crõnica 17/07/2017 - 16h25

Céu de contemplação

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Céu de contemplação

 

 

José Periandro Marques

 

 

 

Foi dito: o céu foi feito para os anjos, criaturas de Deus, que embelezam a Corte Celestial com sua graça e inocência. Entre risos cristalinos, cânticos divinais, intermináveis orações e adoração permanente ao Santíssimo, os querubins e serafins passam em folguedo seus dias eternais, em sonidos amenos e despreocupados. Enquanto a razão Paternal assim laborou, conforme nos foi ensinado, o espírito humano conquistará o Paraíso ao fim de sua romagem terrena, mais ou menos prolongada, se bem souber enobrecer e conduzir virtuosamente sua existência.

Para os anjos, céu límpido, aroma de cerejeira, sobeja alegria, restando a bem poucos entes divinais claros labores, tais como o de Gabriel, de anunciar a Maria a vinda do Divino Menino, e a peleja de Miguel Arcanjo contra Lúcifer, que era Luz.

No pensar disseminado pela religiosidade, há uma espécie de alienação mental: as dores do mundo não afetam os corações puros, que deveriam primar pela exaltação à Caridade e ao Amor Sublimes. A indiferença das entidades primorosas não soa como egoísmo, e o egoísmo não é uma chaga que denuncia impureza explícita?

Qual o padrão estipulado pelo Rei para fundar e administrar a Mansão dos Deuses conforme seus sagrados desígnios? A potencialidade dos seres alados será de natureza tão rasa ao ponto de ser desperdiçada em momentos lúdicos?

Para que evocar sumidades, se elas estão distraídas ou figurando em coros altissonantes? Isto não se afigura verdadeiro acinte para os simples humanos, que se debatem no pântano das injustiças? Que ideia se faz do Soberano, que privilegia diletantismo e elitismo e inviabiliza as potestades de agirem efetivamente para transformação dos mundos?

Quantas aflições pairam sobre os orbes e as inteligências imensuráveis são desperdiçadas por injustificável determinação da Deidade?! A inteligência hominal queda-se assombrada ante tal absurdidade. Não há outra forma de se promover utilidade? O descanso eterno prometido aos desencarnados, consoante apregoado em velórios vários, soa como mérito ou descalabro? Em que se enaltece e gera progresso a ociosidade?

Não, isto não condiz com evolução nem operosidade; estagnação sublimada, eis o que nos é apresentado através de argumentos superados. Assim, como corroborar com deliberações tortuosas e conflitantes? Como consenti-las? Como aceitá-las?

A Lei do Progresso, a expansão da inteligência e a aquisição do conhecimento contestam o insensato argumento de que nada se cria nem se processa no ambiente divino.

E se se convencesse a criatura que do mesmo modo que os espíritos trevosos atormentam cidadãos maléficos ou pacíficos, as falanges do bem igualmente atuam produzindo bem-estar e harmonia? Ela finalmente acreditaria que o Pai não despreza seu filho nem o deixa à mercê de forças malignas?

O nobre e sábio Jesus Cristo nos afiançou que o Reino dos Céus está dentro de nós e para consegui-lo, precisamos internalizar e praticar seus ensinamentos e persistir na caminhada venturosa e evolutiva que jamais finda.

Você acredita, prezado amigo, que o Prodigioso Rabil está sentado em seu trono de glórias, reverenciado por figuras angelicais, ou se multiplica em atividades meritórias, organizando, coordenando e aplainando os terrenos pedregosos percorridos pela espécie humana?

O prodigioso cosmos se renova e sustenta em obsequioso movimento ou se guarda preguiçosamente entre nuvens e poeiras cósmicas?

Onde há trabalho incessante, sobra tempo para descanso?

 

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