[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Por que nós regulamentamos | Coluna Paul Krugman | O POVO Online
Paul Krugman 20/05/2012

Por que nós regulamentamos

"Na década de 1930, depois da mãe de todos os pânicos de bancos, nós chegamos a uma solução que funcionava, que envolvia garantias e fiscalização"
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Um dos personagens do clássico de 1939 No Tempo das Diligências (Stagecoach) é um banqueiro chamado Gatewood que faz um discurso para seu público cativo sobre os males do governo grande, especialmente a regulamentação dos bancos - “Como se nós, banqueiros, não soubéssemos administrar nossos próprios bancos!”, ele exclama. Quando o filme avança, sabemos que, na realidade, Gatewood está fugindo da cidade com com dinheiro desviado.

 

Até onde sabemos, Jamie Dimon, o presidente e CEO do JPMorgan Chase, não está planejando fazer nada semelhante a isso. Ele tem, no entanto, feito discursos como o de Gatewood, dizendo que ele e os colegas sabem o que estão fazendo e não precisam ser fiscalizados pelo governo. Assim, há muita justiça poética - e uma grande lição política - no anúncio inesperado feito pelo JPMorgan de que, de algum modo, conseguiu perder US$ 2 bilhões em uma transação financeira mal-sucedida.


Para ficar claro, os empresários são humanos - embora os Senhores das Finanças tenham a tendência de esquecer isso - e fazem erros, que causam prejuízo, o tempo todo. Esse fato não é motivo para o governo se envolver. Mas os bancos são especiais porque o ônus dos riscos que eles assumem são carregados, em grande parte, pelos contribuintes e a economia como um todo. E o que o JPMorgan acaba de demonstrar é que é preciso impor limites rígidos aos tipos de riscos que os banqueiros, mesmo os banqueiros supostamente inteligentes, são autorizados a assumir.


Por que, exatamente, os bancos são especiais? Porque a história nos diz que a atividade bancária é e sempre foi sujeita a ocasionais e destrutivos “pânicos” que podem semear o caos na economia por inteiro. A mitologia atual da direita mostra que os erros dos bancos sempre são resultados da intervenção governamental, seja por parte do Fed, seja da ingerência de parlamentares liberais. Na verdade, porém, a América da Idade do Ouro - uma terra com governo mínimo e sem Fed - foi sujeita a pânicos mais ou menos a cada seis anos. E alguns desses pânicos provocaram enormes prejuízos econômicos.


Então, o que pode ser feito? Na década de 1930, depois da mãe de todos os pânicos de bancos, nós chegamos a uma solução que funcionava, que envolvia garantias e fiscalização. Por um lado, o espaço para pânico era limitado por um seguro de depósitos garantido pelo governo; por outro, os bancos eram sujeitos a regulamentos com o objetivo de impedi-los de abusar do status privilegiado que derivavam do seguro sobre depósitos, que, concretamente, é uma garantia governamental de suas dívidas. Mais notadamente, os bancos com depósitos garantidos pelo governo não são autorizados a praticar a especulação às vezes de alto risco que é característica dos bancos de investimentos, como o Lehman Brothers.


Esse sistema nos deu meio século de relativa estabilidade financeira. No entanto, as lições da história foram esquecidas. Novas formas de atividade bancária sem garantias governamentais proliferaram; os bancos convencionais e os outros, de tipo mais moderno, foram autorizados a assumir riscos cada vez maiores. Assim, sofremos a versão século 21 de um pânico dos bancos da Era de Ouro, com terríveis consequências.


Está claro, então, que precisamos restaurar o tipo de salvaguarda que nos garantiu duas gerações sem grandes pânicos bancários. Está claro, ou seja, para todos menos os banqueiros e os políticos que eles financiam - isso porque, agora que já foram socorridos, os banqueiros gostariam de voltar ao “business as usual”. Eu mencionei que Wall Street vem entregando valores enormes a Mitt Romney, que prometeu revogar as recentes reformas financeiras?


Entra Dimon. JPMorgan, para crédito do banco e de Dimon, evitou muitos dos maus investimentos que colocaram outros bancos de joelhos. Esta aparente demonstração de prudência fez de Dimon o líder da luta de Wall Street para adiar, diluir e/ou revogar as reformas financeiras. Ele vem mostrando força especial contra a Regra de Volcker, que impediria bancos com depósitos garantidos pelo governo de praticar especulações com o dinheiro dos depositantes.
Apenas confie em nós, diz o chefe do JPMorgan; está tudo sob controle.

Aparentemente não.

 

O que o JPMorgan fez? Pelo que parece, usou o mercado de derivativos - instrumentos financeiros complexos - para fazer uma enorme aposta na segurança da dívida corporativa, um pouco como as apostas que a seguradora AIG fez com a dívida imobiliária, há alguns anos. O ponto-chave não é o fato de a aposta ter sido ruim; é que as instituições que exercem papel crucial no sistema financeiro não devem assumir riscos desse tipo, menos ainda quando essas instituições são balizadas por garantias dos contribuintes.


Por enquanto, Dimon parece que entendeu que se excedeu, admitindo que os defensores do reforço da regulamentação talvez tenham razão. Mas é provável que isso não dure; acho que bastarão algumas semanas, ou mesmo dias, para Wall Street voltar à arrogância usual.


Mas a verdade é que acabamos de ver uma demonstração objetiva do motivo pelo qual Wall Street precisa, de fato, ser sujeita à regulamentação. Obrigado, senhor Dimon.

 

Tradução: Daniela Nogueira danielanogueira@opovo.com.br

 

Paul Krugman

Professor de Economia da Universidade de Princeton é articulista do New York Times. Recebeu o Prêmio Nobel de Economia em 2008

economia@opovo.com.br

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