[an error occurred while processing this directive] As histórias por trás da história | O POVO Online
ENTREVISTA 07/05/2016 - 17h00

As histórias por trás da história

Entre o humor e a tragédia, novo Guia Politicamente Incorreto revela bastidores da vida pessoal e pública dos presidentes do Brasil
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Marcos Sampaio marcossampaio@opovo.com.br
DIVULGAÇÃO
Capa do novo Guia Politicamente Incorreto

Já foi com o mundo, a América Latina, a Economia, a Filosofia e até o Sexo. Agora chegou a vez de contar histórias que ficaram esquecidas ao longo do tempo. Outras, bem que os envolvidos gostariam que fossem esquecidas, mas sempre tem um ou outro que vem e lembra. E essa é a meta por trás do Guia Politicamente Incorreto dos Presidentes da República, lançamento da editora Leya que deita e rola sobre detalhes pouco conhecidos dos personagens que ocuparam o mais alto posto da gestão pública brasileira.

De Deodoro a Dilma, quem se dedicou por dez meses a essa pesquisa foi o escritor, tradutor e ilustrador paulista Paulo Schmidt. Vendo o noticiário atual como um banquete para quem estuda a história do País, ele se ofereceu para assumir o projeto e mergulhou em dezenas de livros, revistas, jornais e outras fontes que poderiam lhe fornecer munição. “O trabalho maior foi separar o joio do trigo, ou seja, a informação verídica dos elogios e louvaminhas de filhos, amigos e partidários”, admite o autor que não economiza críticas aos “chefes” do Brasil.

O POVO – Como surgiu a ideia do livro?
Paulo Schmidt – Foi uma iniciativa minha, ofereci o projeto do livro à editora LeYa no ano passado. Eles perceberam de imediato que o momento político era extremamente propício a uma publicação com essa temática e aprovaram.

O POVO – Como foi a pesquisa para o livro? Que fontes foram mais importantes? Paulo Schmidt – Como o assunto sempre me interessou, eu já tinha uma bagagem reunida (livros, revistas, artigos de jornal, etc.). As principais fontes orais foram duas pessoas — que pediram para não ser identificadas — bastante próximas aos presidentes Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Mais importantes, no entanto, foram as fontes escritas, entre biografias e memórias de jornalistas, políticos ou parentes dos presidentes. O trabalho maior foi separar o joio do trigo, ou seja, a informação verídica dos elogios e louvaminhas de filhos, amigos e partidários. A pesquisa durou seis meses, e a escrita, quatro.

O POVO – Ao longo da pesquisa, mudou sua opinião sobre algum dos presidentes? Paulo Schmidt – Sim. Eu tinha uma opinião negativa sobre Juscelino Kubitschek, pois estava influenciado pelas calúnias que a extrema direita da época lançou sobre ele, acusando-o de corrupção e enriquecimento ilícito com a construção de Brasília. Descobri que nada poderia ser menos verdadeiro: não houve desvio ou superfaturamento significativos durante a edificação da nova capital, nem por parte de JK, nem por parte dos fornecedores, nem por parte da empreiteira responsável. O que, convenhamos, é extraordinário, dada a magnitude do projeto.

O POVO – Que características existem em comum entre todos os personagens que assumiram a presidência da república?
Paulo Schmidt – Acredito que até o mais democrático deles, na cerimônia de posse, deve ter se sentido como um monarca sendo coroado, não como um servidor do povo recebendo uma tarefa a cumprir. A pompa desse cerimonial — desfile em carro aberto, Dragões da Independência, 21 tiros de canhão, etc. — nada tem de republicana. Não admira todo político sonhar em ser presidente da República, pois esse cargo é visto como uma mina inesgotável de poder e regalias, não como trabalho duro em prol do País.

O POVO – Na sua avaliação, quem foi o melhor e o pior presidente do Brasil?
Paulo Schmidt – O sistema presidencialista de governo é tão nefasto que o menos ruim de todos os presidentes brasileiros foi um ditador impiedoso e daninho à democracia, embora responsável pela industrialização e a modernização do País. Claro que me refiro a Getúlio Vargas. A pior presidente é a marionete assumida de Lula, Dilma Rousseff, mistura rara de incapacidade, arrogância e ausência de espírito público, que nada fez além de aprofundar o “projeto criminoso de poder” — termo cunhado por um ministro do STF — inaugurado por seu titereiro, condenando o Brasil ao desemprego em massa, à desindustrialização e à pior recessão econômica de sua história.

