Cotidiano
Se você tivesse o poder de redesenhar a cidade onde mora, como a planejaria? O que faria, por exemplo, para otimizar a mobilidade urbana? Como diminuiria a dependência dos automotores para longos deslocamentos diários? Retirar carros das ruas seria a forma mais viável de eliminar os engarrafamentos e garantir uma cidade mais harmoniosa e habitável? Buscando mais sustentabilidade, cidades estrangeiras como Oslo, na Noruega, cogitam abolir o uso do carro nos centros históricos e, a partir disso, dobrar os investimentos em transporte público. Fortaleza poderia seguir o mesmo rumo?
Planejamento. Adensamento de bairros reduz necessidade de viagens longasDo carro para o ônibus. Como estimular a troca?
A capital cearense tem uma frota de pouco mais de um milhão de veículos (1.037.880), entre automóveis, caminhões, motocicletas, ônibus e outros, segundo os dados mais recentes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE). Em paralelo, a estrutura que o Município dispõe para locomoção por outros modais ainda é imatura se comparada aos quilômetros de tapetes asfálticos que priorizam os automotores. Mas isso está mudando.
Há, atualmente, de alternativa ao deslocamento em carro: 96,6 km
de faixa exclusiva para ônibus e táxis; 145,2 km de malha cicloviária (88,2 km de ciclovias e 60 km de ciclofaixas); uma linha de metrô (24,1 km de extensão) e outra de Veículo Leve sobre Trilhos (com 19,5 km).
Como consequências da quantidade de automotores, Sabóia cita aumento da poluição, sobrecarga do sistema de saúde (em virtude dos acidentes) e perdas econômicas e de apropriação dos espaços públicos.
Por isso, é tendência na Capital e em outras cidades orientadas pelo capitalismo que, cada vez mais, as pessoas deixem de ser proprietárias das coisas e passem a ser usuárias. Quem traça essa linha é o arquiteto e urbanista Fausto Nilo. “Quando se falou pela primeira vez em carro compartilhado, todo mundo achou que seria loucura, mas está crescendo mais do que se esperava”, diz. Ele comenta que isso já começou a acontecer na indústria cultural, com compartilhamento de música via streaming.
Para possibilitar a redução do uso do carro particular, faz-se necessária a oferta de uma rede de transporte rápida, acessível, segura e previsível. Além disso, precisariam ser adensadas (ou arrochadas) zonas urbanas, a fim de diminuir a extensão dos deslocamentos entre casa e trabalho/estudos.
O professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Felipe Loureiro, não acredita que o carro seja abolido da Capital, mas defende que o redesenho do trânsito tem de ser feito a partir de negociação. “A gente acredita muito no planejamento que parte dos problemas que estão sendo vivenciados pela população, envolvendo seus diversos atores”.
O arquiteto e urbanista Abner Augusto também considera crucial não atropelar etapas e ouvir os anseios de todos os envolvidos, antes de tomar atitudes. Ele cita o especialista inglês em mobilidade, Alan Penn, que busca o ideal de que “todos possam ter um carro, mas não tenham a necessidade de usá-lo na maior parte do tempo”.
Números
1 mi é o total aproximado de veículos
da frota de Fortaleza ao final de 2015. Os dados são do Detran-CE
96,6
km é a extensão das faixas exclusivas
para o transporte coletivo em Fortaleza, conforme a Secretaria da Conservação
Saiba mais
69,4 mil veículos foram acrescentados à frota da Capital em 2015, segundo o Detran-CE.
A próxima etapa para tornar atraente o ônibus é diminuir as lotações nos horários de pico.
216 km de malha cicloviária é a meta que a Prefeitura de Fortaleza estipula até o fim de 2016.
Multimídia
Veja vídeo sobre o assunto:
www.opovo.com.br/videos
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