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ENTREVISTA. ANA LÚCIA BASTOS MOTA 08/07/2015

Ela sabe onde pisa

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Jocélio Leal leal@opovo.com.br
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Beatriz Cavalcante beatrizsantos@opovo.com.br
CAMILA DE ALMEIDA
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Ana Lúcia Bastos Mota tornou-se presidente da Cerbras, indústria de material de construção civil, após a morte do marido, Tarcísio Mota, que não resistiu a um ataque cardíaco, em 1994. De característica otimista, ela enxerga momentos de crise como oportunidade para crescer. À frente da fábrica, realizou três expansões, mesmo em momentos econômicos difíceis. Para ela, quem investe continua a crescer , o que reduz, proporcionalmente, custos com energia e gás. Sua meta é ampliar a exportação, entrando no ramo do porcelanato e ir, quem sabe, para a Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE).

 

O POVO - A senhora é uma empresária que não fala mal do Governo. No mundo empresarial, falar mal do Governo é quase sinônimo. A senhora tem sempre uma palavra de apoio ao Governo, especialmente ao Governo Federal. O que é ser empresária de esquerda, com um Governo de esquerda no poder?


Ana Lúcia Bastos Mota - Não é questão de ser empresária de esquerda. É minha história. Antes de ser empresaria, era estudante na época da Ditadura. Então, vivenciei tudo aquilo. Meu marido sempre dizia que eu era dona também da indústria e eu dizia para ele que não havia nascido para ser dona. Eu trabalhava na Teleceará e ele insistia para eu trabalhar com ele. Na época era loja de material de construção, a L Mota Companhia. Quando eu o conheci, ele tinha uma fábrica de mosaicos, a Mosaicos Mota. Posteriormente, em 1990, foi que ele fundou a fábrica de pisos e revestimentos cerâmicos. Mas mantive essa linha, a minha linha. E ele me respeitava, ele não comungava da minha ideologia.

 

OP - Ele é quem comandava a fabrica antes. Como foi tocar a fábrica sem ele?


Ana Lúcia - O nosso piso de revestimento cerâmico é um dos produtos de fabricação de custo mais baixo. Porque existem dois tipos de fabricação de piso de revestimento: via seca e via úmida. O nosso é via seca. Gasta menos energia e podemos vender por um valor menor. Ele morreu em 1994 e, em 2000, chegamos a ter muitas dificuldades financeiras. Aí, premiando os funcionários, tomando várias atitudes em relação a preço também, que estava muito defasado, conseguimos um crescimento. Sem a equipe não teria feito nada.

 

OP - Equipe essa que a senhora herdou do seu marido...

 

Ana Lúcia - Herdei do meu marido, mas tinha 80 funcionários. Hoje nós temos mais de 600. A produção se concentra em Maracanaú. Então, coincidentemente, quando a fábrica estava em uma situação melhor, o Lula ganha a eleição. Quando ele ganhou, percebi que houve uma ascensão da classe menos favorecida. Isso é um fato. Começamos a vender muito. Em 2004, passamos de 300 mil para 600 mil m²/mês de produção. Ano passado nós fomos a um milhão de m²/mês. 

 

OP - Como a crise de 2008 não afetou o mercado da construção civil?


Ana Lúcia - É interessante contar o que aconteceu em 2008. Em outubro, começamos a produzir, mas em setembro veio a crise nos Estados Unidos e eu tinha certeza que ia nos afetar. Tínhamos ampliado e estávamos vendendo pouco e, em abril de 2009, no auge da nossa crise, o Lula lança o programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV). Começamos a vender. Hoje estamos vivendo essa onda de pessimismo diariamente e isso é muito prejudicial, porque as pessoas não investem. No passado, remoto, nossa inadimplência chegou a 70%. Hoje não chega a 4%, poque saímos da informalidade. Ano passado, não tínhamos produto. Estávamos com um problema seríssimo e mesmo assim ampliamos. Passamos de 1,7 milhão m²/mes para 2,4 milhões. Começamos a produzir em setembro e, no final do ano, estava faltando produto novamente e já estamos ampliando de novo.

 

OP - Qual foi o impacto com o Minha Casa, Minha Vida em contenção, o Governo contendo gastos?


Ana Lúcia - Agora, no meio de junho, está começando a ter esse impacto. Mas ocupamos espaço de outras fábricas que não ampliaram, que não melhoraram a qualidade. Então, tem que fazer estudo, planejamento estratégico, ver onde estão os problemas e tentar resolvê-los. Faz uma diferença enorme você não prestar atenção.

 

OP - Como é que a senhora presta atenção na Cerbras?


