[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O "eu te amo" que faltava O POVO
TV pop 05/02/2014

O "eu te amo" que faltava

"A cena final tem poder de transformação muito maior do que o beijo tão temido pelos conservadores"
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Émerson Maranhão emerson@opovo.com.br
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Walcyr Carrasco garantiu que surpreenderia com o final que havia imaginado para Amor à Vida. E assim o fez. Houve de fato o beijo entre dois homens, pioneiro em novelas na Rede Globo. E o folhetim poderia ter acabado nesta sequência, com Niko (Tiago Fragoso) despedindo-se de Félix (Mateus Solano) para ir trabalhar, numa demonstração de normalidade e afeto raros ao se retratar pares do mesmo sexo na teledramaturgia brasileira. Já teria feito história. Mas Walcyr foi além.


Para um espectador mais atento, ficou evidente a ausência do “Eu te amo” na troca de declarações entre o casal apaixonado. O máximo que se ouviu foi um “Você mudou a minha vida” aqui e um “Eu não vivo sem você” acolá. O que poderia ter sido um sinal de excesso de pudor ou zelo com a audiência mais conservadora, na verdade revelou-se uma ousadia ainda maior. A novela terminou, sim, com a tradicional troca de declarações de amor, mas ela se deu entre pai e filho, entre César (Antonio Fagundes) e Félix, verdadeiros protagonistas da trama.


Na coluna da semana passada, apontei que a questão central que moveu Amor à Vida foi o embate entre a idealização do filho e a opressão da figura do pai e suas consequentes insatisfações para ambos. “Amor à Vida é uma reflexão sobre como a opressão da figura paterna tem poder de condenar à infelicidade. É esta tensão entre a idealização do filho e a frustração de não atender à expectativa do pai que move a maioria das tramas de primeiro escalão”, comentei.


Na belíssima sequência que encerrou a novela este conflito dramático é explicitado. Último nó a ser desatado na trama, César, o pai homofóbico, finalmente aceita o amor do filho homossexual, Félix. E este, encontra no amor e devoção ao pai a redenção e expiação de seus fantasmas. Enfim, ele, o pai, o vê como filho, e a ele passa a destinar seu amor, objeto de desejo desde o primeiro capítulo. A cena é arrebatadora e com poder de transformação infinitamente maior do que o beijo tão temido pelos tais conservadores.


A razão de tamanho poder revolucionário e provocador de emoção é a capacidade da aceitação das diferenças, do amor incondicional que supera preconceitos, da compreensão do outro para além do seu desejo e universo de referências. O final de Amor à Vida comoveu tanto porque no fundo é isso que todos queremos. E pode atirar a primeira pedra quem nunca sentiu falta do amor do pai e não se viu representado nesta sequência.


Por falar nela, a cena final da novela é uma delicada homenagem ao clássico do cinema Morte em Veneza, dirigido pelo italiano Luchino Visconti e lançado em 1971. Muito do universo de referências visuais da cena da morte do compositor Gustave Aschenbach (Dick Bogarde) no filme foi usado na sequência final da novela (cadeiras de praia, chapéu Panamá, por do sol com o mar ao fundo etc). Além disso, autor e diretor do folhetim recorreram à mesma trilha sonora do filme, o belíssimo Adagietto da 5ª Sinfonia, de Gustav Mahler. O resultado foi encantador.


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