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- Tirano, você é um tirano!
Acordei com essa bofetada de Mademoiselle K, às quatro da tarde do domingo. Espreguicei como urso. Virei de lado e dormi de novo. Adoro tardes preguiçosas de fim de semana.
Mademoiselle está furiosa porque saí na sexta e só voltei no domingo. O que posso fazer, senão me render ao Pré-Carnaval? Como nasci num domingo de Carnaval, diz a lenda que meu pai só me conheceu na quarta-feira de cinzas. Não o culpo por isso. Hoje, apenas repito um impulso natural, instintivo. Fator hereditário. Desejo imperioso ao qual só me resta obedecer.
Mademoiselle não está furiosa apenas por essa razão. Eu a proibi de desfilar na escola de samba Porto da Pedra, no Rio de Janeiro. Proibi mesmo. Podem me chamar de machista. O enredo da escola este ano homenageia o... iogurte. Como assim? Uma escola de samba desfilando em homenagem ao iogurte? O que é isso? !
Mademoiselle descreveu de forma sucinta o enredo. O samba fala de coisas como: “Poema à vida e ao seio jorrando amor / A seiva materna / Meu Porto da Pedra alimentou / Hera gera o caminho das estrelas”.
Em 40 anos de Carnaval, nunca vi tamanho mau gosto.
Minha amiga pretende, ou pretendia, sair na ala das vaquinhas. Mostrando a importância do leite para diferentes civilizações. Ou seja, com os peitinhos de fora. Não enquanto eu for vivo. E ela é minha hóspede. Estou convencido da minha decisão. Não se trata de mero impulso de valentia.
Ameaçou um ataque histérico, jogar coisas pela janela.
- Desde que sejam coisas molinhas e fofas. Para não causar estrago em algum passante, rugi do fundo da minha cama, sem me importar. Foi pior.
Repetiu impropérios. Agora, “tirano” e “desprezível”. Sugeri equilíbrio e sensatez. Lembrei o assombro da família, a ira que provocaria nos pais. Vê-la de vaquinha, amamentando o público em êxtase, na arquibancada da Sapucaí. Vai que as imagens do desfile chegam por lá. Aquela parte da Europa ainda é muito conservadora.
- Quando me pedem equilíbrio e sensatez, é porque já está na hora de mandar alguém pro inferno.
Fiquei assustado com a reação de Mademoiselle. Acho que ela tem se metido com más companhias. Soube até que aprendeu a fazer xixi agachada na rua, no meio do bloco. Chegou aos meus ouvidos a descrição da cena. Horrorizei.
- Fiz, sim.
- Mas isso é uma tremenda falta de educação. Uma grosseria. Uma, uma....... De tão irritado, perdi a palavra.
- O que você queria que eu fizesse. Aliás, como você queria que eu fizesse, se não existem banheiros públicos na Praia de Iracema?
Tive que me render contrariado. Nossa discussão ingressava numa sucessão de argumentos com consequências imprevisíveis. Encerrei a conversa de forma unilateral. Tranquei a porta, gelei o ar-condicionado e mergulhei no edredom. Caminhava para o sono REM. Instantes depois ouvi minha doce amiga bater na porta, de leve, e perguntar com voz mimosa:
- Você ainda quer ser meu tourinho?
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