[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A revolução chega às universidades | Coluna Thomas Friedman | O POVO Online
Thomas Friedman 01/02/2013

A revolução chega às universidades

"No curso, eu tinha de acompanhar o ritmo da matéria, o que é inédito na educação especial. Agora gosto de estar em sintonia com o mundo"
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Deus sabe que existem muitas más notícias no mundo de hoje que nos deixam para baixo, mas existe uma grande coisa acontecendo que me deixa incrivelmente esperançoso quanto ao futuro, que é a revolução que está florescendo na educação superior online do mundo inteiro. Nada tem mais potencial para tirar mais pessoas da pobreza, pois pode dar a elas uma educação acessível para que consigam ter um emprego ou subir de patamar no emprego que já têm. Nada tem mais potencial para estimular mais de um bilhão de cérebros para que eles resolvam os maiores problemas do mundo. E nada tem mais potencial para nos permitir reinventar o ensino superior do que os cursos abertos online em massa, ou MOOCs (Massive Open Online Courses), plataformas que estão sendo desenvolvidas por organizações como Stanford e Massachusetts Institute of Technology (MIT) e por empresas como a Coursera e a Udacity.


Em maio do ano passado, escrevi sobre a Coursera – cofundada pelos cientistas da computação Daphne Koller e Andrew Ng, de Stanford – logo depois que passou a funcionar. Duas semanas atrás, retornei a Palo Alto para verificar como eles estão. Quando eu os visitei em maio do ano passado, cerca de 300 mil pessoas estavam fazendo 38 cursos ministrados por professores de Stanford e de algumas outras universidades de elite. Hoje, eles têm 2,4 milhões alunos, que fazem 214 cursos de 33 universidades, incluindo oito internacionais.


Anant Agarwal, ex-diretor do laboratório de inteligência artificial do MIT, é agora o presidente da edX, um MOOC sem fins lucrativos que o MIT e Harvard estão criando juntos. Agarwal me disse que, desde maio, cerca de 155 mil estudantes do mundo todo já concluíram o primeiro curso da edX: uma classe de introdução a circuitos do MIT. “Isso é maior do que o número total de alunos do MIT em seus 150 anos de história”, disse.


Sim, somente um pequeno percentual dos alunos termina todo o curso – e eles ainda costumam ser das classes média e alta de suas sociedades, mas estou convencido de que, em cinco anos, essas plataformas vão atingir um público muito mais amplo. Imagine como isso pode mudar os programas de auxílio externo dos Estados Unidos. Por valores relativamente pequenos, os Estados Unidos poderiam alugar um espaço em uma aldeia egípcia, instalar duas dezenas de computadores, fornecer acesso via satélite à internet de alta velocidade, contratar um professor local como facilitador e convidar em qualquer egípcio que queira fazer cursos online com os melhores professores no mundo, com legendas em árabe.


Você tem que ouvir as histórias contadas pelos pioneiros deste setor para apreciar seu potencial revolucionário. Uma das histórias favoritas de Koller é sobre “Daniel”, um garoto autista de 17 anos que se comunica principalmente pelo computador. Ele fez um curso online de poesia moderna, da Universidade da Pensilvânia. Ele e os pais dele escreveram dizendo que a combinação entre currículo acadêmico rigoroso, que exigia que Daniel permanecesse concentrado nas tarefas, com um sistema de aprendizado online que não exigia demais de suas habilidades sociais, dos seus déficits de atenção nem o obrigou a olhar outras pessoas nos olhos permitiram que ele administrasse melhor o autismo. Koller compartilhou uma carta enviada por Daniel em que ele escreveu: “Por favor, conte a minha história à Coursera e à Universidade da Pensilvânia. Sou um garoto de 17 anos emergindo do autismo. Ainda não posso me sentar em uma sala de aula normal e, por isso, o curso de vocês foi o meu primeiro curso real. Durante o curso, eu tinha de acompanhar o ritmo da matéria, o que é inédito na educação especial. Agora sei que posso me beneficiar com o trabalho duro exigido e gosto de estar em sintonia com o mundo”.


