No compasso dolente do maracatu cearense, datado do século XIX, a corte pede passagem declamando loas e toadas acerca do período escravista, questões abolicionistas, danças, mestiçagens e todo o rico universo da cultura afro-brasileira, proveniente dos reisados de Congo e da devoção à Nossa Senhora do Rosário. Na avenida Domingos Olímpio, dividindo espaço com blocos, cordões, escolas de samba e afoxés, o maracatu assume peça fundamental de nossa identidade mestiça.

Há 20 anos, Inês Mapurunga - cantora, compositora e violonista - foi apresentada a zabumbas, balaios, balizas, pretos velhos e estandartes dessas agremiações e de lá não quis mais sair. “Antes eu era compositora de músicas, digamos, mais tranquilas e calmas... Foi o Descartes Gadelha (artista plástico e percussionista) que me trouxe ao maracatu e me contagiou com esse ritmo ancestral, que é muito forte, muito energizante”, relembra ela, que viu nessa paixão uma nova possibilidade.

“Existem vários maracatus que tiveram suas primeiras loas feitas por nós, como o Axé de Oxóssi, Kizomba, Nação Iracema... Aí eu pensei: vamos juntar todas essas composições, até para que as pessoas possam conhecer esse material! O maracatu só é visto geralmente durante o Carnaval, né? Por que não deixar esse legado para os outros dias do ano? Então esse livro surgiu também da vontade de deixar algo registrado para as futuras gerações, para que sirva também de estudo”, pontuou Inês.

Após três anos de pesquisa ao lado de Descartes, o resultado é o livro-CD Maracatus, Afoxés, Coroações, Rezas e Outros Batuques. A obra, que será lançada neste domingo, 15, no Cineteatro São Luiz, contextualiza o ritmo não só como “expressão de uma gente que ansiava a liberdade, libera o corpo das amarras e nos faz dançar”, nas palavras do jornalista e pesquisador Gilmar de Carvalho (que assina o prefácio), mas também – e sobretudo - enquanto legado africano.

Ao longo de 142 páginas, Inês Mapurunga fala das estéticas rítmica e musical do maracatu, descreve seus personagens e ainda discorre sobre a presença da mulher na brincadeira, citando nomes como os de Lúcia Simão (presidente do Maracatu Nação Iracema) e as yalorixás Fátima de Oxóssi (presidente do Maracatu Nação Axé de Oxóssi), Janaína de Yemanjá (presidente do Maracatu Nação Baobab) e Mãe Taquinha de Oyá (presidente do Afoxé Filhos de Oyá). Três CDs coroam, enfim, essa ampla explanação, acompanhados de letras e temas para cada uma das 48 músicas, 16 em cada disco. A divisão foi feita por ritmos – 11, no total - para uma maior facilidade na audição.

Durante o lançamento, um espetáculo com duração de duas horas irá contemplar parte do repertório contido no livro-CD, precisamente 23 músicas. Brincantes de diversas agremiações locais participarão do evento no Cineteatro. “Serão dez pessoas nas vozes, cinco homens e cinco mulheres, além do batuque e um naipe de cordas”, adiantou Inês. Maracatus, Afoxés, Coroações, Rezas e Outros Batuques é uma realização do portal Memória Cantada com o apoio da Associação Cultural Solidariedade e Arte (Solar), Casa dos Licores e Animulab.

SERVIÇO

Espetáculo de lançamento do livro-CD Maracatus, Afoxés, Coroações, Rezas e Outros Batuques, de Inês Mapurunga

Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 / Praça do Ferreira – Centro)

Entrada franca - os ingressos serão distribuídos uma hora antes da apresentação
Classificação: livre

Preço do livro-CD: R$ 70

Facebook: @memoriacantada

SAIBA MAIS

Grupos presentes no livro-CD: