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Um CD gravado mas só lançado três anos depois comprova a dificuldade em fazer com que bons trabalhos cheguem ao público. Por vezes, o lançamento sozinho é de pouca valia para levar tais obras aos ouvidos dos amantes da boa música brasileira. Com o avanço tecnológico, a gravação de um CD tornou-se coisa não muito complicada. A coisa pega quando se parte para fazer com que o disco chegue à mídia... Imaginar que novos lançamentos, ainda que de altíssima qualidade, serão tocados nas rádios ou levados às TVs é evidência de ingenuidade.
Toda esta introdução para dizer que Teroca é um grande sambista e compositor. Araraquarense cujo nome de batismo é Marcelo Longo Vidal, ele tem nas veias o micróbio do samba. Isso se constata logo nas primeiras audições do seu segundo disco, Elos do Samba (independente), gravado em 2010 e agora lançado.
Sambista radicado desde sempre em Araraquara, interior de São Paulo, Teroca (www.teroca.com.br) é pouco conhecido para além da região onde nasceu. Ainda assim, tem o respeito e a admiração de bambas cariocas e paulistas. Bambas como Monarco, Wilson Moreira, Délcio Carvalho, Zé Luiz do Império Serrano, Fabiana Cozza, Maria Martha, Carmen Queiroz, Dona Ináh, Luiz Grande, Chapinha e Bob do Império, por conhecerem o dom de Teroca, se dispuseram a compartilhar com ele seus belos sambas.
São quinze faixas, todas compostas por Teroca. Dessas, quatro são cantadas apenas por ele; cada uma das outras tem a participação especial de um dos nomes acima. São várias as formas de samba que Teroca compõe: sambas de roda, partido-alto, sambas de quadra e de terreiro, sambas-exaltação, samba-xote, sambas dolentes, samba-canção. Suas letras tanto são românticas quanto brejeiras. Mas o que mais qualifica suas composições é quando ele se vale de tons menores para criá-las. É um craque nisso. Esse recurso, aliás, em suas sábias mãos equivale ao diamante na ourivesaria – requinte e fortuna.
O CD começa com Fabiana Cozza cantando a capella “Filho de Ogã”. Logo o samba de roda vem puxado pelos tambores. O coro come. Nada mais brasileiro. Contagiante.
Em “Correnteza”, os versos finais dizem: “Se ficar pela margem/ Aguardando coragem/ Pode ser que a vida se decida não reservar/ As surpresas que trazem / O prazer da passagem/ O futuro é o presente que a gente quer alcançar”. Zé Luiz do Império Serrano canta a melodia entristecida por um tom menor, mas de uma beleza ímpar.
Maria Martha canta magnificamente “N’Oitis”, um samba lento em homenagem a Araraquara. Com a introdução tocada por clarinete e violão, na segunda vez o sete cordas puxa o ritmo com seus bordões.
“Serenidade” parece um samba escrito especialmente para a voz suave de Délcio Carvalho. A flauta inicia. A delicadeza chega pela garganta desse grande compositor e intérprete que é Délcio Carvalho. O samba segue malemolente.
Os belos sambas de Teroca representam o gênero que, para ser coisa nossa, independe do lugar onde é criado.
Elos do Samba, disco do sambista Teroca com participações
Faixas: 15Selo: independente
Mais informações: www.teroca.com.br
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