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IDENTIDADE CULTURAL 04/02/2012 - 15h00

Fortaleza hedonismo sitiado

O professor de Cultura e Mídia Tadeu Feitosa afirma que administrar eventos implica saber administrar as culturas, os imaginários e as identidades de um povo
FOTO: SARA MAIA
Romarias em Juazeiro do Norte e Canindé são exemplos de multidões cuja força da cultura se sobrepõe aos interesses e políticas administrativas

A polêmica sobre a relação nada agradável entre eventos populares e violência faz ressurgir as discussões sobre a capacidade da cidade de Fortaleza de lidar com eventos que arrastam multidões. Entre as muitas verdades sobre a falta de políticas culturais ligadas a eventos e de uma fissura histórica nas políticas de segurança, o que se descortina é a marca cultural de um povo de natureza festiva – ainda que receba de muitos a pecha de povo sem “identidade” ou sem “memória – e que precisa de espaços públicos para manifestar sua cultura e a diversidade de seus sotaques festivos.

 

As festividades do chamado Pré-Carnaval não são apenas ensejadas pelos ritos de calendário que tem o Carnaval como marco maior, mas pela pluralidade de manifestações que ritualizam e festejam os maracatus, os folguedos, as marchinhas de Carnaval e as misturas híbridas de samba, axé e pagode. Atrás desses blocos “mominos”, uma legião de adeptos da musicalidade e ritmos brasileiros, com seu sotaque cearense, ainda que sob os apelos da mídia e da indústria cultural que não sobrevivem sem os ritos midiáticos massivos.


A evolução desses ritos tem dado a Fortaleza outra face festiva, cada vez mais criativa e organizada e com uma legião de seguidores. Ao largo disso, cidadãos anônimos e esquecidos das políticas de eventos que, ante o cardápio de opções festivas saem às ruas em outras modalidades de blocos: os daquele que precisam de qualquer maneira sentir-se pertencente da cultura festiva em evidência e os daqueles que – não acostumados a essas ofertas, acabam violentando-as com falta de civilidade. Acerca das garantias que a Cidade dá a esses eventos, muita coisa a se discutir com os formadores de opinião da cidade, mas também e, principalmente, com essa população anônima e esquecida.


Se Fortaleza é capaz de manter eventos para multidões é uma resposta que os gestores da cidade terão de buscar com o todo da cidade. Uma cidade não pode ficar refém da falta de políticas de eventos, na medida em que a cultura não se submete a essa condição política ou administrativa. Administrar eventos implica saber administrar as culturas, os imaginários e as identidades de um povo. Veja-se, por exemplo, as romarias de Canindé e Juazeiro do Norte, que – a despeito das enormes dificuldades de infraestruturas dessas cidades – recebem milhares de romeiros durante todo o ano, com picos de elevação de público em determinados meses, chegando a multidões. Basta olhar para esses eventos e ver que a cultura que estimula essas multidões não pergunta às ditas “políticas” se elas estão preparadas para recebê-las. Assim, a falta de políticas de eventos para multidões é diretamente proporcional ao desconhecimento político da cultura que diz governar.


Com relação às violências que acabam contaminando os eventos públicos e de grande movimentação popular, fica explícito que a falta de segurança é grande, como também o é o despreparo da população esquecida para se relacionar com festividades que nunca lhe foram ofertadas. Do ponto de vista das festividades no sempre crescente espaço urbano das cidades, falta disciplinamento de tudo: da cidade e de seus citadinos.


No caso de Fortaleza, o que salta aos olhos é o crescimento desordenado da cidade e a falta de políticas educativas das pessoas, que vão loteando os espaços públicos sem qualquer disciplinamento e estes parecem ser feitos para afastar os cidadãos. No caso de Fortaleza, a impressão que se tem é que a cidade que nasceu e cresceu de costas para o mar, também ignora as marcas e inclinações culturais de seu povo, não disciplinando o espaço público urbano para as pessoas e suas marcas culturais.


Engana-se quem pensa que a cidade de Fortaleza não tem suas marcas identitárias. Ainda que elas se mostrem anônimas em relação aos rituais que se lhe servem de motivação, o fortalezense é festivo, é inventivo e necessita de espaços para se mostrar. Nossas multidões são motivadas pelas vontades, mas também pelas parcas oportunidades hedônicas que se lhe apresentam. Assim, cabe aos administradores da cidade conhecer, catalogar, ouvir e possibilitar a essas demandas seus espaços e tempos de expressão.

 

TADEU FEITOSA é doutor em Sociologia e professor de Cultura e Mídia da Universidade Federal do Ceará (UFC)

Tadeu Feitosa
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