Revista O POVO Cariri 22/03/2016 - 17h26

Tudo por um marido

Uma das festas mais tradicionais do Cariri traz consigo outra cultura lendária: a das simpatias para arranjar casamento. E quando o assunto é sair do caritó, existe até grupo para ajudar na missão
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Lua Santos lucianasantos@opovo.com.br
Mateus Monteiro

Todos os anos, a fé se renova em um único propósito: o de conseguir um bom casamento. Ou, pelo menos, se divertir tentando. Assim é famoso Grupo das Solteironas, que se reúne sempre durante os festejos de Santo Antônio, conhecido por ser casamenteiro, que acontecem em Barbalha.

Dentre as casamenteiras, dona Socorro Luna talvez seja a mais famosa. É ela quem faz o “kit solteirona”, com itens essenciais para desencalhar qualquer coração desesperado. “O grupo das Solteironas foi uma iniciativa que nós tivemos para que as festinhas de interior, como as quermesses, não acabassem. Nessas festas é onde a família e os amigos se encontram, e a gente não queria deixar isso morrer de jeito nenhum. Então, tivemos a ideia de criar a noite das solteironas, por que Santo Antônio é santo casamenteiro!”, explica ela, que também é advogada.


Solteira sim; sozinha, nunca
A devoção no santo e a crença nas famosas simpatias para arrumar casamento, acompanham Dona Socorro desde a infância. “Eu sou genuinamente barbalhense, e eu me criei nessa cultura na festa do Pau da Bandeira, que não tinha o tamanho que tem hoje, mas sempre existiu. E sempre existiu a crença das solteironas que tocavam no Pau e arranjava casamento. E me criei vendo isso...”

Então, se a ideia é animar a festa e resgatar as quermesses, que venham as solteironas!!! Dona Socorro Luna é solteirona convicta, mas deixa bem claro que é por que quer, e não por falta de fé no Santo. “Santo Antônio é muito bom comigo. Ele não me deixa faltar nada. Ele sempre dá o que você pede. Eu, por enquanto, não pedi um casamento. Não quero estar só, claro, então ele nunca me deixa só, isso já esta de bom tamanho”, conta, entre risos.

O preço para conseguir um marido
Dona Socorro já perdeu as contas de quantas mulheres lhe procuraram em busca das simpatias para arrumar marido. “O ano inteiro pessoas me procuram aqui em casa. Imagina então na época da festa!”. E como fazer para atender ao anseio de tantas pessoas em busca de casar?

A cada ano é montada a Tenda das Solteironas durante os festejos de Barbalha. E Dona Socorro sempre busca levar uma simpatia nova. Ano passado, dona Socorro Luna criou a pinga Xô, caritó!. “Depois criamos a Essência do Amor, que é um banho feito com a casca do Pau. Foi um sucesso incrível”, relembra a casamenteira. Mas sem dúvidas, o “carro-chefe” da Tenda das Solteironas é o famoso Kit Solteirona – que traz uma fita de Santo Antônio, pedaços da casca do Pau para fazer chá e a oração para encontrar o príncipe encantado.

Cada Kit Solteirona é vendido por cerca de R$ 20 durante os festejos de Santo Antônio. “Mas muita gente já casou!”, afirma categoricamente dona Socorro Luna. A jornalista Cristina Fontenele foi uma das que apostou na simpatia e conseguiu o casamento. Em 2012, ela participou das festas em Barbalha, ajudando dona Socorro na Tenda das Solteironas, vendendo os kits e outras simpatias, além de servir o famoso chá da casca de do Pau de Santo Antônio. “Tomei [o chá] na casa da Socorro e uns quatro meses depois casei. Eu já conhecia meu marido, mas eu estava morando em Barbalha, e não tínhamos ainda um compromisso sério. Entre idas e vindas de relacionamento, voltei a morar em Fortaleza e, quatro meses após tomar o chá, resolvemos morar juntos. E assim estamos há três anos e nove meses”, comemora.

Receitas para casar
Simpatia da Aliança
Na noite de Santo Antônio, dê uma volta ao redor da fogueira com um copo com água e uma aliança de alguém casado. Depois, amarre a aliança em um fio do seu cabelo e coloque no copo sem deixar encostar na água. Conte quantas vezes a aliança bate no copo. O resultado será a idade com que você vai se casar.

