Entrevista 17/03/2016 - 15h40

Sabor e afeto

Quando a vontade de empreender vem de família, o resultado não pode ser diferente do sucesso. E assim foi para Irene Macedo, empresária caririense com muita história para contar
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Lua Santos lucianasantos@opovo.com.br
Mateus Monteiro

Quem vê o rosto sorridente de Irene Macedo nem imagina que ela é do tipo que não para um instante. Mas basta um olhar um pouco mais observador para notar que por trás do sorriso, há uma mente em constante ebulição. Sempre com novas ideias e projetos para criar no Cariri, Irene é, antes de tudo, uma empreendedora por natureza.

Filha de empreendedores – seus pais criaram um dos bares mais conhecidos da região, o Pau do Guarda, que hoje não existe mais –, Irene cresceu observando na prática o que era ter um negócio. E parece ter tomado gosto pela coisa. A vocação é de família, e também o gosto pela perfeição, uma de suas características mais marcantes. Em entrevista a O POVO Cariri ela fala sobre herdar o tino para os negócios e pela gastronomia e conta os planos para o futuro.

 De onde você acha que vem sua “veia empreendedora”?
Eu puxei meus pais. Papai sempre foi muito visionário, e mamãe, muito empreendedora. Papai era tão visionário que, na época em que ele criou o Pau do Guarda, em [19]55, a cidade do Crato não tinha energia própria. A energia era da nascente e só iluminava o Crato até dez da noite. E o papai, já com a visão de que o comércio dele ia prosperar, comprou um gerador. Minha mãe, apesar de não ter muito estudo, tinha uma vontade de empreender. Naquela época, ela já se preocupava com a apresentação do que ia servir.

 Por que a ideia de abrir um Bistrô no Crato?
A minha ideia de montar o bistrô [Viledo Bistrô] foi que eu queria montar uma casa mais intimista, menorzinha, em que as pessoas tivessem a possibilidade de chegar a um ambiente bacana, aconchegante. Que ela não viesse só comer, beber e depois ir embora. O bistrô veio com a proposta de ser um ambiente para desacelerar e as pessoas curtirem mais.

 O caririense é aberto a novas experiências gastronômicas, a provar pratos diferentes como carne de rã e apreciar vinhos mais elaborados?
A região do Cariri cresceu muito, foi um boom nesses últimos cinco anos. E o pessoal tem viajado muito. A cada dia, nosso público tem ficado mais exigente. Então o bistrô foi exatamente para isso, com a proposta para que esse pessoal que gosta do novo, de se aventurar, chegasse e pedisse sem medo.

 E sua vontade de cozinhar, a paixão pela gastronomia, como surgiu?
Minha mãe foi a minha inspiradora. Ela sempre foi muito exigente. Ela era a chefe da cozinha: ela tinha várias auxiliares, mas ela não saía de dentro da cozinha. E essa questão de eu gostar de criar, a minha criatividade vem da minha mãe. Porque minha mãe pegava dois ovos, um pedaço de cenoura e tomate e fazia um senhor almoço. Então, eu tenho isso dela, essa questão de gostar de ir para a cozinha.

 E de onde vem a inspiração para os novos negócios?
Eu sempre gosto de viajar, São Paulo é meu termômetro. Em todo projeto que eu penso, eu sei o que quero, mas quando vou montar, eu não deixo de ir a São Paulo para conhecer os melhores bistrôs, melhores restaurantes. Assim foi com o Central Gourmet. Quando fui montar o self-service, fui aos melhores de São Paulo e de Fortaleza. E em termos de ambientação de projetos, eu sempre fui para fora [do Cariri] para ver o que está acontecendo. Não só a ambientação, mas para ver o que está acontecendo em termos de comida, um tempero diferente, um preparo diferente.

 E como você consegue conciliar as funções de empresária, chef, mãe e filha?
Minhas filhas me cobram muito a cada projeto novo. “Poxa, mãe, a senhora não tem mais que estar fazendo nada!”, elas dizem. E eu sempre falo para elas que eu nasci com essa missão, eu nasci para proporcionar uma boa alimentação para a humanidade. É claro que a gente tem que ter jogo de cintura para conciliar tudo, mas eu não deixo de fazer minha academia, de ler meus livros, de viajar.

 Na sua visão de empresária, por que a região do Cariri tem atraído tantos empresários e investidores?
Eles descobriram que aqui ainda tem muito que se explorar. A região em si já é favorável por que nós temos bons investimentos na parte de calçados, do ouro propriamente dito, as universidades... Então, a região do Cariri despertou exatamente por isso, pelo universo dessa diversidade.

