[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A tesoura tem poder | Páginas Azuis | O POVO Online
Celso Kamura 26/03/2012 - 01h30

A tesoura tem poder

Celso Kamura é um mago. Com olho clínico para a beleza, consegue fazer qualquer um mais bonito. O talento e o perfeccionismo fizeram dele o cabeleireiro das celebridades e da presidente Dilma Rousseff. Poderoso, o paranaense se revela simples e diz que a busca pela beleza tem limite
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SARA MAIA

Celso Kamura é o cabeleireiro das estrelas e virou nome conhecido fora do universo das celebridades e da beleza ao assinar a mudança no visual da presidente Dilma Rousseff, quando ela era pré-candidata ao cargo. Coincidência ou não, na década de 1990, uma outra petista mudou de visual com Celso e fez sua fama inicial. Marta Suplicy ficou mais loira e adotou cabelos curtos graças a ele.

 

Celso é um expert em visagismo. Traduzindo, sabe como deixar qualquer um mais bonito e poderoso com tesoura, tintas e maquiagem. Anos luz à frente do que chamávamos de cabeleireiro, ele cria conceitos, lança tendências e constrói imagens. Sem plástica ou dieta, consegue emagrecer, engordar, rejuvenescer, fazer a pessoa mais simpática, transformá-la. O mercado da beleza cresceu e se profissionalizou. Celso vivenciou essa expansão e sofisticação nos seus 30 anos de carreira e cresceu junto com os pioneiros.


Hoje, no apogeu, cobra R$ 350 por um corte de cabelo, mantém dois salões em São Paulo - o primeiro na Aclimação e o segundo, um espaço super luxuoso nos Jardins -, e um terceiro em Campinas. Disputado nas semanas de moda, especialmente na São Paulo Fashion Week, é queridinho das celebridades e também do povo da moda. De origem simples, acabou convivendo com o ego das celebridades e com figuras do poder – quantos profissionais frequentam o Palácio da Alvorada? - mas não se contaminou com o lado ruim do sucesso. Com seu jeito meio andrógino, tem, além de talento, carisma de sobra.

 

O POVO - Você é do Paraná. Como conseguiu se firmar como cabeleireiro num mercado tão disputado quanto o de São Paulo?

Celso Kamura - Nasci em Bela Vista do Paraná. Meu pai morreu quando tinha um ano e minha mãe se mudou para a cidade dela, Lins (SP). Morei com minha vó até os 10 anos, aí fomos para São Paulo. Com 17 anos, tinha um vizinho que era cabeleireiro e me via maquiar as amigas, a irmã... De brincadeira, sabe? Um dia, faltou maquiador no salão onde ele trabalhava e ele me perguntou se queria fazer um teste. Não sabia nem que maquiador era profissão. Passei no teste, adorei e comecei a trabalhar em salão. Depois de um ano, me tornei cabeleireiro. Sou autodidata. Fui fazer o primeiro curso, em 1982, em Paris, quando já era cabeleireiro há um tempo.

 

OP - E como seu nome virou uma marca tão forte, qual foi o pulo do gato?

Celso – Comecei trabalhando no Ipiranga, depois trabalhei na Aclimação. Graças a Deus, sempre fui bem sucedido, desde o salão do bairro. No começo dos anos 1990, conheci a Marta (Suplicy). Foi uma das primeiras celebridades a me dar espaço na mídia. Logo depois, começou o Fashion Week (semana de moda de São Paulo) e a história da moda no Brasil. Isso me ajudou bastante a consolidar a carreira. Sempre fiz Fashion Week. Faço para alguns estilistas, mas o que faço desde o começo é o Alexandre Herchcovitch. A moda conseguiu destacar profissionais da área, não só o cabeleireiro. Apareceu o stylist, o estilista, o fotógrafo, a produtora.

 

OP - E a presidente Dilma Rousseff ? Como você chegou a ela e como é a relação de vocês?

