[an error occurred while processing this directive] Quem ama em demasia não deixa espaço pra ser amado - Jornal do Leitor - O POVO ONLINE
cronica 08/12/2016 - 12h38

Quem ama em demasia não deixa espaço pra ser amado

notícia 0 comentários

Quem ama em demasia não deixa espaço pra ser amado

 

Samuel Ivani

 

Para ele, o amor, mais do que qualquer outra coisa, quase sempre fora um fardo. Um fardo que ele fora acumulando ao longo de anos amando exageradamente a tudo. Na medida em que o tempo passava, cada paixonite que sentia, acrescentava uns mil por cento no volume que ele carregava consigo a duras penas. De cada pessoa que amava, por amar demasiadamente, sempre sobrava um tanto de sentimentos que ele não conseguia descarregar, de modo que, mesmo sufocando a pessoa amada, ainda assim, era preciso que ele proferisse umas juras de amor aos ventos, ou que dissesse coisas que outrora pensara para a pessoa amada para desconhecidos nas ruas, apenas para que ele não se afogasse em seus próprios sentimentos.

Quando ele, por qualquer que fosse o motivo, ficava sem ter a quem transferir o seu infinito amor, ficava insuportavelmente ridículo. Não podia ver uns olhos, uns cabelos, ou qualquer que fosse a qualidade cuja de alguma forma era uma característica que uma dia amara em alguém, que simplesmente, de uma única vez, depositava nessa pessoa todo aquele amor acumulado ao longo de anos amando em demasia a tudo e a todos a sua volta. Deste modo, a pessoa cuja era a privilegiada, com toda razão, em poucos segundos já sentia-se amada eternamente por ele e logo percebia que não necessitava amá-lo também para ser amada, assim, não necessitava gastar energia o conquistando de qualquer forma.
A vida tem dessas de equilibrar tudo e, por julgar que seria sentimento demais envolvido e um gasto de energia excessivo, já que ele amava por dois por três ou mais, a outra pessoa não precisava amá-lo também para obter aquelas vantagens de quem ama.

Um dia, depois de amar tanto, depois de cometer todos os erros imagináveis proporcionados por àqueles que amam demais, ele mais uma vez, por pura casualidade, encontrou novamente uma pessoa que ele julgou ser amável. E de súbito, sem reflexões, como sempre acontece com quem ama em demasia, à amou tanto, que ele próprio não sentia-se bem com todo aquele sentimento que ele amargava a si e a todos a sua volta.

A pessoa amada também não suportou ser tão amada, ser bajulada, colocada em castelos de diamantes que nem de longe existiam na realidade. E depois de ele cometer ignomínias ao montes, de ter sido ridículo sem perceber, de ter sido motivo de chacota de seus amigos e conhecidos, ele resolveu que era hora de por fim a todo aquele amor que o sufocava.

Fechou-se ele em seu próprio mundo e, resolveu que não iria mais descarregar seu amor insuportável a ninguém. Era de fato um bom plano, porém, conheceu ele uma garota com grandes olhos negros e não conseguiu levar adiante o que pensara enquanto não amava ninguém. Era ele, sem sombra de dúvida, alguém que nascera para amar. Ser amado, bem, isso talvez das poucas vezes que conseguira, não fora ele sábio suficiente para notar a tempo, só depois que já não mais adiantava nada. Ser amado, seu amor em demasia não lho permitia. Estava ele fadado a este duro destino.

Numa noite, puxou ele o gatilho de sua pistola Walther disparando contra sua imagem no espelho. Aquela pistola era a única herança que seu pai lhe deixara. Ela cabia perfeitamente em sua mão e se encaixava como uma luva ao seu coração. Pensou ele que pela primeira vez na vida amava algo que por pura intensidade não se auto anulava. Aquela pistola era uma dama negra brilhante e charmosa, e como se não bastasse, dizia que o amava mais que tudo enquanto piscava de soslaio com seu brilho refletido a luz da lua.
Toda a vida até ali, ele não amara nada que não piscasse intencionalmente o olho enquanto sorria, embora não fosse aquele gesto direcionado a ele. Ele segurou aquela bela dama negra contra o coração e, lacrimejando, resolveu que iria destruir aquele cujo o impedia de ser um idiota normal que amava pouco ou nada.
Aquela pistola que ele amara, não diferente de todas as outras vezes que despejou seu amor sem economia a todos e aos ventos, o destruiu. Males de quem ama em demasia.

espaço do leitor
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro a comentar esta notícia.
0
Comentários
500
As informações são de responsabilidade do autor:

COMO COLABORAR

  • 1

    Participe você também

    Envie sua colaboração para o email: jornaldoleitor@opovo.com.br e seu texto estará no Jornal do Leitor Online

  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

ACOMPANHE O POVO NAS REDES SOCIAIS

Newsletter

Receba as notícias do O POVO Online

Powered by Feedburner/Google

O POVO Notícias | Jornal do leitor O POVO | Cronicas O POVO