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O ser humano fala de três maneiras: palavras, ações e símbolos. Só o tempo mostra até onde os três níveis se correspondem ou até onde eles entram em tensão ou até mesmo contradição.
O Papa Francisco ainda não completou um ano de pontificado. Tem-nos falado das três maneiras, mas não no mesmo nível.
Tocou-nos, já no dia mesmo da eleição, com gestos simbólicos. Mostrou-se simples, ao renunciar veste pomposa, quando foi apresentado na Praça de São Pedro na primeira aparição pública. Não quis ornar-se com o traje completo pontifício e mantém até hoje discrição. Tem revelado proximidade despretensiosa com o povo, ao escutá-lo e ao deixar-se tocar por seu sofrimento. Gravou-se-nos o gesto de inclinar-se para ser abençoado pelos fiéis, ao pedir-lhes que rezassem por ele, antes mesmo de abençoá-los.
Na viagem ao Brasil, confirmou com outros toques a simplicidade e a cercania com as pessoas em visitas, no circular em auto com janela aberta, na acolhida de quem se aproximava dele. O famoso medo, que acomete as autoridades, parece passar-lhe longe. As cenas com as crianças têm falado muito à sensibilidade popular, como aquela que se senta na sua cadeira, ou como as que recebem abraço e beijo, ou como as que lhe fazem perguntas. A todas responde com carinho e cuidado.
As palavras vão na mesma direção. Além dos discursos, homilias, lançou-nos recentemente texto bem maior: a “Exortação Evangelii Gaudium”. Predomina a preocupação com uma Igreja que saia às ruas, que vá ao encontro de todo tipo de pessoa, sem preconceito e juízos moralistas. Imbui-lhe profundamente a convicção de que Deus é pura misericórdia e os cristãos existem para testemunhá-la no mundo de hoje. Tem frases pesadas sobre a situação presente: “devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social. Esta economia mata”.
Diferentemente de outros discursos eclesiásticos, mostra-se contundente, tanto em relação às perversidades dos sistema e cultura atuais, quanto em relação à própria Igreja católica no que ela não responde ao projeto salvador de Deus para a humanidade. Insiste em que importam menos as estruturas, a organização, a parte canônica respeito à necessidade de anunciar, testemunhar, vivenciar o mundo da graça, da misericórdia de Deus. Pensa uma Igreja fortemente missionária, voltada para fora, para as dores e sofrimentos dos seres humanos, a levar-lhes o consolo de Deus e da sua presença. A dimensão política de transformação da realidade, tão trabalhada pela teologia da libertação, ocupa-lhe a atenção e o incentivo.
Gestos e palavras: eis as duas chaves principais e mais visíveis de interpretação do atual pontificado.
As ações no sentido de mudança no interior da Igreja e na sua maneira de se relacionar com as pessoas, com a realidade social começam a manifestar-se em coerência com as palavras e gestos.
Novas ações
Perseguir-lhe o mundo do agir torna-se-nos difícil por não termos acesso ao muito que se faz e se constrói por detrás dos bastidores. E nem tudo o que cai na publicidade significa o mais importante e decisivo.
No entanto, já há alguns atos altamente significativos. O projeto de reforma da Cúria e do ministério pontifício não o pensa sozinho. Por isso, criou uma comissão de cardeais para oferecer-lhe sugestões. O simples fato de associar outros olhares, fora da simples burocracia da Cúria, para ver a realidade, revela atitude nova. Pois, os lugares sociais diferentes descobrem aspectos até então desconhecidos.
Lançou ampla sondagem sobre o crucial e polêmico tema da família para tratá-lo no Sínodo dos Bispos de 2014. O secretário-geral do Sínodo dos Bispos afirmou que o questionário romano não visa a saber “as avaliações pessoais dos bispos, mas o que as pessoas pensam e como vivem”. Sinal provocante. Só o desenrolar do próprio Sínodo nos mostrará até onde se ouviu o fiel da Igreja.
Algumas medidas críticas pela falta de lisura econômica de autoridades eclesiásticas e das instituições do próprio Vaticano têm mostrado a sensibilidade social do Papa Francisco e a seriedade em tratar as questões no campo da justiça social. Antes a atenção se voltava mais para assuntos de moral individual. Agora pesa a questão pública, não só da imagem, mas da verdade visível da Igreja Católica.
O futuro nos dirá até onde se firmarão ações de renovação interna da Igreja no campo da transparência econômica e da vocação ministerial como serviço ao povo de Deus e não como expressão de interesses individuais e pior ainda de carreirismo eclesiástico. Temas recorrentes nos discursos e nas medidas que estão sendo tomadas. Os sinais, os discursos e algumas medidas têm despertado a esperança de rejuvenescer a Igreja e de fazer circular dentro dela lufadas de renovação.
J. B. Libanio é professor de teologia na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte e vigário paroquial em Vespasiano (MG). Ele pode ser encontrado através do site www.jblibanio.com.br.
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