[an error occurred while processing this directive] "Eu tenho um inimigo muito grande que se chama Brasil" | O POVO Online
ESTREIA 03/03/2016 - 00h00

"Eu tenho um inimigo muito grande que se chama Brasil"

O cineasta argentino-brasileiro Hector Babenco, que permaneceu afastado dos cinemas durante oito anos, conversou com O POVO sobre seu novo filme, Meu Amigo Hindu, que estreia hoje em Fortaleza. Em entrevista reveladora, criticou os mecanismos do fazer cinematográfico no Brasil e explicou por que escolheu um ator norte-americano para protagonizar seu longa
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Jáder Santana jadersantana@opovo.com.br

O Povo - Foram oito anos longe do cinema. Em que medida esse distanciamento contribuiu para o teu trabalho? O Babenco diretor de O Passado é o mesmo Babenco que dirigiu o The Man That Stole a Duck e Meu Amigo Hindu?

Hector Babenco - Muito carinhoso você lembrar as minhas últimas aventuras no cinema. Sim, o homem é o mesmo, um pouco mais velho. Mas deixa eu te dizer, eu fiquei esses anos todos sem filmar porque eu tenho um inimigo muito grande que se chama Brasil. O Brasil que não te permite se estabelecer com uma produção mais contínua. Os mecanismos de fazer cinema no Brasil são muito penosos, muito lentos, dolorosos, porém são os únicos que a gente tem como recorrer uma vez que não temos um mercado que estabeleça uma relação de retorno financeiro para poder produzir um outro filme. Então, ao longo desses oito filmes, teve um que amo muito, o curta que você menciona, O Homem que Roubou Um Pato. Você viu? Se não viu te mando o link. Quero que você veja, eu gosto muito. Eu preparei um roteiro durante dois anos, chamado Tiger, Tiger, de uma novela que eu chamei os direitos, de uma escritora americana, nova iorquino, de origem porto-riquenha, chamada Margaux Fragoso, e fiz duas investidas no mercado americano com esse projeto, sem sucesso, o que me fez voltar e começar a trabalhar no Cidade Maravilhosa, que é outro projeto que eu ainda tenho, com muita motivação e muita energia pra fazer. Mas achei que minha saúde não estava com pique pra enfrentar o verão carioca, com essa imagem de areia e de praia, e decidi volta a um projeto muito antigo, que nunca havia sido formulado nem escrito, que era Meu Amigo Hindu. Partir de uma cena final, que eu já tinha, e de uma cena inicial, que eu já desejava, que era uma sentença de curta vida, e um final que era uma explosão de insanidade, e a partir desses dois parâmetros preenchi a história da forma menos linear possível, menos autobiográfica possível, e tentando ficcionalizar alguns eventos dos quais ainda tinha um pouco de memória.

OP - Durante esse hiato, você se dedicou ao teatro. Dirigiu Vênus em Visom e Hell. O que te fez retornar aos palcos durante esse período?

Babenco - Veja bem, os palcos sempre são um bom descanso, porque é uma coisa fisicamente menos torturante e a felicidade de ver um espetáculo no palco é muito similar a de ver a estreia de um filme. É o se confrontar com um sonho que se realiza.

OP - No início da projeção de Meu Amigo Hindu, um letreiro anuncia: “O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e a conto da melhor maneira que sei”. Expor-se dessa forma foi um modo de sedimentar e entender o passado? O que você ganhou (ou perdeu) com essa autoanálise?

Babenco - Jáder, não se ganha e não se perde nada na vida. Era este filme o que eu queria fazer. Era essa história que eu queria contar, dessa maneira. Vou te dar uma metáfora muito bonita: o Milan Kundera (escritor checo), em um ensaio sobre a função do artista, do escritor, no caso dele, diz o seguinte, que o artista desmonta a casa da sua vida e com os mesmos tijolos reconstrói uma casa que é a da ficção. Então, se você encarar essa pequena frase, eu te diria que sim, que há aspectos que estão no filme que foram vivenciados por mim, e há outros que são ficcionalizados, porém o resultado final é uma obra que não tem nada a ver com o que eu vivi. Tenho uma total repugnância a qualquer modelo artístico que pouse seus pés em mecanismos de falsa felicidade. Autoajuda, bem estar, recuperação, são conceitos que não estão no meu vocabulário.

OP - Li que o senhor buscou, inicialmente, algum ator brasileiro que pudesse dar vida ao protagonista da história, mas que todos estava ocupados com outras tarefas. Por que escolheu Dafoe? E por que filmar o longa todo em inglês?

Babenco - Filmar em inglês porque o Dafoe não fala português. Encontrei o Dafoe no espetáculo do Bob Wilson que ele fazia com o Baryshnikov e saímos pra jantar, um grupo de pessoas. Fui convidado. Eu conhecia o Dafoe do festival de Cannes, quando ele se apresentou com o filme do Scorsese, A Última Tentação de Cristo, e nunca mais nos tínhamos visto. Mas foi muito curto, muito rápido, muito intenso. Durante o jantar, ele me perguntou o que eu estava fazendo, e eu disse a ele o que estava fazendo e as dificuldades que estava enfrentando enfrentando. Ele me pediu pra ler o roteiro, e eu não tinha ainda em inglês. Quando foi traduzido, dei pra ele, e ele ficou, acredito eu, muito entusiasmado, porque me ligou perguntando se eu gostaria que ele fizesse o personagem do Diego. Eu me senti muito honrado ao longo de uma jornada de trabalho que durou quatro meses. Senti que ele tinha um respeito muito grande por toda minha obra, que a conhecia muito bem. Foi feito em inglês, com um elenco de atores e atrizes brasileiros que falam inglês fluentemente, e fiz o filme imaginando que ele vai correr o mundo por ser falado em inglês. Fora do Brasil, ninguém sabe quem é Bárbara Paz, Maria Fernanda Cândido, Selton Mello, e as pessoas sabem quem é Willen Dafoe. Isso não torna o filme melhor ou pior, nem é degradante para o ator brasileiro. Muito pelo contrario, eu acho que o ator brasileiro não tem obrigação de falar em inglês. Só que se há um maluco como eu que decide fazer um filme em inglês filmado em São Paulo, é preciso encontrar atores com um inglês impecável que me ajudem a criar esse filme que eu gosto muito.

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