[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Cresce a classe média virtual | Coluna Thomas Friedman | O POVO Online
Thomas Friedman 08/02/2013

Cresce a classe média virtual

"Graças à tecnologia e à disseminação da educação, mais pessoas de renda baixa estão ganhando poder; assim, pensam e agem como a classe média, exigindo segurança e direitos de cidadãos"
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Nova Déli - Encontrei algo nesta viagem à Índia que eu nunca nunca havia visto antes: uma comunidade política inteiramente nova – a “classe média virtual” da Índia. O surgimento dela explica muito sobre o crescimento dos protestos sociais aqui (na Índia) assim como em lugares como a China e o Egito. É uma das coisas mais emocionantes que estão acontecendo no planeta. Historicamente, nós associamos as revoluções democráticas com a obtenção, por parte das classes médias em ascensão, de certos níveis de renda per capita anual – digamos, US$ 10 mil por ano – que façam com que as pessoas se preocupem menos com as despesas com alimentação e moradia e mais com o fato de serem tratados como cidadãos com direitos e com voz sobre seu próprio futuro. Mas eis aqui o mais fascinante: a difusão maciça do acesso eficaz e barato à internet, via celulares e tablets, na última década, ter reduzido drasticamente os custos da conectividade e da educação – tanto que mais pessoas da Índia, da China e do Egito, apesar de ainda ganharem só alguns dólares por dia, agora têm acesso ao tipo de tecnologia e aprendizado previamente associado somente à classe média.


É por isso que a Índia hoje tem uma classe média de 300 milhões de pessoas e outras 300 milhões de pessoas fazem parte da classe média virtual, um grupo que, embora seja muito pobre, está exigindo cada vez mais os direitos, as estradas, a energia elétrica, a polícia não corrupta e um bom governo; demandas que normalmente são associadas às classes médias em ascensão. Isso está colocando mais pressão do que nunca sobre os políticos eleitos da Índia para que, no governo, eles ajam do jeito certo.


“Graças à tecnologia e à disseminação da educação, mais e mais pessoas de renda muito baixa estão ganhando poder; assim, elas pensam e agem como se fossem da classe média, exigindo segurança e dignidade humana e direitos de cidadãos”, explicou Khalid Malik, diretor do Departamento de Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas (ONU) e autor do livro “Why Has China Grown So Fast for So Long?” (“Por que a China cresceu tão rápido por tanto tempo?”, em uma tradução livre). “É uma mudança enorme. A Revolução Industrial foi uma história de 10 milhões de pessoas. Esta é uma história de dois bilhões de pessoas.”


E isso não é estimulado apenas pelos 900 milhões de celulares em uso na Índia hoje nem pelos 400 milhões de blogueiros na China. O escritório do Departamento para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos, em Nova Déli, me conectou a um grupo de empreendedores sociais indianos que os Estados Unidos estão apoiando, e o poder das ferramentas que eles estão entregando nas mãos da classe média virtual da Índia, a preço baixo, é de surpreender. A Gram Power está criando microrredes e medidores de eletricidade inteligentes para fornecer energia de forma confiável e escalável para as áreas rurais da Índia, onde 600 milhões de indianos ainda não dispõem de eletricidade regular (às vezes, de eletricidade nenhuma) para trabalhar, ler e estudar.


Por 20 centavos de dólar por dia, a Gram Power oferece a moradores de vilarejos rurais um cartão de energia elétrica pré-pago capaz de fornecer energia para todos os eletrodomésticos deles. A Healthpoint Services está fornecendo água potável para famílias de seis pessoas por cinco centavos de dólar por dia, além de consultas médicas via internet por 20 centavos de dólar a visita. A VisionSpring, hoje em dia, está distribuindo exames e óculos de grau para os cidadãos pobres da Índia por US$ 2 a US$ 3 cada. O Instituto para a Saúde Reprodutiva está alertando, a cada mês, as mulheres a respeito dos dias férteis dela, a partir de mensagens de texto, informando que o sexo sem proteção deve ser evitado naquele período para evitar gravidez indesejada. E a Digital Green está fornecendo sistemas de comunicação de baixo custo a agricultores e grupos de mulheres indianos para mostrar a cada um deles suas melhores práticas por meio de filmes digitais projetados no chão.


Essas tecnologias ainda precisam de escala, mas estão no caminho. E elas estão permitindo que outros milhões de indianos pelo menos acreditem que são classe média e se sintam com poder político que vem com essa condição social, diz Nayan Chanda, que comanda a publicação YaleGlobal Online Magazine e é coeditor de “A World Connected: Globalization in the 21st Century” (“Um mundo conectado: a globalização no século 21”, em uma tradução livre).


Em dezembro, uma indiana de 23 anos – cujo pai trabalhava dobrado como manipulador de bagagem em um aeroporto, recebendo cerca de US$ 200 por mês para que a filha pudesse estudar e se tornar fisioterapeuta – sofreu um estupro coletivo dentro de um ônibus após ela e um amigo terem ido ao cinema. A moça, depois, morreu no hospital devido aos ferimentos do estupro.


Ela era membro dessa nova classe média virtual da Índia, cheia de aspirações elevadas, e o estupro brutal dela e a morte subsequente desencadearam protestos no país inteiro por um governo melhor.


“É um daqueles momentos críticos na história de um país, quando um conjunto de cidadãos, até então satisfeito com os ganhos econômicos, passa a querer mais do que conforto material”, disse Chanda. “Eles querem o reconhecimento dos direitos deles; querem qualidade de vida e, mais importante, um bom governo que eles passaram a esperar ao olhar para o resto do mundo”.


É o mesmo para a China. Em dezembro, pontuou Chanda, “quando um censor chinês de Guangzhou cometeu uma intromissão sem precedentes ao invadir as instalações do jornal Southern Weekend e reescrever o editorial de Ano Novo – transformando uma crítica em um panegírico do Partido Comunista –, os jornalistas chineses explodiram. Pela primeira vez na história, os jornalistas exigiram publicamente a demissão do censor, e o Twitter da China e a Weibo (rede social) se encheram de raiva”.


E, é claro, a Primavera Árabe foi desencadeada, não por universitários de classe média, mas por um vendedor de verduras tunisiano que queria entrar para a classe média e sofreu abusos por parte de policiais corruptos. Líderes, tenham cuidado: a sua população não precisa mais fazer parte da classe média, em termos econômicos, para terem acesso à educação, às ferramentas e à mentalidade da classe média - nem para sentirem que têm o direito de estabelecer uma conversa de mão dupla e serem tratados como cidadãos com direitos reais e com um governo decente.


Tradução: Daniela Nogueira

danielanogueira@opovo.com.br


Thomas Friedman

Colunista de assuntos internacionais do New York Times, Friedman já ganhou três vezes o prêmio Pulitzer de jornalismo. É autor do best-seller O Mundo é Plano

 

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