Perpétua sentença
(Ítalo Lima)
Foi um frio na espinha
Foi assim, de um jeito estranho
Que eu descobri a tua partida
O teu adeus eu guardei
No velho porta-retrato
Doeu pra caralho
Sentir a solidão ardendo a pele
Eu me fiz de forte
E estanquei em carne viva
A sutura do teu desaparecimento
A cartomante já havia previsto
O desenlace inevitável eu ignorei
Mesmo banhado de sangue
Preferi acreditar naquela velha
História cármica de dois corpos eternos
Interligados pelo mistério cósmico
Do bater de asas
De uma borboleta no Japão
Eram cinco da manhã
Quando implorei em vão
Pelo teu arrependimento cínico
Eu pedi pra você voltar
E você me disse de um jeito sério
Que minha pele não é mais
Abrigo para o teu tato árduo
E eu me vi sem chão
Sem atrito, sem toque
Sem teus dedos cálidos
Procurando meu arrepio
Eu ignorei as minhas avenidas
E num atropelo que mata
Eu me vi atingido
Desfalecendo pálido no asfalto
Chamando em vão pelo teu abrigo
O pedaço teu de carne presa
No meu dente diz muito
Sobre a indigestão que carrego
Vou fluindo patológico
Com meus tumores
Respirando rarefeito
Tateando teu olhar inquieto
Procurando os meus
Sangrando em agonia
E vagando perdido
Para sempre no espaço
Chamando teu nome.