[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Por que o interesse pelo Mali? | Coluna Mapa-Múndi | O POVO Online
Mapa-Múndi 13/02/2013 - 15h43

Por que o interesse pelo Mali?

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Nas últimas décadas a sociedade tem sido vítima de um dos piores flagelos: o terrorismo, que é um fato expressivo de violência que se o pode ver durante toda a história (conquistas, guerras) com suas mais variadas formas de expressão e crueldade.


Numa tentativa de condenar as práticas terroristas e justificar as ações do governo francês ao enviar seus soldados para o Mali,o primeiro ministro FrançoisHollande afirmou que “não estamos defendendo nenhum tipo de interesse político ou económico no Mali, defendemos simplesmente a paz”. E para conferir maior objetividade à sua cruzada pacifista, Hollande assegurou que a operação bélica “durará o tempo que for necessário para dissipar a ameaça terrorista”.


De fato,nos últimos meses a França tentou em reiteradas ocasiões persuadir os governos dos Estados Unidos e as Nações Unidas sobre a necessidade de intervir no norte do Mali,embora seus múltiplos apelos não tenham encontrado apoio da Comunidade Internacional.


Mas o que poderia justificar a França se apresentar como guardiã do mundo contra os ataques terroristas e assim invadir o pobre Mali?


A resposta segundo Hollande reside na solicitação de ajuda por parte do governo malinensepara debelar as ações dos insurgentes. Além disso, ogoverno francêsevidenciou que a intervenção no país africano, segundo afirmação do ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius “é inevitável pois diversos grupos islamistas colocam em risco a integridade de empresas e cidadãos franceses, bem como da comunidade internacional”.


A intervenção francesa em suas antigas colônias não é anormal e ocorreu em tempos recentes (por exemplo, na Costa do Marfim). No entanto, a operação no Mali, apesar de estar respaldada por uma resolução das Nações Unidas, foi algo precipitado e mesmo seus aliados mais próximos, principalmente os Estados Unidos veem a invasão com certo receio. Por quê? Por um lado, porque os fins desta operação não são simplesmente humanitários e também, porque os objetivos não são nada fáceis.


É importante esclarecer que é incorreto falar sobre os insurgentes como um grupo homogéneo, pois existem diferentes grupos e interesses. Entre os grupos armados que lutam pelo controle da região estão os tuaregs, os islamistas radicais e grupos vinculados ao grupo terrorista Al Qaeda.


Por outro lado,as ações terroristas no Mali podem ser entendidas como uma vingança ou represália pela morte de MuamarGadafi, quando em 2011, o líder líbio recrutou mais de 6.000 taruegs do norte do Mali para suas próprias forças de segurança, durante a intervenção da OTAN naquele país. Com a queda de Gadafi, muitos deles regressaram a seu país equipados com armas modernas, com as que deram o respaldo aos insurgentes em sua luta contra o governo, no sul do país.


O Mali não é Líbia ou Argélia; é, de fato, é um dos países mais pobres do mundo e sua economia se sustenta, basicamente, na agricultura, mas sua importância é vital para os interesses capitalistas do Ocidente. Por um lado, recentemente prospecções petrolíferas no país apresentaram resultados muito positivos, até o ponto de que se propunha começar a extração de petróleo entre o final de 2012 e ao longo deste ano.


Outra consideração importante é que as empresas francesas estão muito bem posicionadas em setores importantes da economia malinense. A título de exemplo: a companhia Orange controla o setor da telefonia; a Dagris conta com uma posição privilegiada depois da privatização do monopólio estatal da Companhia Mali para o Desenvolvimento Têxtil; a Bouygues domina o setor elétrico e uma parte importante da mineração do ouro (o Mali é o terceiro produtor de ouro da África).


Já a gigante Areva, estatal na produção de urânio, tem os direitos de exploração de duas grandes bacias no norte do Níger - vizinho do Mali-, de onde extrai 30% do urânio consumido na França (70% da eletricidade provem desta fonte). Por obra do acaso, recentes estudos indicam que o Mali também dispõe de muito uranio em seu subsolo.


Além de tudo isto, o Mali se encontra numa zona geoestratégica fundamental,servindo de corredor entre Níger e Argélia e conexão entre o Norte da África e a África subsaariana e entre o Golfo da Guiné e o Golfo de Aden, portanto numa situação invejável. Assim, para os interesses ocidentais o Mali não é um simples país pobre.


Como consequência, pode-se prever que a guerra no Mali será longa - agora com a França e, depois com alguns países africanos -, e não acabará bem. Primeiro, devastará um país já depauperado, especialmente depois da crise da dívida da década de 1980 e os planos neoliberais de austeridade do FMI e do Banco Mundial, que multiplicaram por 30 a dívida do país. Segundo, vai alimentar ainda mais o ódio em relação aos países ocidentais, que pode propiciar novos ataques armados contra a população civil. E terceiro, se Hollande conseguir seus objetivos, provavelmente em nada vai beneficiar à maioria da população malinense,senão a uma minoria que certamente poderá fazer mais negócio sobre a terra queimada deixada pela guerra.


François Hollande precisa entender que a França se arrisca a se meter num conflito das dimensões do Afeganistãoou mesmo do Vietnã.

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