse trocada por “fiquem” (“Lula sugere que Walfrido e Agnelo fiquem”), o verbo “sugerir” teria o sentido que já vimos, ou seja, o de “propor”, “fazer sugestão” etc. Dessa maneira, dir-se-ia que o presidente propunha a permanência de Walfrido e Agnelo no ministério. A decisão (ficar ou não ficar) estaria nas mãos dos “convidados”, ou seja, de Walfrido e Agnelo. No título efetivamente publicado, a flexão empregada é mesmo “ficam”, o que muda tudo. O uso dessa forma verbal (do presente do modo indicativo) dá ao verbo “sugerir” o significado de “dar indícios”, “deixar vazar”, “dar pistas”, “dar sinais”. Em alguma situação, o ex-presidente Lula deve ter sugerido, isto é, deve ter dado a entender que os dois ficariam no ministério. Até segunda. Um forte abraço..

 

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