O POVO LOUNGE 19/01/2018 - 14h05

A icônica Poltrona Mole de Sérgio Rodrigues completa 60 anos

Seis décadas após sua criação, a Poltrona Mole de Sérgio Rodrigues continua sendo um dos maiores ícones da história do design brasileiro
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Hamlet Oliveira hamlet.oliveira@opovo.com.br
DIVULGAÇÃO/LOJA OUVIDOR

Quebrando padrões formais, trazendo conforto para seus donos e fugindo da estética européia vigente na época. Estas são apenas algumas das influências da Poltrona Mole. Criada em um período onde o design brasileiro ainda não possuía grande reconhecimento no mercado, a invenção do carioca Sérgio Rodrigues (in memorian) veio para modificar a forma com que se percebia os produtos nacionais. Em 2017, a peça celebra 60 anos de sofisticação e segue como referência do trabalho de seu criador.

A concepção original foi feita a pedido do amigo de Rodrigues, Otto Stupakoff. O objetivo do fotógrafo era possuir um mobiliário em que pudesse jogar-se e se sentir confortável a todo instante. Para tanto, o designer, que, se vivo, completaria, 90 anos de vida em 2017, produziu uma peça feita em madeira maciça, onde o estofo único era segurado por tiras de couro, capazes de amaciar o tronco, o quadril e os braços de quem sentasse.

“A Poltrona Mole, na minha humilde visão, continua sendo uma peça de desejo porque ela criou uma originalidade muito forte. Ela trouxe características que na época não se tinha nos produtos brasileiros. No período, consumia-se móveis muitos formais, muito clássicos, com características muito estrangeiras”, explica Alexandre Jereissatti, diretor da loja Ouvidor Interiores. No local, essa obra de Sérgio - incluindo uma edição comemorativa da poltrona, numerada e com apenas 60 exemplares produzidos - é um dos itens que figura no catálogo de vendas.

Como o conforto é uma das principais características da poltrona, Alexandre garante que a peça não é um móvel de descarte, sendo um modelo que perdura por décadas, sempre mantendo um preço elevado para venda. Ele atribui isso ao “valor percebido” que a poltrona possui graças à qualidade do design de Rodrigues. “Ele levou o nome do Brasil para um nível mais alto do design. Conseguiu deixar o móvel brasileiro para reconhecimento do mercado mundial. Abriu nossas portas. É nosso designer mais conhecido lá fora. Não é uma peça de escultura, que a pessoa olha e é pra ser uma obra de arte. A poltrona é para ser consumida”, avalia.

A visão de Alexandre é reforçada por Alberto Gadanha, sócio-professor da Opa! Escola de Design. “A Poltrona Mole representa uma abordagem muito mais amigável do mobiliário, que vai ao encontro ao pensamento ‘é uma poltrona de design’, com estilos muitos loucos. Ela é um convite a você ficar à vontade, sentar nela e equilibrar o braço”.

FOTO: DIVULGAÇÃO/INSTITUTO SÉRGIO RODRIGUES

Legado
A importância de Sérgio Rodrigues para o design brasileiro é senso comum entre estudiosos da área. Professora do curso de Design da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lia Alcântara pondera que o carioca foi fundamental para o Brasil conseguir sua própria identidade no mercado internacional. “Sérgio foi um dos primeiros designers a pensar na identidade do mobiliário brasileiro, acompanhado por Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi. Essas pessoas investigaram essa ‘cara’ do móvel brasileiro em um contexto no qual o que vendia era cópia do mobiliário europeu. O seu legado está claramente identificável nos móveis do Zanini de Zanine, do Gustavo Bittencourt, designers muito jovens, que fazem um mobiliário atual, de altíssima qualidade, buscando a calidez da madeira, o indiscutível apuro nos acabamentos, na junção de materiais, da mesma forma que o Sérgio fazia”.

Apesar de hoje possuir um vasto reconhecimento, a Poltrona Mole não foi bem-sucedida comercialmente na época de seu lançamento. Demorou anos até que a sua relevância fosse esclarecida para o grande público. Em sites de vendas, é possível encontrar exemplares originais, construídas em madeira Jacarandá, com valores superando os R$ 15 mil, a unidade.

A qualidade da Poltrona Mole já foi atestada pelo Concorso Internazionale Del Mobile de Cantú, em 1961, na Itália, e hoje figura no acervo do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo, e do Museu de Arte Modera (Moma), em Nova York. “Todo móvel de design consagrado e de boa qualidade perdura uma vida inteira. Assim como Mies van der Rohe e Le Corbusier, que produziram peças no começo do século XX e até hoje são admiradas e utilizadas mundo a fora, Sergio Rodrigues é conhecido como um dos designers brasileiros a ter móveis reconhecidos e comercializados mundialmente”, enfatiza o arquiteto Rodrigo Maia.

Ambientes
Por ser um produto cujo conforto é o ponto principal, a Poltrona Mole cabe, contanto que não fique sob ação direta do sol, em praticamente todos os ambientes da casa. “Ela vai bem do escritório ao home theater. É uma excelente poltrona de leitura para um dormitório, casa bem com um ambiente sofisticado e adequa-se perfeitamente a espaços mais descolados, informais. A Mole é um mobiliário coringa: empresta sua personalidade marcante para qualquer ambiente”, explica Lia Alcântara.

SÉRGIO RODRIGUES
Contemporâneo de artistas como Oscar Niemeyer e José Zanine Caldas, Sérgio Rodrigues completaria 90 anos em 2017. Sobrinho do dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues, durante toda sua carreira buscou trazer um aspecto de brasilidade para suas produções. O arquiteto Lúcio Costa, um dos mentores de Rodrigues, disse que as obras do pupilo resgatavam características do Brasil indígena. Em referência a isso, a loja aberta em Ipanema pelo designer foi batizada de “Oca”.

Além da Poltrona Mole, móveis como a Poltrona Chifruda e a Poltrona Diz ganharam destaque no mercado do design. Ao lado de Oscar Niemeyer, produziu móveis que fizeram parte da construção de Brasília. A parceria com o amigo, inclusive, rendeu a produção da Poltrona Oscar, em sua homenagem.

OUTRAS CRIAÇÕES

FOTO: DIVULGAÇÃO

Banco Mocho
Criado em 1954, foi uma das primeiras obras do arquiteto. De acordo com Sérgio, a inspiração veio de uma mulher tirando leite de uma vaca, no interior.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Cadeira Gaia
Por anos, a cadeira foi apenas um esboço de Sérgio, que nunca a construiu em vida. Após sua morte, seu primo e designer Fernando Mendes deu vida ao projeto do artista.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Poltrona Chifruda
Uma das referências quando se fala em Sérgio Rodrigues, o móvel também é conhecido como “aspas chifruda” e foi criado em 1962.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Poltrona Vivi
Também lançada em 1962, a poltrona é uma homenagem à Vivi Nabuco, importante personalidade da época no Rio de Janeiro. Como a Poltrona Mole, a peça preza pelo conforto como principal característica.

FOTO: DIVULGAÇÃO

Poltrona Benjamin
Considerada pelo próprio Sérgio como uma síntese de toda a sua obra, a peça foi desenvolvida por anos, até ser lançada em 2014, ano de falecimento do arquiteto. O projeto foi criado em parceria com Sérgio Mendes.

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