[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Henfil | Coluna Rui Lima | O POVO Online
Ruy Lima 09/02/2012 - 01h30

Henfil


Entre os anos 1970 e 1980, todo jornalista tinha certa obsessão em ser dono de botequim. Talvez a desilusão com a profissão nos levasse a esse sentimento. Eram anos de chumbo, afinal. Melhor seria deixar-se largar na mesa de um bar.


Havia também o sonho de ter um negócio próprio. Um jornal próprio. Independente. De bairro. Foi uma febre. Em toda esquina do Rio de Janeiro surgiam jornais comunitários: Jornal da Tijuca, Jornal de Ipanema e outros tantos. Mais tarde, os jornalões perceberam o filé e adotaram a ideia. Criaram os cadernos de bairros e mataram os pequenos. O Jornal de Copacabana foi uma idéia minha e da jornalista Wanda Figueiredo, irmã do cartunista Henfil. Nunca passou da boneca, nome que se dava ao projeto gráfico original. Foi apenas um sonho. Henfil vivia em Nova York, onde fora para se tratar da hemofilia. Mandou-nos uma carta em que dizia não se sentir à vontade com a proposta de colaborar no nosso jornal. Tinha razão. A pegada dele era de porrada. Um rebelde indomável contra a ditadura. Mesmo assim, carinhoso como era, mandou dois desenhos para a primeira edição do nosso folhetim. Neles, revela o sutil cronista de costumes. Ingênuo e ácido, ao mesmo tempo. Traço econômico e genial.


Henfil esteve em Fortaleza em 1985. Estava às turras com o pessoal do Pasquim. Dizia que Deus havia feito o homem à sua imagem e semelhança mas não havia testado todo mundo junto. Era impossível a convivência de tantos deuses no mesmo lugar.


Domingo passado, se fosse vivo, Henfil completaria 68 anos. Depois de uma transfusão de sangue, acabou contraindo o vírus da Aids e morreu no auge da carreira. Com a morte dele, houve uma revolução na saúde do Brasil. Os hemocentros públicos passaram a fazer exames sobre a qualidade do sangue oferecido à população e o comércio de sangue foi proibido em todo país. Até hoje, as histórias da Graúna e do Bode Orelhana são publicadas com enorme sucesso.


Eu, de minha parte, continuo prestando contas. Ao dono do jornal e aos donos de bar.

 

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