Celso – Eu a conheci através do João Santana (coordenador de marketing da campanha) que me conheceu através da Marta na última campanha que ela fez para Prefeitura de São Paulo. Na hora que ele sentiu a necessidade da Dilma dar uma repaginada, pensou em mim. Hoje, uma vez por mês eu corto o cabelo dela e faço coloração. Às vezes, quando tem algum pronunciamento, alguma foto, ela me chama também. Ela é uma pessoa muito séria, mas nossa relação é bacana. Tenho a maior honra de atendê-la. Acho que da parte dela também rola um carinho, uma cumplicidade.

OP – Que peso você acha que essa repaginada teve no sucesso da campanha presidencial?

Celso - Fui para fazer meu melhor, para torná-la uma pessoa bacana, bonita. De verdade, não pensei que fosse ter essa repercussão. Nunca tinha visto uma coisa dessas. Atendi a Dilma umas 14 horas, com ela já vindo de um compromisso de manhã. Dei a repaginada e ela foi para um outro compromisso em Brasília. A imprensa era a mesma, entendeu? Então, acho que deu um nó na cabeça do povo. Esse dia movimentado ajudou a tornar essa mudança de visual tão curiosa. Talvez, se a gente tivesse feito para a foto da campanha e depois aparecido, não tivesse tido tanto efeito.

OP - A ideia era torná-la mais simpática?

Celso - Mais bonita. Ela é uma pessoa que exige que você explique o que está fazendo. Então, ia explicando: tem que tirar a lateral e dar volume em cima, seu rosto vai dar uma alongada, vai emagrecer. Fiz as pontas mais claras, porque as luzes deixam o rosto mais leve na foto e dão mais movimento no cabelo. Na hora da maquiagem, a sobrancelha foi uma coisa que marcou bastante. Aquela sobrancelha arqueada para uma mulher comum pode ser linda e sexy, mas pode também dar um ar de brava, de arrogante. Fazer um olhar normal, abaixar um pouco a expressão, foi uma boa solução para o momento. O olho dela ficou bem mais suave. Pensei em deixá-la com um look natural e que fosse simples para ela dar um jeito no dia a dia.

OP – E as mulheres normais? Você recebe clientes de todas as regiões no salão de São Paulo. Nota diferença de gosto dependendo da região?

Celso - Noto a diferença no meio social, porque as clientes classe A do Amazonas, do Nordeste e do Sul, são igualmente antenadas. Aconteceu lá fora, elas sabem. Eu também sei. Tem diferenças entre as regiões assim: não costumo botar uma cor quente numa mulher do Nordeste, porque sei que vai desbotar e ela vai ficar com cara de água de salsicha. As particularidades são pensando no dia a dia dessa mulher. Mas de gosto e informação, elas são iguais em todo canto do País.

OP – Hoje se tem muita informação mesmo: blog, programas de televisão, revistas, tudo falando de moda e beleza. Gastamos mais nisso e chegamos a um nível de exigência maior. Que fatores explicam essa ascensão do mercado?

Celso - Na realidade, é o mercado da mulher. A mulher começou a perceber que a imagem dela é importante e automaticamente começou a gastar mais. Fiz agora uma palestra com líderes comunitárias em São Paulo, de favelas mesmo, eram mulheres muito, muito simples. Devia ter umas 50 e dava para notar nitidamente que todas mexiam no cabelo. Alisavam, tingiam, faziam reflexo. Eu mesmo pensava: não faz falta no orçamento dessa mulher? A diferença é que era um alisamento mal feito, a aplicação de tinta ruim, mas elas gastaram dinheiro para melhorar o visual e a autoestima também. O aumento de negócios no mundo da beleza é um movimento da mulher. Ela está mais independente, mais tudo.

 

OP – E a chegada da classe C nesse mercado muda o quê? Misturando cores, se consegue o tom de um esmalte Chanel. Como a cliente classe A vai continuar se diferenciando?

