[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Karim Ainouz e o abismo do abandono | O POVO
Cinema 18/04/2013

Karim Ainouz e o abismo do abandono

Na pré-estreia em São Paulo, O abismo prateado, do cearense Karim Ainouz, mostra que é possível superar certos complexos de nossa cinematografia
DIVULGAÇÃO
Alessandra Negrini em cena de O abismo prateado: "é isso que você faria se tivesse levado um pé na bunda?"
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Da plateia, a provocação. Um só paulista faz silenciar o auditório lotado do cinema da Livraria Cultura, em São Paulo, na pré-estreia de O abismo prateado, novo longa do diretor cearense Karim Aïnouz. Inconformado, minutos após a exibição, o espectador desfere a crítica: esperava uma condução menos conservadora e mais “nelsonrodrigueana”. Nas palavras dele, o filme perdeu a chance de ter “mostrado mais um lado carioca mesmo, brasileiro, de ser”, com mais cenas de sexo, pecando pelo que chamou de falta de criatividade. Na mesa de debate, ao lado da roteirista Beatriz Bracher e do produtor Rodrigo Teixeira, a atriz Alessandra Negrini, sente a pontada, toma as dores e não contém o desconforto. Agarra o microfone e quer saber: “É isso que você faria se tivesse levado um pé na bunda?”. Ele confirma. E a artista rebate: “Então, a escolha é sua”.


Junto do altivo espectador, é possível que se somem outros tantos a partir do próximo dia 26, data de estreia do filme nas salas de cinema de todo o País. Isso porque O abismo prateado surge num movimento positivo que vem se firmando nos últimos anos entre os novos diretores, o de distanciamento do tradicional apelo sexual do cinema brasileiro. “Era uma grande preocupação nossa saber como seria a reação desse filme em São Paulo e no Rio de Janeiro. Porque, fora do Brasil, o filme teve uma carreira muito interessante. Essa busca pelo Nelson Rodrigues ou o sexo no cinema é uma crítica constante. A gente também recebeu essa crítica no Rio de Janeiro. Fico curioso para entender por que isso é tão enraizado, tão forte na nossa cinematografia, que é muito mais plural do que isso”, critica o produtor Rodrigo Teixeira.


Barulho

Foi da “escolha” de Karim, autor de Madame Satã (2002) e O céu de Suely (2006), que há dois anos nasceu o quarto longa-metragem do cearense, O abismo prateado. Inspirado na canção do cantor e compositor Chico Buarque, “Olhos nos olhos”, um tema universalmente conhecido norteia o drama: o abandono. O filme conta as 24 horas que se seguem na vida de Violeta (Alessandra Negrini), mulher de classe média, dentista e moradora de Copacabana – bairro do Rio de Janeiro -, após receber uma mensagem do marido no celular: “Estou indo embora e não vou voltar. Não te amo mais”.

 

No mergulho na dor de Violeta, o filme silencia e deixa as emoções rasgarem a tela. São raros, e densos, os diálogos. Com sequências marcadas por recursos sonoros que, de tão altos e prolongados, perturbam e tonteiam propositadamente, o longa é o retrato de Violeta numa jornada da própria cura. Nesse percurso, a preocupação com os barulhos – das ondas do mar, dos carros, do canteiro de obras – fez parte do processo de pós-produção, conforme explica Rodrigo Teixeira: “Karim queria que esse barulho atordoasse, que você não conseguisse ficar só na visão e desse um pouco da dimensão do atordoamento da personagem com a história”.


Com êxito, o atordoamento se consolida pelos enquadramentos fechados nas expressões de Violeta, bem como no intencional desfoque dos ambientes e das pessoas ao redor da protagonista. O abismo prateado é o de Violeta, e não dos outros. Um drama psicológico que, centrado numa mulher comum, com temas tão próximos – separação, abandono e cura – , perturba e envolve o espectador pelos aspectos sensórios. Um filme feito para doer. E incomodar.

 

SERVIÇO

 

O Abismo Prateado

Direção: Karim Aïnouz

Elenco: Alessandra Negrini, Thiago Martins, Gabi Pereira, Otto Jr.

Estreia nacional: 26 de abril (sexta-feira)

Classificação indicativa: 14 anos

 

Saiba mais

 

O filme foi lançado em maio de 2011, na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. A ideia do filme nasceu há quatro anos, como parte de um projeto multimídia maior, o Chico para todos. De autoria de Rodrigo Teixeira e patrocinado pela Caixa Econômica Federal, a ideia era pensar produtos relacionados às canções de Chico Buarque. O próximo longa de Karim, Praia do Futuro, com Wagner Moura no elenco, deverá ser lançado ainda este ano. (JD)

 

Juliana Diógenes
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