[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Elas estão entre nós | O POVO
KELMÉRICAS 08/06/2012 - 18h15

Elas estão entre nós

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Por que diabos as canetas somem? É um grande mistério que me aflige desde a infância. Num momento estão aqui, bem ao lado… e no momento seguinte, inexplicavelmente, não estão mais, sumiram. E aí ficamos feito idiotas, fuçando os papéis e apalpando os bolsos sem entender. Mistério. Existiria uma espécie de buraco negro invisível, feito um dragão insaciável a devorar lindas e inocentes (e às vezes virgens) canetinhas?

E isso não acontece apenas com gente desligada como eu. Pergunte pra qualquer pessoa e verá que com ela as canetas também somem. Já cogitei que talvez um estilista tenha contratado milhares de pessoas no mundo inteiro pra roubar canetas: na véspera do desfile, calada da noite, ele invade os camarins e despeja toda a tinta sobre os modelitos do estilista rival.

Tá bom, é uma hipótese meio dramática, admito. Mas também já testei outras mais simples, como esta: as canetas não somem mas são passadas adiante. Você acha que perdeu a caneta mas não, você a emprestou pra que fulano anotasse algo e ele simplesmente esqueceu de devolver. Isso acontece, eu sei, mas se fosse só isso todas fábricas de caneta já teriam falido pois em vez de comprar, as pessoas apenas trocariam canetas entre si.

Outra hipótese é que as canetas, na verdade, saem pra dar uma voltinha, respirar ar puro, talvez um encontro romântico com aquela bonitona de ponta porosa. Tudo bem, elas têm esse direito. Entretanto as ingratas nunca voltam desse passeio, já percebeu? E aí, onde vão parar? Haveria um esquema secreto nos motéis pra sequestrar canetas amantes? Mas com qual objetivo? Ora, pra operar a fusão do tungstênio e construir armas que equiparão milícias ultradireitistas nos Estados Unidos. Hummm… Ok, exagerei outra vez. O que você me diz então de organizadores de abaixo-assinado, eles sempre precisam de canetas, não?

Outro aspecto desse enigma é que as canetas nunca estão à mão quando mais precisamos, já notou? De repente, parado no sinal vermelho, você lembra que sonhou com a milhar do jogo do bicho. Caneta urgente! Você procura no bolso da camisa, no porta-luva, embaixo do banco. Nada. O sinal esverdeia, você tem que seguir e perde a chance de ficar rico. Dia seguinte a caneta surge, com a maior cara de pau, onde deveria estar. Mistério.

Você amarra a caneta ao telefone: ela se solta feito um Houdini e some. Você escreve seu nome num papelzinho e mete no interior da caneta: ela se vinga dessa intimidade forçada e nunca mais aparece. Você apela e compra uma caixa com cem canetas: em um mês só restará metade, como pode? Já cheguei a imaginar que as fábricas instalam nas canetas um potente micro-imã e assim, quando estamos desatentos, elas são atraídas de volta à fábrica, pra serem recarregadas e revendidas, gerando lucros fabulosos. Parece absurdo? Então me responda: quando foi a última vez que você usou uma caneta até a última gota de tinta, heim?

Noite dessas despertei com a solução do enigma: as canetas são uma espécie extraterrestre, muito brincalhona, que em seu planeta natal costumavam brincar a vida inteira de esconde-esconde. Um dia a brincadeira perdeu a graça pois ninguém queria mais procurar, só se esconder. Foi aí que souberam de um inacreditável planeta Terra onde as pessoas chegam a fixar nas paredes das cidades cartazes de “Procura-se”. É o paraíso, elas pensaram. E assim vieram todas, aos bilhões, brincar de esconde-esconde com os terráqueos.

Mas claro!, entusiasmei-me com a súbita revelação. Extraterrestres, é isso mesmo! E, como sou desses otimistas bobos que creem em equilíbrio cósmico, logo imaginei que existe, em algum planeta por aí, seres especializados em encontrar… canetas sumideiras. É só questão de tempo até chegarem aqui. E nossos problemas estarão resolvidos. Lógico! Agora tudo se encaixava perfeitamente.

Respirei aliviado. Eu podia voltar a dormir, estava finalmente resolvida a questão. Então, satisfeito, liguei o abajur pra anotar a ideia. Mas não encontrei a caneta.


> Textos afins no Blog do Kelmer:
http://blogdokelmer.wordpress.com/2012/05/30/elas-estao-entre-nos



Ricardo Kelmer é escritor, roteirista e dono de cabaré. Mora em São Paulo. Lançou em 2011 o romance O Irresistível Charme da Insanidade (editora Artepaubrasil) e atua no espetáculo poético-musical Viniciarte - Vida, música e poesia de Vinicius de Moraes, de sua autoria. Site pessoal: Blog do Kelmer - Um escritor em liberdade incondicional, blogdokelmer.wordpress.com

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espaço do leitor
paulinho 08/06/2012 23:37
Vc perdeu varios minutos da sua vida pra escrever essa matéria idiota!
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