Celso - Tenho uma linha de produto para o cabelo que é mais acessível. Acho que a gente consegue fazer produto de qualidade, mas a tecnologia também é importante. Alguns países estão anos luz à frente nessa tecnologia. No Brasil, conseguimos fazer produtos de qualidade, mas o que ainda vai diferenciar a cliente da classe A, B ou C são os produtos que ela usa. A tecnologia faz a diferença no resultado e no preço também, mas até a pessoa mais simples está bem servida de produtos no mercado.

 

OP - Quanto custa cortar o cabelo com o cabeleireiro da presidente?

Celso – Comigo, o corte sai R$ 350, com os profissionais que trabalham comigo é R$ 150. Minha agenda é de meia em meia hora e meu horário é das 11 às 22 horas. Mas acho que tem cabeleireiro bom para todas as classes sociais. Eu mesmo comecei lá embaixo, sei que no salão para classe B e C tem grandes artistas. É importante para mulher encontrar um profissional que consiga realizar o trabalho que ela gosta, com quem tenha sintonia. O grande barato do cabeleireiro é ir melhorando cada vez mais o nível social da cliente. Você começa a atender uma clientela com exigência maior. Isso valoriza nosso trabalho e a gente vai crescendo.

 

OP – Vira e mexe, a mídia volta a denunciar uso de formol em escovas progressivas, mas, ao que parece, a brasileira permanece obcecada com o liso chapado. Por quê? Ainda é tendência?

Celso - Uma das tendências para o outono-inverno é o cabelo liso, mas um outro liso. Tomara que as mulheres percebam essa mudança sutil e parem um pouco de alisar. Acho que alisamento é necessário, sim, tem cabelo que precisa, mas a moda é um cabelo liso tratado, escovado, modelado, com brilho e glamour. Se você alisa muito o cabelo, não consegue esse efeito.

 

OP - As tendências ainda vêm de fora?

Celso - Já não sei quem inventa, não. Sou do tempo de ir num salão na Europa e, depois de um ano, a cliente aqui usar o que eu vi lá. Mas aí a coisa foi acontecendo. Hoje, a gente tem referência de moda, designer de roupa... Às vezes, faço um cabelinho que acho que fui eu que inventei, não vi em nenhum lugar. A semana de moda daqui é bom para reparar isso. Coisas que fizemos aqui, lá fora eles fazem um ano depois. O que vejo diferente é a Ásia, uma coisa à parte. Mas, tirando a Ásia, a moda está muito globalizada e não se sabe mais quem inventa o quê.

 

OP- Vale mexer radicalmente no cabelo para se sentir bonita ou tem coisa que não dá? Tem algum limite estabelecido pelo seu biotipo?

Celso - Não. Uma coisa que vai acontecer - lentamente, mas vai -, é a volta da permanente. Sinto isso com as meninas de cabelo muito liso que querem ficar Gisele (Bündchen) de qualquer jeito. Faço uma permanente e elas ficam felizes da vida! Uma hora, elas querem um cabelo muito cheio, lindo, maravilhoso. Depois, alisa tudo de novo. Não tem limite.

 

OP - O cabelo da Gisele Bündchen ainda é o mais pedido nos salões?

Celso - É (meio desanimado). Mas só é “o” cabelo para quem tem aquele cabelo. Entende? Se você não tem o cabelo daquele jeito, tem um monte de outras formas de chamar a atenção. No momento, o que para tudo é uma mulher linda de cabelo curto. É a cara da atualidade, a Gisele é a cara da mulher sexy. Tem três tipos de mulher: a clássica, tem um monte, com aquele cabelo lindo, não liga muito para a forma, liga mais para qualidade; as sexys, as exuberantes, a turma da Gisele, que quer chamar atenção e não liga muito para moda, liga mais para o efeito; e a moderna, que quer tudo que tem de novo, quer corte curto, make diferente. Gosto bastante de ver essa mulher moderna.

Mariana Toniatti marianatoniatti@opovo.com.br
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