Pronto: em conversa com Cid Gomes, o senador Eunício Oliveira (PMDB) oficializou sua decisão de ser candidato ao Governo do Ceará. Concretizou-se assim mais uma das muitas etapas do imbróglio de 2014, muito embora o senador já tivesse, há meses, se jogado de corpo e alma na campanha.
Ainda no ano passado, escrevi aqui o quanto era constrangedor a postura de um aliado que se joga na campanha muito antes dos prazos e em pleno andamento do mandato de Cid Gomes, o líder natural do processo. Pois é. Há tempos que o senador já serve café gelado para o governador.
O que pode ter acontecido na conversa? Provavelmente, um clima tenso. Não poderia ser diferente. Afinal, o tema em questão nem de longe apetece ao governador, que sonhava empurrar lá para maio/junho as conversas com os aliados sobre sucessão.
Mas, vamos aos fatos. Eunício declarou a intenção que já era informalmente conhecida por Cid. O governador certamente ouviu atento e disse que, a seguir, ia conversar com o grupo de partidos aliados sobre o que o senador colocou na mesa. Mas, não haverá decisão acerca de candidaturas agora. Os prazos permanecem longos.
Acatar a candidatura de Eunício e apoiá-la é sim uma das possibilidades disponíveis para o governador. Porém, se Cid assim o fizer será como uma capitulação. Explica-se: Eunício é um aliado pontual, mas não é do grupo político do governador. O senador comanda seu próprio grupo. É esse o ponto nevrálgico.
Uma aposta: diante da candidatura de Eunício, com ou sem o apoio de Cid, o grupo político do governador vai se preparar para eleger o maior número possível de mandatos ligados à família, tanto para a Assembleia quanto para o Congresso Nacional.
Ter uma bancada de confiança é fundamental diante da possibilidade da vitória de outro grupo político. É a forma de defender os pressupostos do mandato de Cid. É a forma de se defender de possíveis ataques oriundos de uma gestão que, possivelmente, não pertença ao grupo dos Ferreira Gomes, como é o caso do senador.
Cid tem até a próxima sexta-feira para decidir se deixa o Governo ou se fica até o final do mandato. Não é uma decisão simples. Se decidir sair terá que resolver uma complexa equação política. O fidelíssimo vice Domingos Filho assume? Uma conversa franca com o vice é pressuposto para a tomada de decisão.
Saindo ou ficando, tomadas todas as decisões complementares inerentes ao prazo de desincompatibilização, as próximas decisões serão necessárias somente em junho. Portanto, não esperem anúncios de decisões imediatas sobre quem será o candidato a governador de Cid e companhia.
OS MALES DA HEGEMONIA
E o petismo? Para não ficar desmoralizado e enfraquecido, o PT do Ceará não pode abrir mão da candidatura ao Senado ou da candidatura ao Governo. Principalmente depois de ter sido arrastado da Prefeitura de Fortaleza pelo grupo político do governador. Não custa lembrar: a força do governador depende demais do PT. Depende da candidatura a presidente do PT para ter um bom palanque no Ceará. Depende dos minutos petistas no horário gratuito. Detalhe: com a Prefeitura da Capital nas mãos, o grupo do governador aumentou a força eleitoral, ganhou montanha de cargos e mais uma poderosa fonte para financiar campanhas, mas perdeu muita capacidade de negociação política. A concentração de poder nas mãos acaba funcionando como um entrave por limitar as possibilidades de negociar com outros partidos.
AREIA MOVEDIÇA
A sucessão de acontecimentos na política do Ceará e do Brasil desautoriza a formulação de prognósticos que se pretendem definitivos. Caso, por exemplo, a CPI da Petrobras seja instalada no Senado ou no Congresso, não há quem seja capaz de projetar o rumo dos acontecimentos. Afinal, o caso parece ser prenhe de escândalos de grande envergadura.
A possibilidade não deve ser descartada, principalmente depois que o ministro Edson Lobão declarou ao The Wall Street Journal que o Governo pode pedir à população que economize energia.
E se as manifestações de junho passado se reproduzirem em junho próximo? Os efeitos são imensuráveis. Basta lembrar que a popularidade da presidente Dilma e de vários governadores, incluindo o do Ceará, sofreu baixas naquele momento de 2013. O governador do Rio, Sérgio Cabral, até hoje não se recuperou do baque.
UM TROQUINHO DE R$ 13 BILHÕES
Vamos ao caso da refinaria Abreu Lima, que está em obras em Pernambuco. A previsão da estatal é que as obras sejam concluídas até 2015. A refinaria teve orçamento inicial de US$ 2,5 bilhões. A estimativa agora é que ela seja concluída com investimento de US$ 18,5 bilhões. Uma diferença de 16 bilhões de dólares.
Façamos o exercício de transformar esses montantes em reais. O orçamento previsto era de 5,6 bilhões de reais. No entanto, a obra da refinaria saltou para 41,6 bilhões de reais. É inacreditável. Ainda em reais, a diferença alcança incríveis 36 bilhões. Somados (R$ 36 bilhões + R$ 2,7 bilhões) dos dois rombos chegamos à cifra de impressionantes R$ 38,7 bilhões.
A refinaria premium planejada para o Porto do Pecém, que, segundo a Petrobras, será uma das maiores do mundo, com produção máxima estimada em 300 mil litros de barris diários, tem um custo estimado em US$ 11 bilhões. Ou, 24,75 bilhões de reais.
Ou seja, o possível rombo daria para construir a refinaria do Pecém e o País ainda teria um troco de R$ 13,95 bilhões. Essa sobra é suficiente para, por exemplo, irrigar toda a região Nordeste com a ampliação da transposição, obra que vai custar “apenas” R$ 8,2 bilhões ao contribuinte.
Pelo visto, vivemos em um País em que até a corrupção foi desmoralizada.
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