[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O acidente e o desaparecimento | O POVO
Imagem & Movimento 08/02/2013

O acidente e o desaparecimento

Menção honrosa do júri da crítica da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o longa-metragem cearense Linz - Quando Todos os Acidentes Acontecem, de Alexandre Veras, propõe uma experiência sensorial sobre o desaparecimento
DIVULGAÇÃO
Cena de Linz - Quando Todos os Acidentes Acontecem: Dellani Lima atua como o personagem-título
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A areia desloca-se com o vento, produzindo um som áspero. Um homem caminha neste deserto de areia, vento e sol a pino, vagando com seus cabelos emaranhados, olhar perdido e andar cansado. Parece que ele já está neste espaço há um bom tempo. A experiência sensorial de estar em um lugar como Tatajuba – vila soterrada pelas dunas, no litoral Oeste do Ceará – constitui a primeira via de acesso a Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem, de Alexandre Veras.


Mais tarde, saberemos que este homem perdido se chama Linz, que trabalha como transportador e deve entregar uma encomenda para uma das moradoras da vila. Neste lugar onde “não há nada”, Linz quer a princípio dar outro sentido àquela paisagem. Retira os móveis que carrega em sua caminhonete e dispõe todos na areia, como se montasse ali o cômodo de uma casa. A câmera se distancia para ver melhor o arranjo, enquanto Linz também se afasta ao aprumar cada objeto ao risco do vento.


O risco, o acidente. O corpo de Linz é o motor do acidente. É um corpo que vaga e se guia pelo vento, que cansa, que se integra à natureza e vive discretamente a condição de isolamento daquela paisagem. Se as tomadas, os planos no filme são pouco contaminados pelo acidente – visto que o aspecto formal da imagem é de um rigor calculado, inclusive nos movimentos também muito precisos –, o componente acidental encontra-se dentro da cena e no corpo de Linz.


Na curva, o acidente acontece. A caminhonete atola no meio do caminho. E ali se dá o encontro quase improvável com um garoto que serve de guia para Linz chegar à comunidade. Na escuridão, garoto e Linz se comunicam. Não por palavras, mas pelo piscar entre sabre de luz e lanterna – momento de suspensão neste lugar e tempo misterioso.


O enigma se desdobra na recusa de dona Marlene em receber a encomenda que Linz trouxe. A encomenda e a carta são de um filho que foi embora. A leitura da carta não nos é dada; só Linz tem acesso ao conteúdo daquela missiva, que ele mesmo queima aos poucos diante do nosso olhar. O desaparecimento é o acidente primordial e recorrente do filme: a vila que é soterrada pelo constante movimento das dunas; o filho que partiu; a carta que se desintegra; Linz que desaparece num mergulho inesperado ao mar.


Como desafio extrafílmico, Linz – Quando Todos os Acidentes Acontecem parece lançar uma pergunta: o desaparecimento seria a afirmação de uma outra relação ética, diante de um mundo marcado pelo elogio da exposição e da visibilidade?

 

Saiba mais

 

O filme


Linz - Quando Todos os Acidentes Acontecem teve pré-estreia mundial na 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em Minas Gerais, em 25 de janeiro. O longa-metragem ganhou menção honrosa do júri da crítica do festival. Em breve, o filme será lançado em Fortaleza. Alexandre Veras dirigiu também o documentário Vilas Volantes - O Verbo Contra o Vento e o videodança O Regresso de Ulisses.

 

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