[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Ponto de vista | Fortaleza | O POVO Online
25/06/2012

Ponto de vista

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Há três anos experimento o que o Cocó ainda oferece para Fortaleza. Três ou quatro vezes por semana, passo de uma a duas horas por lá. Dentro ou no entorno. Em horários nunca iguais. Botei em minha cabeça que queria conhecer o que nenhuma escola me ensinou sobre a floresta que existe na Cidade onde nasci. Nem a universidade me contou.

 

E por um bem querer, que não sei explicar, resolvi fazer um inventário sobre o rio e a floresta que vivem atrás dos prédios e debaixo do concreto. Ideia de menino, mas um prazer. Contar os pássaros, catalogar as borboletas, fotografar peixes, identificar plantas, arquivar imagens de aranhas e outros mundos. Fazer anotações.


Comprei livros, mudei de máquina fotográfica e troquei lentes. E, mais que isso, fui me familiarizando com os ciclos de vida que se processam por lá. Não há repetição, há ressurgência. Daí, comecei a perceber equívocos nas gestões que se revezam no parque (que ainda não é parque e nem será neste governo).


Cuidado questionável com as espécies que vivem por lá, conhecimento de gabinete e tratamento dispensado à floresta com mentalidade do tempo em que se mandava cortar o “mato”. Sem critérios e observação de causa e consequência.


Cito um exemplo. Durante três anos, observei o deslocamento dos borboletários. Jardins naturais que se formam em determinados locais do Cocó e que atraem centenas de insetos e seres mínimos, muitas vezes só captados pelo olho da lente macro.


Para quem é apenas passageiro nas trilhas do Cocó, os borboletários são apenas matagais. Aparentemente capim sem poda. Não há neles flores de encher a vista numa olhadela de soslaio. Mas não é bem assim. Quando o tempo das chuvas passa, há um movimento de floração e uma atividade frenética de borboletas e outros insetos que auxiliam no ressurgimento de espécies: bichos e plantas.


E não há problema no olhar desapercebido do caminhante, do passageiro. Com campanhas efetivas, desembaça. Mas para os gestores do parque é imprescindível a percepção. O contrário dá no que registrei ao longo desses três anos. Em nome da poda do “mato” que crescia nas bordas dos caminhos, cortaram um borboletário ativo na primeira ponte da trilha do rio (corte recente). Destruíram várias vezes, na curva da primeira lagoinha de alimentação, um que era repleto de flores roxas (minúsculas) em pendões. Outro também foi ao chão na trilha que dá para o primeiro campo de futebol. Detonaram ainda um pé de maracujá em época de floração, vizinho à administração do “parque”.


O borboletário é um grande ínfimo. Há outros entraves. Como um banheiro (ou monturo) a céu aberto na mata ao lado dos campos de futebol.


Fezes, papel higiênico, jornais, meias, chuteiras velhas, garrafas de cachaça, PETs de refrigerantes, latas, sacos de salgadinhos etc. Há de se encontrar, por meio de conversa franca, uma saída para favorecer o Cocó e a comunidade que usa o espaço. Quem anda ou corre por lá tem de se apropriar do Cocó como parte integrante do bioma. Sentir-se daquele mundo.


A gestão no Cocó merece reparos e tem de estimular o fluxo de informações e a participação da sociedade. Não se fechar em correntes e optar pelo discurso autoritário de que isso pode e aquilo não pode.


Há de se estimular o diálogo para garantir a existência dos mundos que ali se movem e quão se tornam essenciais para a cidade. O Cocó é uma porta (ou portal subjetivo) para que Fortaleza se reintegre ao que foi se apartando. Somos também da floresta e não somos superiores a uma árvore, um pássaro, um grilo ou a uma rã.

 

Demitri Túlio, repórter especial do O POVO

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