Até poucos anos atrás, era comum ver compositores como Beethoven, Johann Sebastian Bach e outros nomes clássicos da música erudita mundial sendo entoados pela Orquestra Filarmônica do Ceará. Com os olhos e instrumentos fitos nos grandes compositores europeus, o grupo passou anos realizando apresentações com o gênero musical. De dois anos pra cá, entretanto, uma mudança ocorreu: Elvis Presley entrou para o repertório, bem como Tim Maia, Os garotos de Liverpool. Até mesmo o Iron Maiden já ganhou uma apresentação especial da orquestra.
Em maio de 2018, a Orquestra Filarmônica do Ceará celebra 20 anos de trajetória, todos regidos pelo maestro Gladson Carvalho, discípulo de Eleazar de Carvalho. Habituado a transitar no mundo musical desde a infância, foi durante um curso no Serviço Social da Indústria (Sesi) que Gladson teve o primeiro contato com a regência. Após a o curso de formação para músico de cordas, o cearense já passou por Jericoacoara (CE), João Pessoa e outras cidades brasileiras, criando orquestras diferenciadas. Ao todo, já deu vazão a oito grupos semelhantes.
A motivação para fundá-la surgiu ao buscar espelhar a capital cearense em outras grandes metrópoles mundiais. “As orquestras representam seu povo, sua capital. Cada grande capital tem sua orquestra - Berlim, Nova York, São Paulo - como ícone maior da memória de um povo. A orquestra representa o apogeu da cadeia cultural dos povos e a nossa é a mais antiga em atuação no Ceará. E não temos oficialmente apoio do Estado”, conta Gladson. O apoio do poder público é o que diferencia uma orquestra filarmônica (sem apoio), de uma sinfônica (com apoio).
Espaço de aprendizado
Atualmente contando com 50 membros, a Orquestra Filarmônica do Ceará vai além de um conjunto: ela é espaço de aprendizado para seus integrantes. Gladson conta que participantes antigos, atualmente, tocam na Europa ou em outras orquestras espalhadas pelo Brasil. Com dez anos de Orquestra Filarmônica do Ceará, Victor Thierry, tubista e assistente de maestro, relembra com admiração os primeiros anos de contato com Gladson e o grupo. “Convidaram-me para um ensaio, onde o maestro me recebeu super bem e abriu as portas da orquestra para que eu pudesse conhecê-la e adquirir conhecimento. Minha experiência prévia era com banda do Colégio Militar de Fortaleza (CMF), onde estudei. Na Orquestra, tenho um contato com a arte”, diz.
Victor não atua apenas como músico no grupo e já comandou a orquestra em duas oportunidades. Em uma das apresentações, realizadas no município de Crateús, Victor apresentou as canções para um público estimado de 20 mil pessoas, segundo Victor, um dos momentos mais marcantes de sua carreira. “Hoje, sou professor de música, de iniciação musical e, nas horas complementares, ajudo o maestro na produção e arregimentação dos músicos. Essa foi a carreira que consegui trilhar e a Filarmônica representa 80% de tudo que sou e aprendi no âmbito artístico musical. É algo que vou levar para sempre na minha vida.”
Apesar de exaustivas, sobretudo as preparações, Gladson avalia que as duas óperas foram obras de grande relevância para a memória artística cearense. “Uma ópera é o apogeu, o ápice de uma orquestra e utiliza cenários, atributos, artefatos de várias artes juntas. Drama, teatro, arquitetura, canto lírico... É a união de muitas artes numa só. Requer muita energia física e mental, ensaios e muito estresse, mas é uma experiência fantástica”.
Futuro
Gladson tem uma visão clara de como gostaria que fosse o futuro da Orquestra Filarmônica do Ceará. Com o trabalho já consolidado, para o maestro, o momento agora seria de transcender os conhecimentos dos músicos para crianças carentes. Gladson planeja “adotar” 500 crianças, dez para cada músico - eles ficariam responsáveis por ensinar a elas tudo o que sabem sobre o mundo da música.
Para que a iniciativa tenha início, o maestro procura apoio do poder público ou de entidades particulares que estejam dispostas a financiar o projeto. A ideia é ter um prédio exclusivo para as atividades da Orquestra, onde ocorreriam os ensaios e as aulas para as crianças. “Na hora em que eu conseguir o espaço, a gente inicia. Já temos os instrumentos, os músicos, as crianças. Falta só o prédio para começarmos. Temos algumas promessas, mas nada concretizado. Estamos abertos a parcerias”, finaliza.
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