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Nelson Duarte começou por acaso a trabalhar com cachaça. Desempregado no início dos anos 2000, um amigo lhe convidou pra vender sua cachaça em São Paulo. Topou. A curiosidade lhe levou além. Pra conhecer melhor o produto que oferecia, se enfiou nos matos - cortou cana, moeu, aprendeu sobre fermentação, sobre produção. Quis então somar um conhecimento mais acadêmico à experiência. E fez parte da única turma de Tecnologia em Bebidas oferecida pela Universidade Anhembi Morumbi. Hoje, é mestre alambiqueiro e master blender, um dos maiores especialistas em cachaça do Brasil.
O título lhe rendeu um convite em abril para prestar consultoria à multinacional Diageo e desenvolver a nova linha de cachaças da Ypióca, lançada no início deste mês. Indo e vindo na ponte-aérea Fortaleza São Paulo, ele passou pela redação na semana passada para o bate-papo que voc~e confere a seguir.
OPOVO - Há muita divulgação em torno da cultura do vinho e da cerveja. Mas nunca vemos cursos sobre cachaça, eventos que celebrem a bebida. O senhor acha que há algum preconceito?
Nelson Duarte - Acho. Tem melhorado mas ainda há muita vergonha de tomar cachaça em público. As pessoas bebem cachaça em casa. Mas isso é um ranço histórico. O senhor de engenho tomava cachaça em casa e outra bebida no empório. Lá tomava um vinho ou outra bebida importada. A origem da cachaça vem de baixo. Dizem que foi um acidente na senzala – mas na minha opinião o português já sabia destilar cachaça – se plantava cana nos Açoures (arquipélado que pertence a Portugal). Os portugueses trouxeram essa tecnologia para o Brasil. Mas era uma bebida barata se comparada ao vinho e outras bebidas importadas. Então tinha aquela cultura de que era uma bebida de pobre. Quando se aboliu a escravatura os negros não tinham trabalho e ficavam vagando pelas ruas e o alimento era a cachaça pra suportar a fome o desamparo. Daí o ranço que ainda existe.OPOVO - Onde são os primeiros registros de cachaça no Brasil?
Nelson - Cronologicamente, a cana veio para o Brasil em 1530, 1532. Logo depois você começa a ter notícias de engenhos de cana de açúcar e do surgimento da cachaça. Há uma controvérsia, uns dizem que foi em São Vicente (SP) no Engenho dos Erasmos. Outros dizem que foi em Pernambuco. Li recentemente um outro trabalho que diz que foi em Porto Seguro, na Bahia. Então não há certidão de nascimento.
OPOVO - Hoje o Brasil tem uma grande variedade de boas cachaças? Como o senhor vê o mercado?
Nelson - Eu vejo o mercado hoje num momento muito bom. Você tem boas cachaças de alambique. As mineiras são as mais famosas, mas não só em Minas se produz boas cachaças. Se faz cachaça boa no País inteiro. O grande desafio hoje é separar o joio do trigo. É separar as boas cachaças das ruins que por serem produzidas de forma artesanal no alambique já são rotuladas de boas logo de cara. Existem boas cachaças de alambique como existem boas cachaças feitas em destiladores contínuos, em colunas como dizem. O caso da Ypióca. Eu não teria aceitado esse desafio se eu não achasse a matéria prima muito boa. Tenho um nome a zelar.OPOVO - Como foi esse trabalho para chegar nos novos produtos da Ypóoca?
Nome - Meu namoro com a Ypioca vem desde abril para desenvolver essa nova linha de líquidos. A gente procurou adequar o que tinha de melhor no nosso estoque à necessidade de mercado – uma cachaça industrial de qualidade superior que pudesse ser degustada pura, servir de base para coqueteis. Que pudesse ser tomada em comparação com qualquer outra cachaça inclusive de alambique. O desafio que me foi proposto e eu aceitei foi tornar a cachaça industrial no caso a Ypióca sensorialmente o mais próximo possível de uma cachaça de alambique e a gente não chegou lá ainda mas tá bem perto.
DICA DE LEITURA 1
Cachaça: a Bebida BrasileiraDe Erwin Weimann. Editora Terceiro Nome, 2009, 152 páginas
DICA DE LEITURA 2
Cachaça, o mais brasileiro do ssprazeresDe Jairo Martins. Editora Anhembi Morumbi, 2006, 211 páginas
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