Simpatia da bananeira
Também na noite de Santo Antônio, enfie uma faca nunca usada em uma bananeira à meia-noite, mentalizando que você quer casar. Na manhã seguinte, retire a faca. A seiva da planta terá formado a inicial do seu futuro marido na lâmina.

Santo de castigo
Pegue uma imagem de Santo Antônio e a coloque de castigo virada de cabeça para baixo em um copo com água ou cachaça, ou então, dentro da geladeira. Mas antes, converse com o santo e explique que o deixará ali até que ele lhe traga um amor. Se demorar a acontecer, converse novamente com o santo e diga que o colocará no freezer até você encontrar um amor.

Para ser pedida em casamento
Use um pedaço de fita vermelho no sutiã, entre os seios, por sete dias. Depois, coloque a fita em um envelope lacrado e deixe no altar de Santo Antônio, rezando e pedindo que o santo atenda ao pedido. Depois, acenda uma vela de sete dias que a proposta deve vir em breve.

A tradição da Festa do Pau da Bandeira
Dia 14 de abril é uma data especial para o barbalhense. É o Dia do Carregador do Pau da Bandeira de Santo Antônio – símbolo maior dos festejos em homenagem ao santo. A data deriva do nascimento de João Figueira Teles, fazendeiro que por quase 90 anos deixou que retirassem o tronco utilizado como mastro de suas terras. E é também o dia em que se começa a escolher que árvore será cortada para cumprir o ilustre papel de mastro da Bandeira de Santo Antônio. “Não pode ser qualquer árvore, ela tem que atender a alguns critérios. Quanto mais reta, longa e alta ela for, melhor é para dividir entre os carregadores e facilitar o traslado até a Matriz de Santo Antônio”, explica Rildo Teles, capitão do Pau da Bandeira.

Ser carregador do Pau é uma profissão de fé. Não existe inscrição. “fé e a vontade de contribuir para sua cultura, sua tradição”, destaca Rildo. Mas é preciso atender a alguns requisitos, como ter certa experiência e observar os carregadores mais antigos trabalhando. “A maioria dos carregadores viam os pais, que carregavam, os tios, tem sempre alguém, um amigo, um parente que já carregava”.

A data para início dos preparativos não muda, mas este ano, o capitão do Pau da Bandeira e seu time de carregadores enfrentarão um novo desafio: o de garantir a segurança dos participantes. “É preciso conscientizar os organizadores a nos dar mais segurança. Nós vamos conversar com os carregadores, por que há um sentimento de que algumas coisas precisam ser efetivamente mudadas”, declara. Ano passado, um dos carregadores sofreu um acidente no momento em que os homens soltam o tronco da árvore no chão, e acabou falecendo.

Festa digital
Por mais tradicional que seja, os festejo de Barbalha já começam a ganhar aporte tecnológico. Ano passado, foi criado um aplicativo para quem deseja acompanhar todos os detalhes da festa. Chamado Festa de Santo Antônio Barbalha, o aplicativo traz toda a programação dos 13 dias de festejos, incluindo o rastreamento do Pau da bandeira. Dicas de onde se hospedar, comer e o que fazer na cidade também são opções disponibilizadas. Segundo Rui Gomes Patrício, um dos desenvolvedores do aplicativo, ele será atualizado com a programação deste ano. Disponível somente para celulares com sistema Android.

Tombamento cultural
Os treze dias de festa em homenagem a Santo Antônio acontecem na cidade de Barbalha desde o século XVIII, quando foi erguida uma capela de devoção ao santo em torno da qual se desenvolveu o município de Barbalha. Mas desde 1928, o carregamento do tronco de árvore que serve de mastro para a bandeira começou, oficialmente, a fazer parte dos festejos.

A relação da população com a festa é tão intenso que, em setembro do ano passado, a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de Barbalha foi registrada como Patrimônio Cultural do Brasil no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Com a aprovação, a festa passa a integrar o Livro de Registro das Celebrações do Iphan, e pode receber apoios especiais através de editais e parcerias com órgãos como o Ministério da Cultura, sem contar com o reconhecimento da tradição e da cultura do povo barbalhense como bem nacional.

 

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