[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Cotidiano contamina e impregna | Coluna Letra e Música | O POVO Online
Lançamento 05/11/2011 - 01h30

Cotidiano contamina e impregna

Lenine usa sons do cotidiano como elementos das canções de seu mais novo álbum, Chão. Um canário canta, uma motosserra, uma chaleira apita avisando que o café está pronto, tudo isso entra na música
DIVULGAÇÃO/ HUGO PRATA
Lenine inova nas canções do álbum Chão, décimo trabalho do cantor e compositor pernambucano


Passos sobre a brita do chão de seu orquidário, o pulsar marcado do coração de seu filho, o canário da sogra que canta numa gaiola, a respiração ofegante do esforço, uma máquina de lavar centrifugando, uma máquina de escrever briga na marcação com o metrônomo, uma motosserra derrubando uma árvore centenária, sons de cigarras no verão na Urca – bairro onde reside no Rio de Janeiro - e outros ruídos do cotidiano contaminam a música de Lenine.


Todos estes sons que pertencem ao dia-a-dia do artista integram os arranjos das músicas presentes no álbum Chão, mais recente trabalho do cantor e compositor com produção assinada a seis mãos por seu filho, Bruno Giorgi, o guitarrista Jr. Tostoi e o próprio Lenine. Mais uma vez o pernambucano revela seu caráter de artista inquieto e redireciona sua sonoridade, busca a inovação naquilo que lhe é mais próximo e aparentemente dispensável.


Aqui Lenine dá importância a tudo aquilo que nos registros convencionais é evitado, considerado vazamento, ruídos estranhos ao mundo asséptico e silencioso de um estúdio de gravação onde normalmente só se houve acordes, solos, marcações e intervenções de instrumentos musicais e vozes, onde o erro é evitado, cortado sempre.


A formação convencional de baixo, guitarra e bateria, com a qual vinha trabalhando desde O dia em que faremos contato (1997), desaparece. Sobra praticamente somente o violão percussivo do artista e entram intervenções pontuais de ruídos eletrônicos, guitarras distorcidas, um baixo fazendo uma marcação, um teclado aqui, um bandolim acolá, uma percussão eventual e o acaso sempre presente, intervindo, criando atmosferas, participando da música.

 

Pessoal


Chão tem um caráter pessoal e, muitas vezes, até intimista, mesmo contando com a ajuda de parceiros (Lula Queiroga, Ivan Santos, Carlos Rennó e Lucky Luciano) que dividem com ele a autoria das composições e traduzem em poesia o pensamento do compositor. Até mesmo a capa mostra o neto de Lenine ali deitado sobre o peito do avó, numa cena cotidiana representando todo o conceito do disco. Apesar do formato radicalmente diferente de registrar as novas composições, as músicas trazem o DNA de Lenine, sem grandes mudanças nas linhas melódicas, nos encadeamentos harmônicos e na tradição poética do artista e seus parceiros.


Passos na brita determina a marcação da faixa-título que abre o álbum e lhe dá título. Chão já explicita o conceito de dar a base, o sustento à pessoa, ao artista. Depois de percorrer o trajeto, vem a respiração ofegante, cansada, que leva para a faixa seguinte, Se não for amor eu cegue. Fala de quando o amor chega e se perde o chão, se voa em fantasias. O violão em primeiro plano da balada Amor é pra quem ama, onde o canário gorjeia e sola.


O ritmo quebrado de Seres estranhos é impregnado de personagens da cidade e marcado pelo ruído de uma máquina de lavar. A chaleira de Lenine que avisa sempre que o café está pronto, aqui intervém em Uma canção só, quebrando o clima intimista. Vem então o ruído pesado de uma motosserra e faz um paralelo à letra forte de Envergo mas não quebro. A grande árvore cai e o som das cigarras da Urca toma conta e serve de acompanhamento quase ensurdecedor para o aboio Malvadeza.


Tudo o que me falta, nada que me sobra é a única faixa onde os ruídos cotidianos não interferem. Mas é pontuada por um turbilhão de violões e bandolins nervosos e um baixo forte. De onde vem a canção traz o conflito dos ruídos de um metrônomo e de uma máquina de escrever na base feita pelo violão, pontuando o conceito do álbum, abrindo espaço para a finalização do disco, quando o pássaro engaiolado volta a solar em Isso é só o começo. Lenine anuncia que esta experiência está só no princípio, que vem mais coisa por aí.

 

Serviço

 

Chão

O que: décimo álbum de carreira do cantor e compositor pernambucano Lenine. Com produção de Bruno Giorgi, Jr. Tostoi e Lenine. Lançamento Universal Music. 10 faixas. Com letras.

Quanto: R$ 28 (preço médio).

Ouça trechos do novo álbum de Lenine no www.opovo.com.br

Luciano Almeida Filho lucianoalmeida@opovo.com.br
0
Comentários
300
As informações são de responsabilidade do autor no:
espaço do leitor
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro a comentar esta notícia.

Letra & música

RSS

Letra & música

Marcos Sampaio

Escreva para o colunista

Atualização: Terça-Feira

Letra & música

RSS

Letra & música

Henrique Araújo

Escreva para o colunista

Atualização: Terça-Feira

TV O POVO

Confira a programação play

anterior

próxima

Divirta-se

  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

Newsletter

Receba as notícias da Coluna Letra & Música

Powered by Feedburner/Google