A maior parte dos atuais moradores do prédio que sediou a Escola Jesus, Maria e José não tem noção da importância história do edifício. Sabem que é um prédio antigo, que já foi casa paroquial e que estava desocupado há mais de uma década, quando foi tombado por lei municipal e cedido à Prefeitura em regime de comodato.
Inaugurada em janeiro de 1905, a Escola era dirigida por irmãs de caridade da congregação de São Vicente de Paulo e tinha a proposta de educar e evangelizar crianças pobres. Sua atuação era guiada pelo modelo de orientação moral e de atuação do sacerdócio no Ceará.
O local funcionou com esse propósito até a década de 1920, quando passou a abrigar a casa paroquial da vizinha Igreja do Pequeno Grande. Ao longo do século, também funcionou como cine paroquial, auditório da Rádio Assunção Cearense, loja de equipamentos pesados para agricultura e sede da associação O Berço do Pobre.
“Eu integrei a comissão de tombamento e, naquela época, a casa estava em muito melhor estado. Depois de tombada, parece que foi pior, porque ela ficou no completo abandono”, comenta o memorialista Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez.
Depois do tombamento, ainda na gestão da ex-prefeita Luizianne Lins, a Prefeitura de Fortaleza anunciou que o prédio seria revitalizado para abrigar a Casa da Fotografia, equipamento dedicado a “abrigar atividades relacionadas à produção e expressão artística de imagens voltadas para toda a comunidade”, como consta na descrição do projeto no portal do Mapa Cultural do Ceará. A obra não saiu do papel.
No final de 2014, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) divulgou que as obras de restauração seriam iniciadas no ano seguinte e integrariam o Programa de Valorização e Ampliação da Infraestrutura e Atividade Turística (Provatur). Até o início das ocupações, em julho de 2016, nada havia sido feito.
Procurada pelo O POVO, a Secultfor enviou nota dizendo que, nos dias seguintes à ocupação, havia alertado as pessoas sobre as condições de risco e o caráter de bem tombado do prédio. “A Defesa Civil foi ao local conversar com as famílias, notificando os ocupantes”, diz.
Após as notificações, a secretaria teria dado entrada em um processo de reintegração de posse na 14ª Vara da Fazenda Pública. A primeira limitar dada pela juíza ordenava que o Município fizesse o cadastro das famílias do local em um programa de habitação, e que a polícia militar organizasse um plano de desocupação.
“A Secultfor informou a decisão à Habitafor, que esteve na ocupação realizando o cadastro de todas as famílias, em uma parceria com a Secretaria das Cidades do Governo do Estado”, afirmam. O cadastro teria sido enviado à justiça e a Secretaria estaria aguardando agora pela decisão definitiva da juíza.
“Acho que depois do tombamento, a Prefeitura deveria ter tomado providências para que isso não acontecesse, mas ela acabou criando um problema social”, avalia Nirez.
Enquanto a decisão judicial não é tomada, os moradores da Escola esperam temerosos, temendo que a polícia possa iniciar uma ação violenta de desocupação do local. Passam o tempo tentando escoar a água acumulada nos cômodos e secando os móveis molhados. Aceitam qualquer tipo de ajuda, cestas básicas, produtos de limpeza e higiene pessoal. Querem que 2017 seja um ano melhor para todos. (Jáder Santana)
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