[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Uma literatura antológica ou nem tanto | Coluna Letra e Música | O POVO Online
Letra & Música 04/08/2012

Uma literatura antológica ou nem tanto

Seleção com os melhores jovens escritores brasileiros regozijou alguns e deixou outros tantos contrariados
DIVULGAÇÃO
O gaúcho Daniel Galera é um dos 20 escritores que participam da revista Granta. Na foto abaixo, o grupo completo da antologia
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Na repercussão do lançamento da antologia da revista literária Granta com “os melhores jovens escritores brasileiros”, teve de tudo. Por exemplo, teve “jovem escritor” que publicou em seu blog o bate-papo com uma amiga destilando o ressentimento de ter sido barrado no baile. Chiadeira de que aquilo era marmelada, panelinha literária, lobby das editoras. Blog aberto para abrigar os textos dos 227 não-selecionados (foram 247 inscrições ao todo, 20 escolhidos). Resenhas e comentários mais ou menos sóbrios, quando não irascíveis ou condescendentes.


Talvez a declaração mais precisa do editor da antologia Marcelo Ferroni, que fez o anúncio dos nomes um por um no começo de julho, durante a programação da Festa Literária Internacional de Paraty, não foi feita ao ressaltar os critérios da seleção, o gabarito dos integrantes da comissão e o rigoroso esquema de preservação do sigilo dos escolhidos até o lançamento oficial, mas sim um comentário espontâneo: “Estou me sentindo como o Mano Menezes em dia de convocação”.


É bem verdade que a Granta, uma revista literária britânica aberta em 1979, que possui edições em países tão diferentes quanto os Estados Unidos e a China, notabilizou-se nessas três décadas pelas antologias de jovens escritores, que já prefiguraram o sucesso de nomes como Ian McEwan e Salman Rushdie. Entrar numa seleção destas, como bem frisou na coletiva de lançamento os responsáveis pela edição, pode alavancar a carreira de um escritor, prospectar novos contratos de tradução, por exemplo.


A diferença está nas proporções entre futebol e literatura, que devem ser muito bem guardadas, e no fato de, ao que tudo indica, ser muito mais complexo lançar juízo crítico sobre um texto literário do que constatar que Tinga, Eduardo Costa ou Felipe Melo não são volantes de seleção brasileira. De qualquer forma, há gosto pra tudo, inclusive em literatura, o que faz com que a antologia seja uma leitura curiosa, prazerosa em instantes até, principalmente para quem não precisa colocar a mão nesse vespeiro, nem arder na fogueira das vaidades, e apenas deseja reparar o que alguns bons jovens escritores brasileiros andam aprontando.


Composta por contos ou trechos de romances inéditos, a antologia reúne 20 escritores (veja a lista abaixo) com menos de 40 anos, dos mais diferentes estilos, com mais ou menos experiência, a comparar os trabalhos dos gaúchos Daniel Galera, escritor com vários romances publicados, e de Luisa Geisler, a caçula de 21 anos. Gaúchos, cariocas e paulistas, por sinal, são 18 dos 20 publicados, o que é de se desconfiar pelo menos. Quanto aos textos, acontece o previsível: convivem harmoniosamente textos bons, com outros insípidos.


A infância e a relação com os pais dominam os textos de Michel Laub, Daniel Galera, Antonio Prata e Chico Mattoso, por exemplo. Histórias bem costuradas, que ficam entre a narrativa delicada e por demais redondinha de Prata sobre como os brinquedos representam num bairro de classe média as diferenças de classes entre as famílias, e o conto seco, em fragmentos, de Laub, em que o narrador enumera seus bichos de estimação ao passo em que reflete sobre sua relação com o pai.


Textos notoriamente ruins, ao menos chatos, são os de Luisa Geisler e João Paulo Cueca. A primeira escreve sobre um executivo cosmopolita, que vive entre o prazer do desapego nas viagens internacionais e a dúvida de se arriscar ou não em um amor menos provisório. A repetição da expressão em alemão Weltanschauung (que pode ser traduzida como “visão de mundo”) e a pretensão do texto fazem dele pior do que realmente o é. Já Cueca submerge sua narrativa num retrato ácido, entre o jornalismo e a sociologia do Rio de Janeiro pré-olímpico, o que na maioria das vezes repete interpretações já conhecidas de fatos repisados a um século, como a reforma urbana da cidade no começo do século XX.


Os textos se sucedem em ondas mais ou menos vigorosas, que merecem a leitura de quem ouviu o galo da literatura contemporânea brasileira cantar em algum lugar, mas não sabe onde. Não que o canto venha apenas do Sudeste e do Sul do País, como a Granta deixa entreouvir, nem que esta seja a melhor antologia jamais organizada de jovens escritores brasileiros, mas existe algo de provisório, justamente numa edição tão pretensiosa, que atiça a curiosidade pela literatura brasileira escrita enquanto nos debatemos com o presente.

 

SERVIÇO

 

Granta – Os melhores jovens escritores brasileiros

288 páginas, R$ 34,90

Com textos de Michel Laub, Laura Erber, J.P. Cuenca, Luisa Geisler, Ricardo Lísias, Daniel Galera, Antonio Prata, Julián Fuks, Vanessa Barbara, Chico Mattoso, Emilio Fraia, Antônio Xerxenesky, Javier Arancibia Contreras, Carol Bensimon, Cristhiano Aguiar, Leandro Sarmatz, Carola Saavedra, Miguel Del Castillo, Vinicius Jatobá e Tatiana Salem Levy.


ESTANTE

 

CINQUENTA TONS DE CINZA

DE E. L. JAMES.

(Intrínseca, 480 p., R$ 39,90)


O livro inspirou a denominação de um novo gênero, o “pornô para mães”, como passou a ser chamado pela imprensa britânica por temperar o romance entre uma jovem universitária e um executivo bem sucedido com toques eróticos e sadomasoquistas. A tiragem inicial do best-seller no Brasil é de 200 mil exemplares.


RAYMUNDO CURUPYRA, O CAYPORA

DE GLAUCO MATTOSO

(Tordesilhas, 256 p., R4 49,50)


História do azarado Raymundo e seu amigo Craque que se passa na região central de São Paulo e é contada em 200 sonetos “heroico-decassílabos”. No livro, o poeta adota a ortografia vigente antes do Acordo Ortográfico de 1943, uma posição política contra a imposição do Estados sobre a língua.


O ESPÍRITO DA PROSA

DE CRISTÓVÃO TEZZA

(Record, 224 p., R$ 34,90)


O romancista brasileiro investiga neste livro a sua formação de escritor e de sua geração nos anos 60 e 70. Tezza, autor do premiado O Filho Eterno, examina também, entre outros assuntos, o peso da influência acadêmica no ideário estético dos anos pré-Internet e suas consequências para a prosa brasileira.


JORNAL

RASCUNHO

EDIÇÃO 148


A edição de agosto do jornal literário Rascunho traz longa entrevista com o escritor Daniel Galera, além de ensaios sobre Rainer Maria Rilke e trecho inédito do novo romance de João Gilberto Noll. A versão em pdf pode ser baixada em rascunho.gazetadopovo.com.br

 

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