Um membro da equipe da Coursera que recentemente fez um curso sobre sustentabilidade dado pela empresa me disse que as aulas foram muito mais interessantes do que as de um curso semelhante que ele fez na sua graduação. O curso online juntou estudantes do mundo inteiro, com vários níveis de renda e, como resultado, “as discussões que aconteceram durante as aulas foram muito mais valiosas e interessantes do que as que costumam acontecer entre alunos provenientes de locais e níveis de renda semelhantes” dentro de um típico colégio norte-americano.


Mitch Duneier, professor de sociologia de Princeton, escreveu um ensaio, no outono passado, no The Chronicle of Higher Education sobre a experiência dele ao ministrar um curso por meio da Coursera: “Alguns meses atrás, depois que o campus da Universidade de Princeton ficour quase totalmente silencioso após a formatura, 40 mil estudantes de 113 países chegaram aqui via internet para fazer um curso livre de introdução à sociologia... Minha aula de abertura, sobre o livro clássico de C. Wright Mills, de 1959, ‘A Imaginação Sociológica’, foi uma leitura atenta do texto, em que analisei um capítulo fundamental linha a linha. Pedi aos estudantes que acompanhassem a leitura em suas próprias cópias, como costumo fazer em sala de aula. Quando dou essa aula no campus de Princeton, costumo receber algumas perguntas penetrantes. Neste caso, entretanto, poucas horas depois de postar a versão online do curso, os fóruns começaram a fervilhar com centenas de comentários e perguntas. Vários dias depois, havia milhares... Em três semanas, eu havia recebido mais retorno sobre minhas ideias sociológicas do que eu em toda minha carreira no ensino, o que influenciou significativamente todos os meus seminários e aulas subsequentes”.


Agarwal, da edX, contou a história de um estudante do Cairo que fez o curso de circuitos e estava tendo dificuldades. No fórum online do curso, no qual os alunos se ajudam mutuamente com as tarefas de casa, ele postou que estava abandonando o curso. Em resposta, os outros estudantes do Cairo que estavam na mesma classe o convidaram a se reunir com eles em uma casa de chá, onde eles se ofereceram para ajudá-lo a ficar no curso. Um estudante de 15 anos de idade da Mongólia, que frequentou as mesmas aulas como parte de um curso misto e recebeu nota 10 no exame final, acrescentou Agarwal, agora está tentando uma vaga no MIT e na Universidade da Califórnia em Berkeley.


Quando olhamos para o futuro do ensino superior, disse o presidente do MIT, L. Rafael Reif, algo que hoje chamamos de “graduação” será um conceito “conectado a tijolos e argamassa” – e as experiências tradicionais no campus cada vez mais alavancarão a tecnologia e a internet para melhorar as salas de aula e os trabalhos de laboratório. Ao lado disso, no entanto, disse Reif, muitas universidades irão oferecer cursos online para os alunos em qualquer lugar do mundo, nos quais eles serão capazes de ter “credenciais” – certificados que atestarão que esses estudantes fizeram as tarefas e passaram em todos os exames. O processo de desenvolvimento de credenciais que mereçam confiança, que atestarão que os alunos dominaram adequadamente os assuntos – e não colaram de outros colegas –, com as quais os empregadores poderão contar, ainda está sendo aperfeiçoado por todos os MOOCs. Mas, uma vez que esse processo estiver concluído, esse fenômeno vai realmente ganhar escala.


Espero que, daqui a pouco, cada um de nós seja capaz de criar seu próprio diploma universitário fazendo os melhores cursos online com os melhores professores do mundo todo – um pouco de computação em Stanford, um pouco de empreendedorismo na Wharton, um pouco de ética na Brandeis, um pouco de literatura em Edimburgo – pagando somente uma taxa nominal pelos certificados de conclusão. Isso vai mudar o ensino, o processo de aprendizado e o caminho para o emprego. “Existe um mundo novo surgindo”, disse Reif, “e todo mundo terá de se adaptar”.

 

Tradução: Daniela Nogueira


danielanogueira@opovo.com.br

 

Thomas Friedman

Colunista de assuntos internacionais do New York Times, Friedman já ganhou três vezes o prêmio Pulitzer de jornalismo. É autor do best-seller O Mundo é Plano

 

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