Quais seus planos de investimentos no Crato, Juazeiro, enfim, no Cariri?
Eu tenho ainda muita vontade de montar outros negócios. Quero montar uma cafeteria, mas que não seja só aquela cafeteria que a pessoa chega, toma um café e vai embora. Essa cafeteria, eu queria que fosse uma extensão de uma universidade, de um trabalho, uma extensão de um lazer que você pudesse ir para tomar seu café, fazer uma leitura, bater um papo e se sentir bem. Também ter um pão legal para você levar pra casa. É isso. 

 Outros empreendimentos
A paixão de Irene Macedo por gastronomia é tamanha que ela já lançou três empreendimentos, todos voltados para o segmento. São eles:

 Central da Picanha
O primeiro restaurante de Irene Macedo conta com dois estabelecimentos: um em Crato e outro em Juazeiro do Norte. Como o nome indica, o carro-chefe da casa são os cortes de carne, muito bem acompanhados com opções como baião-de-dois do tipo molhadinho, paçoca e macaxeira.

 Central Gourmet
Localizado em Juazeiro do Norte, o Central Gourmet é um self-service que agrada os paladares mais exigentes. No buffet, é possível escolher desde pratos regionais a frutos do mar, passando por opções vegetarianas.

 Viledo Bistrot
Um local perfeito para apreciar um bom vinho e uma boa comida. Localizado no Crato, o bistrô traz opções de carnes diferenciadas, como o pato, e uma extensa carta de vinhos pensada de forma a harmonizar com os pratos servidos. 

 A história do famoso Pau do Guarda
Em 1955, no Cariri, foi criado um dos restaurantes mais icônicos da região e que seria um dos principais responsáveis pelo amor de Irene Macedo pela gastronomia. O Bar Tabuleiro, criado por Cícero Ribeiro de Macedo – conhecido na região como Cicim do Pau do Guarda - e Raimunda Maria de Moura, pais de Irene, localizava-se na região também chamada Tabuleira, nas terras da família de Cícero. Com o tempo, o bar acabou ficando conhecido pelo apelido de Pau do Guarda. O local ganhou esse nome por se localizar próximo a uma cancela que existia na saída de Crato para Juazeiro. A cancela era operada por um guarda fiscal, que controlava o fluxo de veículos que transportavam mercadorias e cargas. “Quando esse posto chegou, como tinha essa cancela com o guarda, o pessoal em vez de falar Bar Tabuleiro, começou a falar do bar em frente ao pau do guarda. Depois disso, batizaram o bar de Pau do Guarda”, relembra Irene.

 Quando o bar completou 18 anos, o pai de Irene resolveu fazer um churrasco em comemoração. Em determinado momento da noite, faltaram mesas e cadeiras. Cicim então arrancou as portas e fez de mesa, e pegou as antigas caixas de cerveja, que eram de madeira, e fez de assentos. “A comemoração foi até altas horas da madrugada. Quando acabou a festa, papai resolveu não ajeitar as portas. E a partir de então, ficou [aberto por] 24 horas.”

 Em 2002, Irene montou a Central da Picanha como anexo do Pau do Guarda, e acabou assumindo a administração de ambos. “Nós passamos dois anos com esse anexo para ver se a clientela da região ia gostar desse novo serviço, que era diferente do Pau do Guarda, onde o carro-chefe era pirão de galinha. E quando montamos a Central da Picanha, o carro-chefe era a picanha mesmo”, esclarece Irene.

 Em 2004, com o sucesso da Central da Picanha, Irene resolveu unificar os restaurantes, e tudo passou a ser chamado de Central da Picanha. “Nós quebramos todos os paradigmas do Pau do Guarda: não era mais 24 horas, o carro-chefe não era mais o pirão, e sim a picanha, a churrasqueira não era mais a carvão, o cardápio foi mudado... Então, não pode ficar com o nome Pau do Guarda exatamente por essa quebra de paradigma.”

 Agora em 2016, como forma de resgatar um pouco do que foi o Pau do Guarda, Irene resolveu mudar o nome da Central da Picanha de Crato para Tabuleiro da Carne. “Primeiro, é uma homenagem a meu pai e, segundo, porque vamos resgatar alguns pratos da época do pai, como o pirão de galinha”,  adianta a empresária.

 Veja versão impressa da Revista O POVO Cariri.

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