crônica 10/03/2017 - 17h48

Isso de ser escritor

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ISSO DE SER ESCRITOR





A meu ver escrever é coisa para muitos no começo da vida, ali, pelos 16 anos, namoricos, versos riscados em guardanapos surrupiados das mesas de bares entre um beijo e outro, um trago de vodca ou de um cigarro barato qualquer. Não se precisa de uma musa, mas de várias. Aquela ânsia de beijar bocas e nucas, crendo ser a poesia ou o que o valha em um só mesmo tempo válvula de escape e saída para o dinheiro quase sempre curto no bolso.
No entanto, logo chega a tal da idade adulta e com ela o fim da adolescência dourada de amores e amigos que vão, uns reaparecendo aqui e acolá; outros desaparecendo quais fantasmas à luz de um novo raiar de sol. Ali começa o fio da navalha: continuar ou não escrevendo. Um meu segredo em forma de sugestão se aplica: Se ela – a escrita – não continuar pulando de ti sendo escarrada pelos brônquios já um tanto estragados pelos excessos da vida, melhor desistir e buscar carreira mais próspera.
Se tiverdes que passar horas a fio defronte a uma fria e irritante tela de computador comece a desconfiar que algo vai errado. Escolher palavras difíceis, debulhar a verborragia típica de quem quer ser fechado e metido a intelectual de botequim não te levarás a nada a não ser à completa miséria.
Se continua a escrever para pavonear-se e sempre visar o velho vil metal, não o faças; se ainda for por corpos em tua cama, nem tentes; se dá um trabalho desgraçado rabiscar versos ou textos mais largos, tendo que sentar um milhão de vezes para reescrever o que já parece estar pronto, melhor rever seus conceitos de o que é poesia e o de que é reboco, casas começadas pelo telhado e não por alicerces profundos. E, principalmente, se tentares escrever como os outros escrevem a coisa lascou de vez. Cuidai da escrita correta sem os sacizinhos de que falava Monteiro Lobato. Ou seja, mantenha o clímax, entregue-se, mas não se torne um segredo intragável e cansativo. Há leitores por todo o planeta entediados até o mais profundo adormecer com os da espécie que escreve coisas que nem mesmo eles entendem ou lembram mais o significado.
Se manter-se parado, estático diante de um cursor te leve à insanidade, homicídio ou ao suicídio e tuas vísceras não arderem em brasa por conta do fluir de teus dedos diante de um teclado desgastado, não arrisque mais. E se e quando chegardes à altura de ser um escolhido, aí sim, deixe que tua escrita escorra pena abaixo até que teu corpo morras ou venhas a morrer em si. Sem isso, não há remédios ou panos quentes que te escondam dos que verdadeiramente sabem de ti e venderás livros e mais livros depois da tua morte.



Túlio Monteiro

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