Fabiani Cunha 30/03/2014

- O PRESO -

Fabiani Cunha, professor
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"Foi o ano em que entrei na Faculdade de Direito da UFC - 1964. Quando chegamos na universidade já acompanhávamos as questões. Logo no primeiro ano enfrentamos processos. Lembro que existia um centro de debates onde os alunos tinham liberdade. Eu ia fazer uma palestra, mas não fiz, pois ‘estavam em cima’. Eu tinha que responder um processo por ser contra o aumento no preço das passagens de ônibus. E professar ideologias estranhas.

Era metido a intelectual da vida de São Francisco. Depois me defendi do processo dizendo que era religioso, católico e devoto. Mas não ficou tão simples. Foram crescendo. Esse movimento de 1964 foi, na verdade, a reação de 1964. Pois já havia, por parte dos operários, mobilizações. E eles (Forças Armadas), então, para reprimir aquelas manifestações, saíram não com a revolução de março, mas com a reação de março. A participação universitária foi tomando fôlego no Brasil. Os DCEs e CAs eram centrais. Nós comandávamos as passeatas. Os estudantes eram retirados de dentro das salas de aula.

Quando a coisa apertou tive que me ausentar. Fui para o Amapá. Em 1968, estava matriculado em Filosofia na Uece. Veio o AI-5. Os DCEs eram comandos; nós tínhamos embates. Saíamos em passeada gritando contra a ditadura, era um comportamento que desagradava. Uma vez, ainda na faculdade de Direito, os alunos não tiveram condições psicológicas para fazer uma prova, pois os soldados estavam fazendo exercícios perto das caixas d’água. Pouquíssimos professores na faculdade (de Direito) não foram alvo de processos. (...)

Os generais também se desagradavam da participação feminina. A mulher! Essa que é o perigo. O movimento tomou mais força quando as mulheres passaram a integrar. Mas, para nós, rapazes líderes, foi surpreendente ver a participação feminina. Como se nós não estivéssemos preparados para receber aquela contribuição tão revolucionária. (...)

Fui preso em outubro de 1970. Fui torturado. Fiquei nove anos. Tenho uma foto com minha filha quando ela tinha dois meses. Dom Aloísio (Lorscheider) sempre nos visitava. E, como eu havia estudado Direito, conhecia leis. Falei para ele sobre as concessões para sair em caso de morte ou nascimento. ‘Pois você vai ver a sua filha’, respondeu. Ele conseguiu, mas foi um alvoroço. Os policiais cercando todo o quarteirão".

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