[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A débâcle déjà vu de Dimon | Coluna Paul Krugman | O POVO Online
Paul Krugman 27/05/2012

A débâcle déjà vu de Dimon

Às vezes, é difícil explicar por que precisamos de uma regulamentação financeira forte
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Às vezes, é difícil explicar por que precisamos de uma regulamentação financeira forte - especialmente em uma era saturada com propaganda pró-empresas, pró-mercado. Assim, sempre devemos ficar agradecidos quando alguém deixa os argumentos a favor da regulamentação mais convincentes e fáceis de entender. E nesta semana, isso significa reconhecer especialmente dois homens: Jamie Dimon e Mitt Romney.


Eu voltarei logo aos problemas no JPMorgan Chase, o banco que Dimon comanda. Primeiro, no entanto, deixe-me falar sobre Romney, cujas observações sobre esses problemas foram tão desconexas que constituem um momento que pode ensinar algo.


Aqui está o que o provável candidato republicano à Presidência disse sobre a perda de US$ 2 bilhões por JPMorgan (que pode, de fato, ter sido US$ 3 bilhões ou US$ 5 bilhões ou mais, mas quem está contando?): “Foi uma perda para os acionistas e os proprietários do JPMorgan, e é assim que os Estados Unidos funcionam. Algumas pessoas tiveram perda neste caso, devido a uma decisão ruim. A propósito, alguém teve lucro.” O que há de errado com esta declaração? Bem, suponha que alguém - talvez Jimmy Stewart no filme “A felicidade não se compra” (“It’s a Wonderful Life”) - comanda um banco que recebe depósitos e investe o dinheiro de várias maneiras. E suponha que um desses investimentos é uma aposta de alto risco em algum complexo instrumento financeiro, com o sr. Potter, o magnata poderoso do mal, estando do outro lado.


Se a aposta de Jimmy Stewart funcionar, estamos no Mundo de Romney: Stewart terá conseguido muito dinheiro, o sr. Potter terá perdido dinheiro, e é isso. Mas suponha que Jimmy Stewart perca a aposta. Se a aposta for grande o suficiente, ele não terá ativos suficientes para pagar os depositantes. O banco entra em colapso, provavelmente em uma corrida caótica para saques dos fundos depositados, tendo como efeito colateral a queda da economia da cidade inteira. O sr. Potter terá ganhado dinheiro com a transação, mas e daí?


A questão é que não é OK os bancos assumirem riscos do tipo que é aceitável para pessoas individuais, porque, quando os bancos assumem riscos demais, eles colocam em perigo a economia inteira - a não ser que possam contar com a possibilidade de serem resgatados. E a perspectiva de resgates desse tipo, é claro, apenas reforça o argumento de que não se deve permitir que os bancos ajam com imprudência, já que o que eles apostam é o dinheiro dos contribuintes.


A propósito, como é possível que Mitt Romney não entenda tudo isso? A candidatura inteira dele é baseada na alegação de que a experiência dele em arrancar dinheiro de empresas que passam por problemas significa que ele saberá administrar a economia - entretanto, toda vez que ele fala em política econômica, passa a impressão de não saber nada sobre isso.


De todo modo, não é necessário dizer que Jamie Dimon não é nenhum Jimmy Stewart. Mas ele vem, de alguma maneira, brincando de Jimmy Stewart na TV, posando como um banqueiro responsável que sabe administrar riscos - e, assim, atuando como líder na luta de Wall Street para bloquear qualquer intensificação dos regulamentos, não obstante os prejuízos imensos que os bancos desregulamentados já infligiram na nossa economia. “Confie em nós”, é o que Dimon vem dizendo, na prática, “nós estamos controlando; não vai acontecer de novo”.


Agora, a verdade está aparecendo. Aquele prejuízo de multibilhões de dólares não foi um evento isolado; foi um acidente que estava esperando para acontecer. Ao mesmo tempo em que Dimon fazia discursos sobre gestão bancária responsável, a administração dele somava riscos a mais riscos. “A unidade ao centro do prejuízo de US$ 2 milhões do JPMorgan montou posições que totalizam mais de US$ 100 bilhões em securities avalizados por ativos e em produtos estruturados - os títulos de dívida complexos e de alto risco que estiveram ao centro da crise financeira de 2008. Esses papéis se somam aos derivativos de crédito que levaram às perdas”, informa o “Financial Times”.


E o que estava acontecendo enquanto essas posições eram acumuladas? De acordo com um fascinante artigo no “Times” de domingo, a realidade por trás da fachada de competência do JPMorgan era uma cena que remete aos comportamentos que derrubaram firmas como a AIG em 2008: arrogantes executivos calando a boca de quem tentasse questionar as atividades deles, diretores de empresas que questionavam enquanto o dinheiro continuasse a entrar. É realmente um “déjà vu” de novo.


A questão novamente é que uma instituição como o JPMorgan - um banco que é grande o suficiente para que se possa permitir ir à falência, sem falar que é um banco cujos depósitos já são garantidos pelos contribuintes norte-americanos - não deveria fazer esse tipo de investimento especulativo. E é por isso que precisamos voltar a uma regulamentação financeira muito mais forte, mais forte ainda que os regulamentos Dodd-Frank aprovados em 2010. Vamos conseguir esse tipo de regulamentação?


Não se Romney vencer a eleição, obviamente; ele quer revogar Dodd-Frank, e, em geral, já deixou claro que faria tudo o que pudesse para nos colocar em situação propícia a outra crise financeira. Mesmo que o presidente Barack Obama seja reeleito, conseguir o tipo de regulamentação de que precisamos será uma enorme luta. Mas, como a débâcle de Jamie Dimon acaba de demonstrar, essa luta continua tão necessária como sempre foi.


Tradução: Daniela Nogueira

danielanogueira@opovo.com.br

 

Paul Krugman

Professor de Economia da Universidade de Princeton é articulista do New York Times. Recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2008

 

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