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Cheguei em casa exausto. A conta de arrancar a roupa e cair na cama. Liguei o ar condicionado no limite para dissipar o suor. Mensagens de validade vencida atacavam minhas narinas. Percebi que não poderia dormir sem banho. A grande desvantagem de estar casado é não poder pular o banho. Lembrei que nem casado estava. Mademoiselle K é apenas uma doce amiga. Abriu a porta do quarto sem pedir licença e foi lambendo meu pescoço. Cavou meu sovaco esquerdo com o nariz e fungava com a respiração ligeira. “Ai, como eu gosto desse cheiro quando você está suado!”
Mulheres tem uma estranha tara olfativa. Ficam logo com tesão ao sentir o cheiro de um macho sem banho. Muitas amigas já me confessaram isso. Não sei qual a origem. Imagino algo surgido lá na Idade Média, quando a moda do banho andava em baixa. Os bravos cavaleiros de então, musculosos, em seus cavalos atrevidos, fediam de se perceber a quilômetros. Será a lembrança olfativa de viris senhores a impetuosidade das moçoilas de hoje. Cobiças atávicas. Esperas ancestrais. Pobre de mim.
O hábito de tomar banho já era comum entre os egípcios há mais de três mil anos. Fazia parte de rituais sagrados de purificação. Não é à toa que tenha sido uma das mais longevas civilizações. O ato de se banhar livrou-os de várias pestes e doenças que devastaram outros povos.
Na antiguidade, os romanos ampliaram o costume herdado de gregos e egípcios. Ave Cesares! Inventaram os resorts do mundo contemporâneo. Saunas e piscinas a serviço da higiene e do prazer.
Já com os portugueses a coisa era diferente. Em mil e quinhentos, quando desembarcaram no Brasil, tribos inteiras corriam em fuga. Não pelo medo das armas do invasor. Hoje é sabido que os índios fugiam espantados pelo fedor que os navegantes portugueses exalavam. Os índios brasileiros tomavam vários banhos por dia. Nem por isso, se diz, as índias fechavam o parque de diversão. Elas adoravam homens cheirosos. E viviam fazendo indiozinhos.
O papa Gregório I, que viveu nos anos 500, foi um dos maiores responsáveis pela falta de banho entre os povos ocidentais. Até o século 17, banho era só uma vez por ano. E olhe lá. O papa teve a infeliz ideia de espalhar o conceito de que lavar o corpo era pecaminoso. Fico a imaginar como ele chegou a tal conclusão. Teria tido, suponho, ereções sucessivas ao se tocar. Colecionava pecados durante o banho. Até que, cheio de culpa, acabou com a brincadeira.
Mademoiselle K me escutava com visível indiferença. Por certo pensava em outros pecados. Nem me dava atenção. Tentei pular da cama:
“- Vou tomar meu banho! “.“- Mas não vai mesmo!”. E me puxou pra debaixo do lençol.
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