O POVO – Discutir política através do humor é uma prática comum no País que ganhou ainda mais volume com as redes sociais. Até que ponto esse humor contribui com a discussão?
Paulo Schmidt – De modo geral, o brasileiro sempre teve muita disposição para rir das suas mazelas políticas e sociais em vez de se indignar e combatê-las. Isto está começando a mudar. Espoliados além de qualquer limite, nos últimos anos, pelo governo mais corrupto de toda a sua história, os brasileiros têm demonstrado uma recém-descoberta capacidade de se rebelar contra a corrupção. Mas o humor permanece, embora temperado com indignação, e um exemplo disso é o Pixuleco, boneco inflável representando Lula vestido de presidiário que tem participado de todos os últimos grandes protestos contra o governo lulopetista.

O POVO – Observando a história do Brasil, corrupção, favorecimento, nepotismo são temas frequentes. Na sua avaliação, por que isso sempre foi assim?
Paulo Schmidt – São vários os motivos. O colonialismo essencialmente predatório instaurado no País desde a sua descoberta, aliado à escravidão e outros vícios sociais, gerou uma classe governante que sempre zelou pelos seus próprios interesses, nunca pelos do povo. Essa classe, por sua vez, originou um Estado absurdamente inchado, protecionista e parasitário, que sobrecarrega o cidadão com impostos abusivos, oprime-o com leis péssimas, estorva-o com burocracia e insiste em regular todos os aspectos da vida dele, decidindo o que ele pode comprar, o que pode assistir na TV, quais empresas pode contratar, quanto deve pagar a um empregado, etc. Em tal situação, resta ao brasileiro apenas a desobediência às leis, sonegação de taxas, mercado negro, pirataria, economia informal, enfim, todo tipo de subterfúgio para escapar ao monstro estatal que lhe suga o sangue. Tais atitudes criaram no País a cultura do “jeitinho”, mas não é verdade que o povo brasileiro seja naturalmente inclinado à corrupção, fisiologismo e outras mazelas. Quem diz isso são os delinquentes que querem responsabilizar o País por seus próprios delitos.

O POVO – Independentemente de opiniões ideológicas, Lula é um personagem curioso da política brasileira, por ser o único presidente de origem humilde, ex-sindicalista, etc. Na sua avaliação, quais foram os principais erros e acertos da administração dele?
Paulo Schmidt – O debate sobre Lula há muito deixou de ser ideológico para se tornar ético, e o nome dele vem frequentando a crônica policial tanto quanto a política. Ele não foi, a propósito, o único presidente de origem humilde: bem antes dele governou Nilo Peçanha, entre 1909 e 1910. Essa é uma das muitas mentiras componentes do currículo de Luís Inácio da Silva, que nunca passou de um produto de marketing político. A extensão completa do saque que esse homem promoveu no País, por meio do maior e mais complexo sistema de corrupção de que se tem notícia, apenas começou a ser apreendida. No meu entender, perguntar que bem ele fez ao Brasil é como perguntar que bem o Maníaco do Parque fez às mulheres que assassinou. Espero que prendam Lula o quanto antes e joguem fora a chave.

O POVO – Você afirma que “Dilma não foi tão torturada” e argumenta que não viu nenhuma prova concreta sobre o assunto. Que provas você esperava encontrar, já que você mesmo diz que os militares não tinham registro sobre as torturas?
Paulo Schmidt – Se não é possível obter provas de que Rousseff foi torturada, resta apenas a palavra dela, que, para mim, de nada vale. Acredito que foi por dinheiro que ela inventou ter padecido tortura, um dos inúmeros abusos cometidos pela chamada Bolsa Ditadura, instituída em 2002 para pagar pensões e indenizações, muitas delas milionárias, a supostas vítimas do regime militar. Rousseff faturou nada menos que R$ 72 mil. O próprio Millôr Fernandes, comprovadamente perseguido, achava essas indenizações uma vergonha. “Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?”, questionou. Outro preso político famoso, Fernando Gabeira, disse que “o pagamento de indenizações tornou-se um instrumento de cooptação na mão dos governos e a própria lista de quem vai ser indenizado é um processo político”. Lembrando que, em 2010, o total de indenizações chegava a R$ 4 bilhões, dinheiro tirado não dos bolsos da Ditadura nem dos torturadores, e sim do seu bolso, do meu, e de todos os contribuintes brasileiros.

