O POVO


Espaço O POVO de Cultura & Arte

Lançamento do livro 'Soldados da Borracha' emociona familiares de sobreviventes

19/02/2016 | 22:49

O Espaço O POVO de Cultura & Arte reuniu dezenas de pessoas para o lançamento do livro Soldados da Borracha: Os Heróis Esquecidos, na noite desta sexta-feira, 19, e proporcionou momentos de emoção para familiares de sobreviventes da época. O encontro teve a mediação do jornalista do O POVO, Demitri Túlio, e contou com a participação do idealizador do projeto, o cineasta Wolney Oliveira, e uma das autoras da obra, a jornalista Ariadne Araújo, além da pró-reitora de extensão da UFC, a professora Márcia Machado.

Dois familiares de soldados da borracha cearenses estiveram presente no Espaço O POVO de Cultura & Arte. Criado pelo avô Raimundo Cláudio da Costa, que trabalhou na retirada de látex na Amazônia, o major da Polícia Militar do Ceará, Belline Silva, diz se emocionar quando vê a história sendo retratada.

"Ele contava muito sobre esse momento. Gostava de nos incentivar contando a vida dele, o quanto sofreu, para estudarmos. É uma lembrança muito profunda dele", contou Belline. O avô do militar faleceu em 2006, no Ceará. Por causa do trabalho no seringal, o avô ficou 40 anos longe do Estado.

Filha do soldado da borracha Jorge Malveira, 97, Lene Malveira conta que até hoje o pai relembra histórias vividas no seringal. "É muito emocionante. Todas as vezes que vamos visitá-lo em Limoeiro do Norte, sentamos com ele. Não tem uma vez que ele não trate desse assunto. Todo mundo tem que ouvir. Sempre tenho interesse por esse tema, leio e me emociono. Estou bastante emocionada", relatou ela.

Soldados da Borracha: Os Heróis Esquecidos

O livro resgata a história dos homens enviados à Amazônia para trabalhar na retirada de látex, fornecida aos Aliados na Segunda Guerra Mundial, com textos de Ariadne e do historiador Marcus Vinícius. Com a falsa promessa de se tornarem heróis de guerra, milhares de nordestinos embarcaram nesta viagem sofrida. Viraram escravos e tiveram que sobreviver a doenças, como a malária, a ataques de indígenas, a picadas de cobra e até a caça de onças.

A arregimentação dos soldados da borracha funcionou de 1942 a 1945 e teve sede em Fortaleza. Cerca de 30 mil cearenses estiveram sob o poder dos seringalistas na Amazônia, segundo o idealizador do livro, que também está concluindo o documentário 'A Guerra da Borracha', no qual retrata a luta dos sobreviventes por reconhecimento e depoimentos.

Para a jornalista Ariadne, que escreveu um caderno especial para O POVO, em 1998, sobre os Soldados da Borracha, o mais desafiador em retomar a história foi reencontrar os sobreviventes e perceber a partida de outros personagens. “Todo ano, a gente recebe a notícia que alguém desapareceu. Foi desafiador contar a história dessas pessoas que desapareceram. Essas pessoas querem muito contar essa história, querem reconhecimento", comentou ela.

Ariadne ficou encarregada de narrar a parte histórica, do momento vivido na Segunda Guerra Mundial, da arregimentação em Fortaleza, e contar as histórias de vida dos soldados da borracha. Já o historiador Marcus Vinicius escreveu a segunda parte do livro, retratando a situação de aposentadoria dos personagens e a luta política de conseguir seus direitos. "Fiz uma promessa de ir o mais longe possível nessa história. O livro não é o último produto que vamos fazer. Tem mais coisas para fazer. Da minha parte, quero acompanhar a história dessas pessoas até quando eu puder", disse Ariadne.