O POVO


Projeto de lei

"Contra a arte não tem quem possa se manifestar", diz deputada Silvana

29/06/2016 | 17:18

A deputada Dra. Silvana (PMDB) afirmou, em entrevista à Rádio O POVO CBN (FM 95.5 AM 1010), nesta quarta-feira, 29, que o Projeto de Lei Nº 147/16, que tramita na Assembleia Legislativa do Ceará, lembra "o que é o direito de todas as pessoas". A proposta apresentada pela deputada prevê multa de R$ 370 mil a quem realizar manifestações artísticas que promovam a "satirização, ridicularização ou toda e qualquer forma de menosprezar dogmas e crenças de toda e qualquer religião". Ainda assim, ela diz que "contra a arte não tem quem possa se manifestar".
 
"Se todas as pessoas tivessem bom senso, esse projeto não era nem pra ser necessário. Eu defendo os valores que são éticos, que tornam a sociedade aceitável e numa livre convivência com todas as pessoas", disse em entrevista ao programa O POVO no Rádio. "E eu ainda tive o cuidado de proteger toda e qualquer fé. Você não é obrigado a ser evangélico como eu, mas você tem a obrigação de me respeitar e não pode me vilipendiar, nem menosprezar, pelo que eu acredito".
 
Silvana disse ainda que, nos últimos anos, o movimento LGBT começou a utilizar de símbolos religiosos sagrados como objeto de luta e "de utilização para o ódio". Ela completou dizendo que isso tem "barbarizado" o mundo.
 
"A beleza da arte é extremamente outra coisa. A beleza de se comunicar é extramente o oposto de ofender, vilipendiar", continua a deputada evangélica. "Seja engraçado sem ferir a minha liberdade, a minha consciência de fé. Veja que esse limite tênue é um limite artisticamente compreensivo quando você cita a arte. Contra a arte não tem quem possa se manifestar. A arte é bela".

A deputada afirmou que está "aberta a fazer alterações" no projeto. Ouça a entrevista completa com a Dra. Silvana à Rádio O POVO CBN.
 
Histórico de opressão 

Para o bispo Alan Luz, da inclusiva Igreja Filhos da Luz, a igreja evangélica é, historicamente, uma das mais opressoras, no mundo, de outras religiões. "A lei soa como um tiro no pé. E as igrejas evangélicas que ofendem as igrejas católicas e religiões africanas?", questiona. "Nós temos a bancada evangélica que não respeita sequer outra religião". Assim como a deputada, o bispo da igreja inclusiva é evangélico.

"Independente da questão religiosa, creio que hoje as pessoas pecam, erram, por acreditarem que elas tem uma procuração de Deus na Terra. Acima de qualquer coisa nós vivemos em um País laico", continua. "Não sei como evangélicos que se dizem políticos, e também alguns católicos conservadores, se sentem nesse direito de representar Deus. Jesus respeitou todas as religiões. Ele não tirava o acesso à liberdade de ninguém. Fico muito estarrecido. Sou cristão, sou evangélico. Mas esse fundamentalismo religioso não me representa porque não é bíblico".
 
Para ele, faltam projetos que beneficiem crianças e idosos, além de propostas que estimulem educação e cultura. "Esse projeto vem provar o quanto de despreparo os nossos políticos têm hoje para governar", afirma.
 
Em outubro do ano passado, o bispo foi vítima de um atentado. O carro dele foi alvejado por uma bala, no momento em que parou em um semáforo, na Avenida dos Expedicionários. "Os próprios fundamentalistas estão interpretando a Bíblia de forma errada para disseminar o ódio contra o público LGBT. Ao longo dos anos, objetos religiosos foram usados para massacrar, para matar os LGBTs".
 
Redação O POVO Online