Ana Lúcia - Qual o produto que vende mais? Não vou tirar esse produto de linha. Presto atenção no vendedor. Se a pessoa não prestar atenção, fica com produtos parados que você comprou e não está usando.

 

OP - Com qual periodicidade vocês lançam uma coleção?


Ana Lúcia - O desenho da cerâmica era feito com rolos serigráficos enormes. Quando esse rolo estragava, tinha que vir novos rolos. Então, a inovação é feita pelos fornecedores de equipamentos. Eles sempre vão buscando uma tecnologia mais avançada e a última que eles desenvolveram foi um equipamento que imprime em HD, alta qualidade, na cerâmica. A inovação depende de inovação na parte de maquinário que é fornecido.

 

OP - Pelo que a senhora falou, a Cerbras não está demitindo, está expandindo. Nessa expansão, você vai mudar a linha de produção, segmento que você já domina?


Ana Lúcia - Estamos com um novo projeto, breve, de porcelanato. Não tem uma data específica, mas a gente está bem. O processo é bem diferente do atual e o custo de fabricação é bem maior. O produto sai mais caro. A gente está pensado, talvez perto do Porto do Pecém que fica melhor para exportação. Eu acho maravilhoso ter a ZPE, faz uma diferença enorme e é muito importante que exista. Então, a ideia é ir para a ZPE.

 

OP - Sei que a senhora interferiu para que o Brasil mudasse sua relação com a China na concorrência de porcelanato. Como foi essa provocação que chegou ao então ministro Fernando Pimentel, hoje governador de Minas Gerais?


Ana Lúcia - Em 2011, as fábricas no Brasil que produziam porcelanato estavam deixando de produzir, importando da China. Era um processo de desindustrialização. Enviei e-mail para o chefe de gabinete do ministro. Quinze dias depois um amigo me liga e diz que os portos do Brasil estavam repletos de porcelanato, que o Governo brasileiro colocou canal vermelho para ter admissão do porcelanato que estava entrando da China. Após isso, ele criou um imposto de 35% para o porcelanato da China. As fábricas voltaram a produzir porcelanato.

 

OP - Mas mesmo com esse imposto, ainda há concorrência com a China no exterior, já que a Cerbras entrará no mercado de porcelanato.


Ana Lúcia - Vamos tentar vender no exterior, mas nosso foco maior é o mercado interno. A nossa importação hoje ainda é muito pequena. Nesses últimos anos a gente não exportou porque não tínhamos produto suficiente para exportar. Teve ano que a gente exportou muito para a Venezuela, outro ano para a Jamaica. Nós iniciamos para Cabo Verde. O início foi engraçadíssimo. No primeiro dia que íamos exportar, o navio deu o prego.

 

OP - Saindo um pouco do mercado. Como a senhora está trabalhando a sucessão na empresa?


Ana Lúcia - Quando meu marido morreu, meu filho do meio tinha 19 anos e trabalhava conosco. Ele sofreu comigo todo esse processo. Nós conseguimos crescer juntos e a participação dele é importantíssima. Ele fez informática e a fabrica é altamente informatizada graças a ele.

 

OP - Há mais filhos?


Ana Lúcia - Sim. A mais velha, Ticiana tinha escritório de arquitetura e quando a gente começou a pensar na ampliação, pedi para ela trabalhar conosco. Ela resistiu, porque gosta muito de arquitetura, mas já está na fábrica. Todas as ampliações que foram feitas, ela quem está à frente. Ela também é da área administrativa. Tem a minha caçula, Mariana, que foi em busca da qualidade. Ela era da área comercial e foi para a industrial. Tem também a Maria Isabel, minha neta, que faz Engenharia de Produção na Unifor. Ela fica no desenvolvimento de produtos. As três mulheres trabalham dentro da fabrica. Então, eu já não faria falta. Isso eu tenho certeza! Meu papel agora é institucional.

 

perfil

 

ELA COMANDA. Ana Lúcia Bastos Mota era para estar no setor público. Por insistência do marido, saiu da Teleceará e foi trabalhar na Cerbras. Após a morte do marido, teve de assumir a empresa junto com o filho, Felipe Bastos Mota, que já atuava na fábrica, na época, aos 19 anos. Avó de sete netos, Ana Lúcia tem 71 anos e diz que já está preparada para ser sucedida na empresa. “Eu já não faria falta (na fábrica). Isso eu tenho certeza!Meu papel agora é institucional”, diz. Como empresária, define-se como um peixe fora d’agua. Isso porque enquanto a grande maioria é de ideologia de direita, Ana Lúcia foi formada na esquerda.

 

Veja a entrevista completa em

http://bit.ly/1H7JNel

 

Multimídia

Veja entrevista no programa Vertical S/A

http://bit.ly/1HIGelb

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