O POVO – Numa lembrança rápida, são raros os personagens da política brasileira que ganharam biografia. De onde parte esse desinteresse, dos autores ou dos leitores?
Paulo Schmidt – Nem dos autores nem dos leitores, e sim dos biografados. Até o ano passado, ninguém podia biografar uma pessoa pública sem licença dela ou de sua família. Felizmente, essa obrigatoriedade foi abolida em 2015, de modo que podemos esperar, para um futuro próximo, biografias inéditas de políticos nacionais.

O POVO – Você abre o Guia fazendo uma crítica ao presidencialismo. Por que você vê o parlamentarismo como um regime mais justo?
Paulo Schmidt – No sistema parlamentarista existe um chefe de Estado e um chefe de Governo, em vez de concentrar todo o Poder Executivo nas mãos de um único indivíduo, como no presidencialismo. Além disso, o parlamentarismo permite que um mandatário incompetente e/ou corrupto seja afastado com maior facilidade, além de ser mais resistente a crises políticas. O melhor exemplo disso é o que aconteceu quando os EUA e o Brasil aboliram a escravatura, ambos na segunda metade do século XIX. Nos EUA presidencialista, isso provocou uma sangrenta guerra civil que durou quatro anos e deixou 600 mil mortos, ao passo que, no Brasil parlamentarista de então, a abolição ocorreu na mais absoluta paz.

O POVO – Atualmente, o Brasil vive uma crise de representatividade aguda, que atinge toda a hierarquia política, de assessores à presidente da República. Como se chegou a esse ponto?
Paulo Schmidt – O modo de se fazer política no Brasil sempre foi o mesmo. O que aconteceu foi que o governo lulopetista extrapolou os piores vícios dessa política a ponto de esgotar a paciência e resignação dos brasileiros. Estes passaram, então, a rejeitar a classe política como um todo, escolhendo para representá-los justamente pessoas de fora da política identificadas com o combate à corrupção, a exemplo dos juízes Joaquim Barbosa, Sérgio Moro e os procuradores da Operação Lava-Jato.

O POVO – Pra você, o que representou a votação do dia 17 de abril?
Paulo Schmidt – Talvez a maior vitória da democracia representativa brasileira neste século, uma data histórica, em que o parlamento brasileiro, até então subserviente a um governo criminoso, resolveu, por meio de esmagadora maioria, escutar o clamor das ruas, dos milhões de brasileiros que protestaram pacificamente contra esse governo, e votou a favor do afastamento de Dilma Rousseff, mesmo com Lula leiloando cargos e oferecendo subornos milionários aos que votassem contra o impeachment.

O POVO – Como você tem visto o processo de impeachment de Dilma Rousseff? Que diferenças e semelhanças ele guarda com o processo do Collor?
Paulo Schmidt – O impeachment sempre foi a única alternativa desde que Dilma Rousseff, provavelmente devido a fraude eleitoral, quase certamente com dinheiro roubado da Petrobras e comprovadamente por meio de fraude nas contas públicas, reelegeu-se presidente em 2014. Embora Collor também tenha merecido o seu afastamento, os processos dele e de Rousseff são bem diferentes. Collor caiu porque não tinha uma base de apoio sólida e não fizera alianças. Rousseff, ao contrário, caiu a despeito de ter, juntamente com Lula, aparelhado o Estado durante 13 anos.

O POVO – O Brasil tem jeito?
Paulo Schmidt – A queda do lulopetismo e o consequente fracasso do seu “projeto criminoso de poder”, graças ao povo protestando nas ruas, ao Congresso que fez a vontade do povo e à solidez de instituições brasileiras como a Polícia Federal e o Poder Judiciário de primeira instância, responsáveis pela prisão de vários aliados da quadrilha governista, são provas cabais de que o Brasil tem jeito, sim.

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