[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Amor por todas as formas de vida | Fortaleza 286 anos: Cidade da Delicadeza | O POVO Online
13/04/2012

Amor por todas as formas de vida

Vida nenhuma é pequena. Amor algum é menor. No cuidado de criaturinhas indefesas, salva-se um pouco do que há de humano na cidade
Sara Maia
Lania criou grupo que adota gatos abandonados. Vive com 14 deles, mais a cadela Pamonha
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A vida com animais por perto é mais feliz. Penso assim. E quem gosta de cães e gatos ganha, na minha contagem imaginária de humanidade, muitos pontos. Nesse cálculo do bem, Tânia da Silva está com muito crédito. São mais de 50 animais, todos abandonados, pelos quatro cantos de Fortaleza. Não são vira-latas, nem SDR (sem raça definida). Para Tânia, “raça brasileira”. Desse naipe, chegaram Liza, Sol, Bilé, Bingo... Velha e cega de um olho (o tempo também é cruel com os não-humanos), a cadela Juju foi abandonada e só encontrou refúgio em Tânia. Além do tempo dedicado, é preciso dinheiro para o aluguel da casa que dá sossego aos bichos e para os 250 quilos de ração que eles consomem por mês, sem falar de remédios e xampus. Com outros protetores independentes, a ex-bancária segura as pontas.


Como nem todo amor é compreendido, o sentimento de Tânia também foi colocado à prova. Ou eles, ou eu, sentenciou o marido. De nada adiantou. “Eu cato gatinhos desde criança. Nasci assim”, justifica entre gargalhadas. E no meio dessa história ninguém se deixou de fora. Porque bichos e marido não são incompatíveis.


Lania Cardoso também foi incompreendida, tachada de louca, por seu amor sem tamanho pelos animais que encontrou (ou a encontraram). “É uma limitação achar que só o homem importa, é uma visão muito antropocentrista. Eu não penso assim”, amplia-se.


Tudo começou com Pamonha, que pariu num bueiro. Lania passou por ali, viu a cria e a levou para casa. Depois de três dias, o filhote não vingou. A jovem voltou ao local para dar comida à cadela. Podia estar doente, pensou. “Ela me seguiu até minha casa, passou dois dias lá na frente, no sol quente”, recupera a cena. Lania acolheu Pamonha (as duas moram hoje com 14 gatos). Mas não foi só. A geógrafa criou um grupo que adota bichanos abandonados, salva os animais de maus-tratos, resgata os que foram atropelados, trata os doentes e famintos. “Minha maior recompensa é ver que aquela vida está tendo condições de existir. O sofrimento, em todas as espécies, é muito doloroso”, diz, como se tivesse aprendido com o próprio São Francisco de Assis - “toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida”.


Lania e Tania não estão só na peleja de proporcionar vida melhor a animais abandonados. Seu João Carvalho, em pedaladas pelo Cocó, encontrou bichanos famintos. Há cinco anos, alimentá-los, com ajuda de mais quatro pessoas, virou caminho habitual. “Nos dias em que como e bebo, eles comem e bebem também”, simplifica o ato de gentileza.


Os bichos que perambulam nas ruas motivaram Priscila Silveira e Rúbia Bernandes a buscar lares para cães e gatos. No Facebook e no Orkut, divulgam animais disponíveis para adoção – vermifugados e castrados.


Entre “curtidas” e “compartilhamentos”, aparece o trabalho de Rosane Dantas. Ela deixou emprego e namorado para se dedicar ao abrigo que criou, inspirada na dedicação do avô. Quando a casa está cheia, 180 bichos!


A poodle com maltês, Vicky, já recuperou o pêlo. Quem sabe um dia recupere também a confiança no bicho-homem. A cadela foi encontrada amarrada, toda queimada, crueldade que custou a visão de um olho e lhe deixou medrosa de gente, conta Rosane, entre latidos que participam da conversa.


Peace, uma pitbull jogada muito magra e ferida num contêinere de lixo, ganhou o nome porque ainda acredita-se na paz – entre todas as criaturas. “Vivo da boa vontade de quem gosta dos bichos e aí Deus abençoa. Não salvamos só animais, nós salvamos gente”.


DELICADEZA É...


Tem gente que nem dá fé. Tem gente que despreza. Tem “gente” que violenta. Mas, felizmente, tem GENTE (tudo em caixa alta mesmo) que cuida da vida com uma semelhança franciscana. Ajudar quem precisa de ajuda. Tenha uma, duas ou quantas patas tiver. Cuidar de cães e gatos abandonados pela cidade de asfalto é uma

das delicadezas da Fortaleza de 286 anos. É estar na contramão dos carros que só buzinam e aceleram; dos prédios isolados em cercas e câmeras que olham, com medo, para vida lá fora. O tempo e o dinheiro que essa gentileza exige não podem ser mensurados simplesmente. Não são gastos, não são perdas. Porque o amor nem liga pra isso. É de graça.


Manoella Monteiro manoella@opovo.com.br
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Carla Lousada 13/04/2012 12:30
parabéns pelo texto! Sinal de que a sociedade busca mudanças na interação homem-animal, de respeito, de tolerância e valorização do convívio harmonioso com outras formas de vida.
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Priscila Prata 13/04/2012 11:56
Belo texto! Demonstra em algumas palavras o magnífico trabalho dos protetores de animais! Parabéns a todos os protetores! Parabéns Manoella Monteiro pela matéria.
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